Epílogo

736 78 148
                                    

Este é um conto de fadas moderno
Sem finais felizes
— Selena Gomez

***

Dr. Munhoz anda de um lado para o outro a minha frente, uma expressão tão séria branqueando seu rosto que posso jurar vê-lo em forma fantasmagórica.

— Ninguém pode saber.

— Mas como poderemos explicar toda essa coisa para eles?

— Pelo bem dela, peço que diga que foi uma recaída. Chelsea tentou se matar e teve que voltar para cá, e seja claro na hora em que disser que poderá não haver volta.

Engulo em seco. Um velho joga xadrez com uma garota mais nova, aparentando uns doze ou treze anos. Fico a imaginar o que fizeram para chegar em idades tão distintas.

— Meu pai — digo, receoso. — não quer mais fazer parte disso. Dissemos que minha mãe não aguentou a falta dos filhos depois de ver a quase morte de Chelsea no farol e...

— Entendo. A morte de Victoria chocou a todos. Não admiro que seu pai tenha pedido demissão. Tóquio pode fazê-lo esquecer.

— Não é a questão. Ele vendeu a casa, os carros, deixou uma herança enorme para mim e minhas irmãs, mas nos abandonou quando mais precisávamos. É inacreditável que tenha deixado tudo nas mãos de Bethany.

Contenho as lágrimas para que o médico pense que posso aguentar a pressão do mundo inovador à minha volta.

— É horrível se sentir abandonado.

— Tenha fé, Tom. Confie em mim, seu pai deixou tudo o mais fácil possível.

— Eu sei. Só não posso acreditar que minha família inteira se foi.

Antes que eu possa chorar novamente, o doutor me passa alguns papéis.

— Nem toda.

Ao abrir a pasta, uma enorme lista de medicamentos usados em seu novo tratamento aparece em pelo menos uma dúzia de páginas do instituto: nomes, horários controlados e os efeitos (colaterais ou não) para cada novo aspecto. Ela tinha sido atendida logo após o incidente, antes de meu pai zarpar para qualquer que fosse seu novo destino e minha mãe desaparecer em uma casa funerária ao seu mando. Não a vi desde então, algo que devia passar de três ou quatro semanas.

As aulas haviam começado e meus amigos não paravam de prestar seus votos; contudo, foi Nicholas quem me perguntou sobre a morena dos olhos esmeraldas.

— É muito pesado.

— Você não sabe o que as enfermeiras têm que aguentar. Gritos horrendos e pesadelos sem fim que acordam toda a clínica. Ela ficou louca. Me lembro de seu comportamento antes: era tão confiante de que iria embora e encontraria um futuro. Mas agora não consigo ver nada além de escuridão.

Minhas mãos tremem. Agora que sei de tudo e um pouco mais, inclusive que Dr. Munhoz a considerava inocente perante as artimanhas maléficas de sua parente psicopata, não sei qual será meu próximo passo. A garota que amo havia endoidado e perdido completamente o controle de seus atos para algo de poder maior. Chelsea sempre tivera espírito revolucionário, mas o usou de forma errônea quando o efeito começou.

— E a imprensa? O que posso dizer?

— Nem todos os crimes têm solução, garoto.

Ela cometera uma atrocidade de crimes hediondos porque estava sendo controlada por uma doente. Depois de todo o terror que causara, ainda era sua culpa?

Madeline não conseguiu acabar comigo. E eu a ajudaria depois do fim.

***

Hell Girl | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora