12. Selva adolescente

1.5K 171 103
                                    

Eu me pergunto:
O que estou fazendo aqui?
Alessia Cara

***

A aula termina em um piscar de olhos. Mal parece que ficamos meio turno inteiro discutindo sobre a quantidade de petróleo despejada no mar desde a década de 60.

Henna é brilhante. Nenhum de seus adversários consegue ficar contra aquelas teorias. Ela formula os argumentos com tanta graça que penso que seria a melhor política deste país no futuro.

Temos cinco minutos antes da aula. O turno dela é de álgebra, enquanto tenho que aturar uma revisão histórica. Os alunos passam por nós, mas sua atenção é toda voltada para a minha amiga.

— Hmm. Metade do colegial está babando na sua nuca ou é só impressão?

— É Gincana Harley! — Esboço a cara mais confusa do mundo. — Esse é o maior colégio da cidade, Harley Grant's High School. O fundador era fã de competições entre os estudantes, daí, antes de todas as festas começaram, o projeto foi realizado com sucesso. Todas as escolas municipais juntam seus alunos para participarem. Faz três anos que a Tolliver Wood's ganha de lavada.

— Como funciona?

— Simples: em um dia, os colegiais se reúnem no gramado da Grant's, cada um separado em quatro ou três equipes. As atividades têm que ser feitas no menor tempo, de preferência com as melhores pontuações. O prêmio é o troféu anual e um jantar em qualquer estabelecimento à equipe premiada.

— Se vocês não vencem, por que ficaram te encarando?

Trevor gargalha.

— Imagine uma garota de treze anos que acabou de fazer a escola ganhar a competição mais acirrada da temporada pelada em um campo de futebol.

Meu queixo cai no chão.

— Foi louco. Sempre prometo fazer de novo quando vencermos. Esse ano, baita que... com sua ajuda.

— Nem vem. Meus peitos são sagrados!

Rimos de novo. É bom que minha barriga doa, prova que ainda consigo achar graça em coisas idiotas.

Nos separamos no refeitório. Vou participar dessa gincana, mas a parte de correr pelada por um campo é radical demais até para alguém que saiu de um hospício. Ah, quem sabe, não?

Na ficha, meu armário é o 2507.

Isso só pode ser brincadeira. Pretendo não usar aquela droga.

Chego um pouco atrasada na aula. Thomas está na última mesa da fileira do canto. O professor de história explica a matéria, não percebendo que fiquei para fora. Minha oportunidade para não levar uma bronca logo no primeiro dia.

Sento no meio do amontoado. Olhos âmbares estão em mim, mas é complicado me virar. O historiador fala como se hoje fosse nosso último dia na Terra. É impossível entender os motivos que fizeram Napoleão assumir o poder logo após a revolução.

Em um momento de desconforto, uma mão toca no zíper traseiro das minhas calças. Levo um susto, contudo, fico imóvel. Foi rápido e deu para sentir que queriam me cutucar.

— Oi, linda! — O calor de sua boca encosta no meu cabelo. — É só fingir que não estou aqui.

O garoto musculoso ultrapassa os limites, contornando meu quadril. Deus e minha Mãe, alguém me salve. A tremedeira me atinge; não quero ser abusada dentro da sala por um moleque que mal conheço.

— Jack, tire as mãos dela.

Na mesma hora, o desconforto desaparece ao mínimo sinal de Thomas. Abraço o próprio corpo para conter o susto. Esse cara é um exemplo perfeito de vagabundo! Agora estou me lembrando. Jack, Nicholas e aquele outro (o que só resmunga) eram da banda. Como não os reconheci?

Hell Girl | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora