30. Morte marcada

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Eu não quero viver
Mas estou muito assustada para morrer
— Olivia O'Brien

***

Demorei muito para perceber que há alguém lá fora. Não que eu não soubesse antes, com toda a cidade comentando, porém agora é diferente. Ele está próximo demais e não mede esforços para me amedrontar. Seria eu a próxima vítima ou apenas outra peça no joguinho dele? Não sei ao certo se quero sair deste quarto, menos ainda enfrentar as paredes daquela escola, só gostaria que o mundo se esquecesse do ocorrido daquela noite de julho e me deixasse em paz para sempre, mas é impossível. Eu mesma fico me torturando com dúvidas e culpas. Nunca saberei se vou me perdoar.

A família Halder está na sala de jantar. Me recuso a descer depois de desobedecer Vicy, e o sermão dela sobre um cadáver perto da praça já me dera a noção de que Jimmy fora encontrado. Alguém tinha passado pelo mesmo local, encontrando algo que quero deletar. O pior foram as últimas notícias: aparentemente eu estava louca, pois não encontraram prova de sangue alguma na imagem de Cristo.

Sya, você está bem? Não saiu daí desde a hora do café!

Me deixe em paz! — Grito, mesmo que a vontade de abraçá-lo seja maior. — Estou com medo disso tudo.

As palavras saem antes que eu perceba a confissão de meu maior pecado. O que eles pensariam de uma garota como eu, que mal consegue se aguentar nas próprias pernas diante dos problemas? Caramba, só estou dando razão a Vicy, mas quem garante que ela não está certa? E se eu for mesmo alguém que precisa ser protegida?

Também estou, amor — escuto-o por trás da porta. Sua voz é doce. — Vamos, temos que fazer nossos deveres. E mamãe te fez batida de mamão.

Odiando Victoria ou não, vou para fora assim que ouço a palavra mamão. Só espero que ela não tenha colocado muito açúcar (como da última vez. De que adiantam os remédios se eles vêm recheados de adoçante?).

Thomas segura minha mão na esperança de me consolar e descemos. Quando nos vê, a mamãe responsável vem até mim e me pede desculpas por sua força, dando-me como consolo a batida. Agradeço por cima do ombro antes de sentar no sofá e ver como Úrsula está arrasada ao lado do pai. Porcaria, eu tinha esquecido totalmente dela!

— Ei — cutuco seu ombro.

— Não, não estou bem, obrigada.

Dmitry me lança um pedido de silêncio com os olhos e apenas assinto. A batida, por sinal, está muito boa, na medida certa do doce. Me recorda os dias de calor, quando minha mãe verdadeira fazia vários sucos naturais com as frutas mais exóticas e os saia vendendo pelo bairro. Eu sempre ficava com os de mamão.

— Sabiam que sua escola começará a ser vistoriada a partir de segunda?

— Como, pai?

— É, Tom. O prefeito acha esses assassinatos muito suspeitos. Vi a manchete no jornal e dez policiais farão a ronda semanal. Além de que contrataram uma detetive para analisar as cenas do crime.

O mamão torna-se azedo. Não sei por quê, só sinto que aquela segurança toda não serviria para nada, pois ninguém se esqueceria da face de Jimmy Rock ou dos pulsos de Melissa Campbell tão cedo.

***

É sério que a patrulha ficaria bem em frente ao banheiro? E com álcool em gel?!

Hell Girl | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora