Dália Menezes
Isso era novidade, até então nunca havia chegado a pensar que um dia ficaria cara a cara com um homem tão barbudo como o que estava a poucos metros de mim. — A parte mais engraçada disso é que eu acabei sentindo uma coisa estranha por ele, acho que é atração.
Ok, vou admitir. Teve uma vez, em que eu assisti um show do Thirty Seconds to Mars — Lógico que foi pela televisão, não tenho dinheiro nem para pagar a condução de volta para casa, quem dirá show internacional! — Que quando eu vi o Jared Leto com aquela barba, achei um espetáculo, lindo de morrer, amém Jared Leto! Nessas horas eu ainda queria receber uma mesada dos meus pais para contratar um show particular.
Mas agora, vendo Eduardo Magalhães bem aqui na minha frente, desconfio que eu tenha uma queda, uma queda não, talvez eu tenha é um belo de um precipício por homens barbudos!
“Que pensamentos são esses Dália? Se controle! Você está aqui para uma entrevista de emprego, e, somente a entrevista de emprego!”
— Algum problema senhorita Menezes? — Saio dos meus pensamentos com a pergunta de Eduardo. — Esqueceu como se anda?
— Desculpe, senhor Magalhães… — Olho em volta à procura de uma saída rápida. — É...? Que... Hum… — “Pensa Dália, Pensa!” — É que vi essa linda miniatura de gato. — Aponto para a estatueta em cima de sua mesa e olho para ele, achando que minha desculpa foi perfeita, sua expressão diz o contrário. — Me lembrou que tenho que comprar comida para a minha gata. Então não, não esqueci como se anda! — Abro um sorriso para que minha mentira seja mais convincente e caminho para perto de sua mesa.
— Ah sei, entendo. — Ele finge convencimento, todavia, logo aponta para a cadeira estofada, aparentemente muito confortável, à sua frente. — Sente se!
Assim que me acomodo, entrego meu currículo e me seguro para não ficar encarando suas expressões enquanto lê. Ele passa um tempo lendo, me encara depois de alguns segundos e começa a fazer perguntas.
— Bom, vejo que você fez faculdade de Pedagogia e que também já trabalhou como professora para alunos de todas as idades em um hospital no México. Também já trabalhou em uma escola com alunos do ensino fundamental, porém, gostaria de saber o porquê de você não estar procurando emprego nessa área — Quando ele me pergunta isso, paraliso, mas, ao ver que estava demorando muito para responder, decido contar logo a verdade.
— Bem…?! Do hospital eu me demiti já que me mudei e na escola eu fui demitida pelo fato de que o pai de um aluno meu não ia com a minha cara. — Limpo a garganta para continuar. Foi o meu primeiro emprego depois da formatura, em uma escola particular. Péssima experiência!! — Ele armou para que eu fosse acusada de agressão contra menores, uma coisa que eu seria incapaz de fazer. Mas como não tinha provas para me defender, e era só a minha palavra contra a do pai do aluno e de uma outra colega de trabalho, mal amada! — Resmungo lembrando daquela invejosa, as crianças me amavam e tinham medo dela e ela me difamou. Na época eu fiquei arrasada! — Acabei perdendo meu cargo como professora e não posso mais dar aulas, não até julgarem o meu processo, porém, eu estou fora do país e não acredito que terei justiça! Portanto, nada mais de dar aulas!! — Falo tudo e espero uma reação.
Minhas mãos estão suando, tenho certeza de que vou perder a vaga, que tipo de pai contrataria uma babá com essas espécies de acusações? Eu teria as minhas dúvidas! No entanto, Eduardo fica lá, parado, me encarando, sem dar nenhuma resposta.
“Malucoo!” cantarolo em minha mente, mantendo uma expressão impassível.
— Nossa! — Finalmente uma reação e não foi a que eu esperava. — E como vou saber se você está falando a verdade? — Respiro fundo e fecho os olhos rapidamente, me controlando.
“Ah pronto, era só o que faltava!”
— Desculpe, mas primeiro: Você acredita se quiser! — Digo por fim, perdendo a paciência. Levanto-me subitamente. — Segundo: A minha sinceridade quando respondi a sua pergunta, já seria um ponto a meu favor não? Por quê, eu mentiria sobre algo assim? Se é pra mentir, minta algo legal! — Já estou revoltada e isso não é bom, sempre perco o controle, não é à toa que estou a anos morando no Brasil. — E terceiro: Não sou obrigada a passar por isso. Eu pensava que seria uma entrevista de emprego e me estressei mais que quando eu vou para as reuniões em família, logo, se me der licença, tenho que comprar comida para minha gata! — Vou em direção a porta e quando já estou com a mão na maçaneta, Eduardo me chama.
— Espere! — Escuto seus passos e me viro. — Você é muito nervosa, só estava te testando, faço isso com todos e qualquer um que entrevisto. Agora se estiver mais calma quero continuar a entrevista, podemos? — Ele fala e aponta para a cadeira.
Semicerro os olhos para ele e sem falar nada vou em direção a cadeira e me sento, Eduardo dá a volta na mesa e senta em sua cadeira, depois se vira para mim, a camisa branca dobrada até os antebraços fica rígida conforme ele apoia os braços sobre a mesa, a cadeira em que está recolhe o terno vinho enquanto arruma a gravata.
— Então, por ter sido professora acredito que você saiba lidar com crianças mais...? — Pela primeira vez ele parece não encontrar as palavras para se expressar. — Como posso dizer? Crianças mais… mais… — Ele parece nervoso. — Agitadas, certo? — Eduardo finalmente me faz uma pergunta coerente.
— Sim, isso já vem de mim. Ter paciência e jogo de cintura com crianças mais "agitadas" e ansiosas é algo que domino. — Faço aspas com os dedos quando falo agitadas, pois acho que, o que essas crianças querem mesmo, é atenção dos pais ou que são influenciadas por diversos outros fatores, não creio que sejam agitadas apenas por questão ser.
No meu caso eu só queria ser aceita com as minhas extravagancias sem ser julgada e oprimida, não foi dessa maneira!
— Tudo bem, é tudo o que eu preciso saber. — Quase suspiro em alívio, pensei que essa entrevista não fosse acabar mais. — Você está contratada, senhorita Menezes. — Conclui, por fim.
Sorrio e bato palma, assim como uma criança feliz da vida por ganhar um brinquedo novo faria, a diferença é que, no meu caso, estou feliz porque passei por todo esse estresse e contratempo para no fim conseguir o emprego. Minha vida está garantida por mais um tempo, não vou precisar pedir ajuda dos meus pais e ter que ouvir asneiras e uma exigência para voltar pra casa e ser a secretária de alguma clínica de meus pais.
“Chupa essa, universo!”
Depois de acertar as outras burocracias, me levanto, agradeço e vou embora, só que dessa vez vou sair daqui feliz. Começarei em meu novo emprego amanhã, como babá de uma criança de quatro anos, o filho de Eduardo, o Vinicius.
Me aguarde Vinicius Magalhães, Dália Furacão Menezes chegará para arrasar!
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A Babá Fantástica |REVISADO|
RomanceDália é uma mulher de 29 anos e se considera em eterno conflito. Se mudou e ganhou sua própria independência muito cedo, nativamente mexicana e à nove anos moradora da grande São Paulo, tudo o que ela menos queria era se envolver em uma polêmica ou...