22. Assassino à solta

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Querido, sou uma sociopata
Uma doce assassina em série
Lana Del Rey

***

— Como vai, Donald?

— Vou muito bem — digo. — E sua mercearia, está tão boa quanto eu?

— Não, meu caro. Parece que aquela pizzaria acabou com meus negócios. Os refrigerantes deles são mais baratos que meus sucos.

— Mas seus sucos são os melhores, Robert!

Meu velho companheiro das noites de bar sorri, dando a esmola diária que todos os compadecidos por mendigos dão. Vou para um canto entre o restaurante e a loja, sentando na parte mais escura para que não ocorra que nem da última vez. Os jovens de hoje não têm respeito por moradores de rua.

Tomo um gole de uísque, contando os trocados do dia. Preciso mandar uma carta para minha irmã, pois alguém precisa saber que ainda estou vivo.

É quando noto algo estranho vindo debaixo dos meus pés. A janela que dá ao banheiro feminino da pizzaria está sendo aberta por uma mulher de baixa estatura, magra e de cabelos muito negros. Minha primeira intenção é perguntar se está tudo bem, mas sou lento demais e batem em minha cabeça, me deixando atordoado.

— Venha... — Alguém diz.

Ao reajustar a visão, a mesma jovem dos olhos verdes incandescentes e dilatados me encara como... uma presa? Sou velho demais para correr e fraquejo ao tentar pedir ajuda, ato que parece animá-la.

— O que quer de mim?

— Nada — diz, sorrindo. — Perdão, nunca o vi na vida, mas preciso de um voluntário para demonstrar se estou apta o suficiente.

O ambiente ao redor esquenta. A respiração da garota magrela é quase sobrenatural.

— Você está drogada, moça!

— Não! — Ela grita. — Essa sou eu de verdade, eu não sou louca!

Outra coisa atinge minha cabeça, bem ao centro da nuca, e caio de costas no chão coberto de lixo. A menina segura meu pescoço com força, começando a me sufocar. A adrenalina nítida em sua face quente me causa um desconforto tremendo, que eu poderia mais descrever como um pavor único.

— Vai ser rápido... estamos chapados, não?

Ouço um tintilar, parecido com metal, e depois um dor cruciante. Os meus órgãos doem, meus olhos saltam para fora e ela ri do sofrimento nítido que me causa.

— Ou talvez não.

Conto seis golpes cortantes perfurarem meu estômago. Depois de terminar o serviço, seu olhar esverdeado cai em direção ao poste de luz mais distante, parecendo estar em outro lugar, quase uma desnorteada.

— Tenha uma boa-noite.

Ela, por fim, tampa minha boca. O ar abandona meus pulmões. E, antes que uma luz branca angelical me cubra, presencio uma cena dupla, onde duas mulheres cobertas de preto e esmeraldas oculares sorriem maleficamente até aqui.

— Donald, o mendigo da rua 77

Hell Girl | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora