Cap.22- Corpos.

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Audrey.

  De manhã, continuamos caminhando pelo lugar que viemos. Eu estava segurando Sam.
– Você se lembra o caminho? – Perguntei à Caleb.
– Não.
  Caleb e eu tínhamos a mesma idade, mas ele sempre teve um comportamento de bebê. Ele segurava a minha mão enquanto caminhávamos e colocava o dedo na boca.
– Audrey, estou com saudades do papai. – Ele disse.
– Vamos achá-lo.
  Continuamos caminhando...
  Quando chegamos no final de uma rua, encontramos policiais ajoelhados, examinando dois corpos no chão. Eu puxei Caleb e nos escondemos atrás de uma árvore. Lembrei de algo que o papai disse: "Sempre que vocês acharem algo estranho e o coração de vocês disser para não darem um passo à frente. Não dêem". Eu seguiria meu papai.

Alec.

  Meu coração estava apertado e quando cheguei no parque, encontrei os policiais. Eles estavam ao lado de dois sacos que, provavelmente, eram o que escondia os corpos. Um policial veio na minha direção.
– Acompanhe-me. – Ele disse.
  Apertei a mão de Camille e fomos em direção aos outros policiais. Eles nos cumprimentaram com a cabeça e um deles se abaixou e retirou o que cobria os corpos. Pude ver cabelos loiros e quando o homem retirou tudo, vi uma criança do tamanho de Audrey. O rosto estava ensanguentado e por isso não consegui ver tudo. Mas, parecia ela. Abracei Camille e choramos.
  Pensar que jamais veria meus filhos, de que fui irresponsável a ponto de vê-los mortos, era um sentimento horrível.  Eu tentava respirar mas não conseguia. Camille soluçava com a cabeça enterrada em minha camisa. Eu a soltei e caí de joelhos no chão, enterrando minha cabeça em minhas mãos.
  Me lembrei de uma noite, quando eles tinham 2 anos. Já era madrugada, Audrey estava inquieta por causa de um pesadelo. Caleb dormia, sereno, com a chupeta na boca. Eu estava caminhando por todo o quarto, com Audrey no colo, tentando fazê-la dormir. Suas mãozinhas agarravam minha camisa e ela estava com medo de pegar no sono.
– Papai... – Ela disse, chorando.
  Grunhi rapidamente em resposta e olhei pra ela.
– Estou com medo...
  Fui até a cama dela e a deitei lá.
– Não, papai... Não me deixa aqui sozinha...
– Não vou.
  Me deitei ao seu lado e me apoiei em um cotovelo, enquanto acariciava seus cabelos.
– Está tudo bem. Estou aqui. – Falei.
– Mas, papai... E se eu dormir pra sempre, como a bela adormecida?
– Você não vai.
– E se eu me perder de você?
– Eu vou te achar.
– Vai mesmo?
  Assenti com a cabeça.
– Como você sabe?
– Por que eu sei quando vocês ainda estão perto de mim. Sempre sei. Eu sempre vou achar vocês.
– Promete, papai?
  Peguei seu ursinho e a entreguei.
– Prometo. – Falei.
  Ela sorriu.
– Feche os olhinhos. – Falei.
  Ela respirou fundo e fechou seus olhos, devagar. Percebi que ela havia agarrado minha mão com seus dedinhos.
  Era uma conexão. Aquilo não tinha fim. Eu sabia quando eles ainda estavam perto, como disse à ela. Eu reviraria o mundo para achá-los. Aquele não era o nosso fim. Não podia ser. Porque, como pai, meu coração ainda batia forte para me dizer que eles ainda estavam ali.
– Sr. Tompson... Sinto muito. – O policial disse.
  Eu negava. Não podiam ser eles. Alguma coisa me dizia que eles ainda estavam vivos. Mas, ver aqueles corpos,... Me fez perder a esperança.
– Papai! – Alguém berrou.
  Olhei para frente e vi meus dois filhos berrando meu nome. Eu sabia. Me levantei e corri até os dois. Eu os abracei tão forte, que acho que poderia ter prendido a respiração deles.
– Nunca mais andem para longe de mim. Nunca mais. – Falei.
  Eles me apertaram mais ainda.
– Desculpe. – Eles disseram, chorando.
  Soltei os dois e acariciei seus rostos.
– Papai, como você sabia que a gente ainda estava aqui? – Audrey perguntou.
– Eu te disse, minha princesa. Eu sei.
  Os abracei novamente. Depois de soltá-los, Camille veio correndo e abraçou os dois. Fui até os policiais e agradeci à eles.
– Esses não são seus filhos? – O policial perguntou, apontando para os corpos no chão.
– Não.
  Camille veio com as crianças no colo.
– Obrigada, de verdade. – Ela disse.
  Caleb pulou no meu colo.
– E vocês, crianças, nunca mais se separem de seu pai. – O policial disse à Audrey e Caleb.
  Eles assentiram com a cabeça. Na hora, um casal chegou no parque. Uma mulher gritou de horror ao ver os dois corpos no chão.
– Senhor, são os filhos dela. – Um policial mais novo disse para o policial.
  A mulher se ajoelhou na frente das duas crianças e chorou. Eu imaginei o que ela estaria sentindo. Caleb enterrou a cabeça em meu ombro e Audrey fez o mesmo no de Camille.
  O pai daquelas duas crianças estava ali, parado, incrédulo. Lágrimas escorriam, sem parar, por seus olhos.
  Coloquei Caleb no chão e ele foi para perto de Camille.
  Me ajoelhei perto da moça e ela me abraçou.
– Eu sinto muito. – Falei.
  Ela ainda chorava. Agradeci à Deus por não estar no lugar dela, mas pedi à ele para que confortasse o coração daquela mulher.
  Camille também chorava, abraçada em Audrey. Os policiais estavam calados, como sinal de respeito.
  A mulher se soltou de meu abraço e me olhou. Ela tinha cabelos loiros, pele branca, olhos azuis, seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e seu rosto estava vermelho.
– Obrigada. – Ela disse.
– Eu sou pai. Sei que está sendo difícil pra você, agora. Eu sinto muito, de verdade. – Falei.
– Eu sei. – Ela disse.
  Ela olhou para Camille e sorriu.
– Nunca a deixe sozinha. – Ela disse.
  Olhei para Camille.
– Vocês terão uma família linda.
  Olhei pra ela e sorri.
– Promete que não vai deixá-la? – Ela pediu.
– Prometo. Obrigado. – Falei.
  Ela sorriu. Um sorriso triste. Me levantei e abracei o marido dela. Camille abraçou os dois e nós fomos embora.
  Cheguei na casa de Camille e todos olharam para nós.
– Graças à Deus! – Todos falaram, aliviados, assim que viram as crianças.
  Eles se sentaram no sofá e Camille foi pegar um remédio para passar no machucado dos dois.
– Como vocês sumiram? – Eu perguntei.
– Estávamos brincando com Sam e ele fugiu do parque. Fomos atrás dele e nós nos perdemos. À noite, fomos até uma padaria e uma moça simpática nos deu água e biscoitos. Pela manhã, fomos procurar você. – Caleb explicou.
– Da próxima vez, me chamem quando algo acontecer. – Falei.
– Está bem. Desculpe, papai. – Eles abaixaram a cabeça.
  Me levantei e fui até o sofá para abraçá-los.
– Prometo que isso não vai se repetir, tudo bem? – Falei.
  Eles concordaram com a cabeça e continuaram me abraçando. Almoçamos juntos e depois eu fui para o hotel. Camille disse que queria vir junto e então a trouxemos.
 
  Audrey e Caleb entraram no quarto e foram para a cama. Eles estavam cansados e não tinham dormido direito. Retirei minha jaqueta e os tênis. Me deitei e Camille se sentou na ponta da cama. Ela parecia incomodada e nem olhava pra mim.
– O que foi? – Perguntei.
– Nada. – Ela fazia círculos no lençol da cama.
  Fui até ela e ergui seu rosto na minha direção.
– Está tudo bem? – Perguntei.
– Hum-hum.
  Ela estava chateada com algo. Voltei para a mesma posição e nós ficamos em silêncio. Eu a olhava, esperando que ela dissesse algo.
– Você não me beijou hoje. – Ela falou, por fim.
  Eu comecei a rir.
– É por isso?
  Ela fez uma cara de brava, o que me fez rir mais.
– Camille, te beijo toda hora.
– Beijava... – Ela murmurou.
  Mulheres...
– Venha aqui. – Falei, apalpando um espaço na cama.
  Ela veio e se deitou de encontro ao meu peito. Ela olhou pra mim.
– Desculpe... Eu estava destruído com o sumiço das crianças que... Não imaginei que pudesse te chatear com isso. – Falei.
– Eu sei...
  Me inclinei e dei um beijo demorado nela. Ela me puxou mais pra perto e eu a agarrei pela cintura.
– Quero planejar esse casamento o quanto antes. – Falei.
  Ela riu e me abraçou. Acariciei seus cabelos até ela pegar no sono.
  Audrey e Caleb saíram do quarto depois de um tempo. Fiz um gesto para que eles fizessem silêncio e eles subiram na cama, devagar.
– Estão com fome? – Perguntei às crianças.
– Sim. – Eles sussurraram.
  Segurei o corpo de Camille  cuidadosamente, e retirei o meu, colocando-a em uma posição mais confortável. Como de costume, ela pegou um travesseiro e o abraçou.
– Fiquem aqui com ela. Eu já volto. – Falei.
  Eles assentiram com a cabeça e eu fui buscar algo para eles comerem.
  Peguei cookies para os dois e separei uma torta de maçã para Camille. Pensei em fazer uma surpresa pra ela.

À Procura do Amor (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora