29. O sangue de Cristo

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Eu poderia usar alguém como você
Alguém que matará ao meu comando
— Muse

***

Na manhã em que acordamos juntos, a mãe de Thomas não notou que tínhamos feito o que fizemos. Acabamos por tomar banho na mesma hora e me senti bastante desconfortável por mostrar minha cicatriz.

Uma vez, ele havia tocado nesse assunto, só que ainda tenho dúvidas de como a consegui. A história percorre minha mente dia após dia, continuando tudo a ser um mistério quase sem resolução. Foi a tesoura de meu pai jardineiro na noite de 25 de julho, mas será que fora um acidente ou uma tentativa de me desarmarem? É uma sensação horrível, tão anormal que me faz passar mal ao ponto de quase vomitar.

— Ei, maninha.

A voz de Tom me tira do transe. Já estávamos na cama do quarto, apesar de eu ficar olhando para o nada enquanto ele escolhia algumas roupas para nós. Dou um tapa nele por falar daquele jeito.

— Acha que Victoria vai ficar brava se souber da noite passada?

Ele me lança um olhar divertido, como se eu tivesse dito a coisa mais imbecil do mundo.

— Será sorte se ela ficar zangada, então é melhor não contarmos nada.

Solto uma risada, mas estou com um pouco de vergonha. É fato que logo ela iria descobrir.

Todos estão à mesa ao descermos. O pai lê o jornal da cidade e as gêmeas fazem uma bagunça com seus cereais enquanto Úrsula tenta limpar parte de suas cadeiras. Por um momento, a ideia de Vicy ter saído me deixa mais feliz, porém sou surpreendida com um baque vindo da lavanderia.

— Vocês são loucos?! — Diz nossa mãe. O olhar assassino dela apenas sugere que estamos mortos. — Por que não me avisaram que viriam para casa com a mãe do Nicholas?

Nenhum de nós dá explicações. Dmitry larga o jornal devagar para prestar atenção na discussão. Ela continua:

— Beleza, mocinhos. Da próxima vez, ninguém vai levar ou buscar vocês. Vão ficar em casa por duas semanas, lavando os carros e cortando a grama.

A ruiva se vira para a pia. Tom devia estar acostumado com as ordens, mas eu não, principalmente depois da série de pesadelos que me atingiu esta noite.

Meus pais, as cartas, meus antigos amigos e minhas loucuras antes de eu sumir de suas vidas. Não vou pelo lado errado. Não agora.

— Nós não sabíamos. — A mãe se vira com um pedaço de bacon enfiado no garfo. — Ela fez bem em nos trazer. Estávamos assustados.

— Chelsea, acho que o fato de um assassino em série estar à solta na cidade não a atinge, mas vou explicar: vocês tinham que saber, tinham que ter nos ligado!

— Estavam trabalhando. Podíamos nos virar sozinhos.

— Dois de seus colegas morreram em questão de horas e, acreditem em mim, aquele mendigo foi outro sinal. Há alguém louco nesta cidade que pode pegá-los a qualquer momento, entenderam?

— Mas não pegou!

— Chelsea! — Todos nos calamos com o grito dela, seus olhos arregalados de raiva. — Se não ficarem seguros, serão pegos. Esse cara está solto, muito próximo das pessoas daquela escola. Me escute antes que eu tenha que dobrar seu castigo!

Nunca tinha ouvido Vicy gritar com nenhum de seus filhos. O choque me paralisa por alguns segundos, mas logo sento sem dizer mais nada. O caso era tão sério assim? Por que atacariam uma menina estranha?

Hell Girl | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora