Mamãe
Nós todos vamos para o inferno
— My Chemical Romance***
Escuto um batuque na porta. Desde que aquela mulher horrível apareceu há três semanas, passo os dias trancafiada em meu quarto na tentativa falha de me manter sã. O momento em que aponto minha faca plástica para Thomas é o sinal de que endoideci.
— Foi mal, não queria te assustar.
Largo o objeto sobre a mesa, apoiando a cabeça latejante sobre as mãos. Meus instintos estavam me pregando peças desde o primeiro dia de aula, mas não era para menos. Se estou paralisada com a vinda de meu namorado à porta, coisas piores poderiam acontecer caso eu deixasse os remédios em segundo plano mais uma vez.
A calmaria, que já quase não existia, se encerra no momento em que ele cochicha:
— Um policial quer falar com você. Ele pediu que fosse até a sala.
Arregalo os olhos. Certo, não há problema algum, a não ser minhas altas chances de ser presa e acusada de crimes que não tive a intenção de cometer, exatamente como ela planejara. Não sei se estou pronta para enfrentar o pior após tanto sofrimento.
Não é surpresa vermos o detetive Barney em nosso sofá, comendo uma dúzia de bolachas recheadas enquanto Vicy lava sua sujeira na cozinha. Ele, ao contrário, se levanta com rapidez e cospe as palavras sujas de farelo com certo tom autoritário:
— Senhorita Skyler, seu depoimento é de extrema importância para as autoridades.
Engulo em seco. Sento-me na poltrona e ficamos frente a frente, meu irmão com a mão sobre meu ombro o tempo todo.
— Quero começar pelo início. Pode dizer por que veio para a casa da família Halder?
— Tive certos problemas com minha família antiga.
— Victoria disse que perdeu seus pais há quase um ano. Confirma que veio de uma instituição psiquiátrica na fronteira estadual?
Thomas não sabia em detalhes do que tinha acontecido, mas não fico surpresa. É difícil comentar sobre minha antiga vida para qualquer um, tanto meus amigos quanto às autoridades.
— Sim, mas o que isso tem a ver?
— Senhorita, será mais fácil se apenas responder e não questionar.
Pisco algumas vezes em direção ao ventilador de teto. Tinha certeza de que cairia a qualquer instante para arrancar sua cabeça.
— Agora, o mendigo assassinado. Lembra-se do depoimento que deu naquela noite?
— Vomitei muito no banheiro. Os seguranças tiveram que me socorrer depois.
— Não conseguiu ver nada?
Aceno em negação, cada batida de meu coração saindo mais rápida do que antes. As perguntas me deixam nervosa ao ponto de querer chorar. Ele não sabe o quanto é difícil saber a verdade e não poder contá-la por, depois, com certeza, ser acusada de louca.
— Jimmy e Melissa não eram seus amigos favoritos. Saberia me dizer por que morreram com horas de diferença?
— Está me acusando de alguma coisa?
Barney ergue uma sobrancelha, surpreso.
— Mil desculpas, mas não posso responder seu questionário agora, estou passando por um momento de luto.
— Luto pelas pessoas que você odiava? Bom, as peças não parecem se encaixar!
Por um momento, penso que vou acertar um tapa certeiro em sua bochecha gorda, mas Thomas me segura na última hora. Todos na sala ficam tensos com minha falta de controle. Barney, tanto é, faz outra breve anotação.
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Hell Girl | COMPLETO
Mystery / ThrillerChelsea, uma garota amaldiçoada por entidades e mortes de seu passado, agora é confinada em uma nova vida dupla, ramificada entre conseguir se misturar entre os normais e desvendar a misteriosa onda de assassinatos que continua perseguindo-a aonde q...