Hell Girl | COMPLETO

08. Temporada de caça

Quem precisa saber
O jeito que ela se sente por dentro?
— The All-American Rejects

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Sábado em família e uma irmã completamente doida.

O dia começou atrasado, porque meu despertador não tocou. Com isso, fui obrigado a não tomar café, colocar qualquer roupa para correr e ter que compartilhar o último banco do carro com a menina nova.

Chelsea ficava olhando para a estrada. Nem deu sinais de que queria brincar de carícias comigo de novo, o que achei estranho por ela ainda não ter devolvido a revista. Fico imaginando se é ou não um bom sinal.

O clube fica no centro da cidade. É uma área grande, comprada pelo prefeito de um antigo empresário, que agora está reformulada para atender toda a população em menos de dois anos. Ao invés de um simples campo de golfe, vemos quadras de basquete, tênis, futebol normal e americano, vinte piscinas e saunas com quiosques a cada metro, pistas de caminhada, academia e áreas reservadas às aulas de ioga, dança em geral e pilates.

A única parte que não gosto é o lago. Uma garota da minha escola faz canoagem no verão e patina no inverno por lá. Mesmo com sua experiência toda em profundidade, ainda não tenho coragem de encarar aquele monte de escuridão. Parecíamos estar fora da cidade, en um mundo paralelo ou algo assim, e só sabíamos porque os chalés alugados à beira da margem eram bastante procurados no Natal.

Paramos no estacionamento. O céu está um pouco nublado, as nuvens acumuladas indicando que choverá em breve. Dmitry leva as gêmeas no colo enquanto Vicy começa a citar as regras ao ver que todos estão fora do veículo todo enlameado.

O corpo de minha nova irmã me deixa meio extasiado. É difícil prestar atenção em qualquer coisa senão nela.

— Bom, Chelsea, das 8h às 11h fazemos atividades pelas áreas reservadas sem exceções. Irei acompanhá-la até a recepção e reorganizar uma ficha para que utilize o título sem nenhum problema. Daí poderá se espalhar por onde quiser. Nos encontramos no estacionamento para almoçar.

Ela assente, ambas indo em direção à recepção. Vejo os membros de minha família se separam, como sempre, para longe um do outro, sem ao menos me esperarem dar uma ideia das coisas que poderíamos treinar hoje.

Bufo. Eu não devia estar tão chateado, pois sei como eles são: distantes, esquisitos, vindos de lugares e etnias diferentes. O que nossa mãe queria, que formássemos um grupo fantástico?

Afasto esses pensamentos durante a trilha de todos os sábados, que corta o clube de ponta a ponta ao passar pela grande área florestada. Ninguém me incomoda durante a manhã, ainda que estou de fones, então o ambiente fica perfeito. Quando vejo, já estou dentro do bosque, bem distante das mulheres das fichas. O tempo me congela enquanto meus passos se tornam cada vez mais tensos, tanto que enfio o capuz quase até a ponta do nariz.

Reparo a agitação em meus pés sobre as pedras e galhos secos caídos dos pinheiros, pensando em como resolver todos os meus problemas. Acelero o ritmo. As músicas estão no aleatório, mas não presto muita atenção nelas. Nem para onde quero fugir.

Pinguinhos de chuva começam a molhar meu rosto. Na hora em que alguns esquilos jogam uma pinha enorme bem na minha cabeça, começo a desconfiar: foi forte demais para um esquilo.

Corro mais rápido até pausar a playlist. Toda a beleza da Mãe Natureza adquire um ar sobrenatural. Respiro com lentidão para que não percebam a euforia me preenchendo. Eu sentia algo estranho no ar, uma coisa que nunca tinha presenciado até a noite passada, como se estivessem me seguindo a todo custo, incluindo nos momentos de total solidão. Se não eram animais perdidos na trilha ou sócios do clube, quem seria?