CAPÍTULO 4

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Dália Menezes

Estou atrasada!

E no meu primeiro dia, tudo porque essa porcaria de ônibus podre do estado, que além de você pagar uma fortuna de tarifa, não presta! Ai que raiva! Esse projeto de carroça que ainda chamam de transporte público quebrou, e, como se não fosse o suficiente, tinha que estar chovendo, logo, está tudo alagado, ou seja, a porcaria de ônibus está atolado faltando exatamente dois pontos para que eu desça. Eu não vou ter outra alternativa, ou eu desço e vou andando debaixo de chuva, até chegar na casa do meu querido e paciente chefe; ou fico aqui esperando a chuva passar, o ônibus voltar a funcionar e vou perder o meu novo emprego sem nunca nem ter trabalhado.

“É, não tenho escolha.”

— Oh motorista! — Dou um berro para chamar atenção enquanto vou tentando passar no meio do povo em meio a xingos e ofensas. — Abre aqui, por favor? 

Assim como eu pedi, o mesmo abriu a porta, porém, eu ainda tinha um obstáculo antes de conseguir finalmente sair da pocilga. A questão é: Um homem com fone de ouvidos com música na maior altura estava empacando minha saída.

— Moço? Com licença? — Ele não me ouvia e eu estava cada vez mais atrasada. — Ah me poupe, não sou obrigada! — Dei um empurrão no mesmo e consequentemente como a porta estava aberta, ele caiu lá fora no meio da chuva. Pois achei muito bem feito! — Idiota!

Finalmente liberta do coletivo, abro meu guarda-chuva e logo em seguida começo a correr no meio dos carros e da água. Já estou quase no primeiro ponto, quando acabo tropeçando em um buraco na calçada e quase caio, sendo salva apenas por um poste. Me recupero e continuando andando, mas como a vida não gosta de mim, passa uma moto com uma besta em cima jogando água de esgoto na minha direção, então a moto para um pouco mais a frente e o motoqueiro tira o capacete, olhando para trás e dirigindo as seguintes palavras até a minha pessoa:

— Epa, desculpa aí senhora. — Me manda uma piscadela e um sorriso que eu considero de porco. — Eu não vi você, você deveria prestar mais atenção por onde anda. — Começa a dar risada, aperto os lábios tentando conter a raiva.

Isso não vai ficar assim, desisto de me conter quando vejo o meu estado lastimável, ah mais não vai mesmo. Fecho meu guarda-chuva, miro na cabeça dele e taco bem na hora que ele se vira. O impacto é enorme! O cara é jogado de cima da moto. Comemoro o meu ato e vou andando em direção ao estrume que tentava descobrir o que lhe atingiu.

— Desculpa ai senhor, eu não vi você… — Vou andando mas paro e me viro novamente. — Aliás, eu vi você sim! Mas é bom para que aprenda, estrume, seu lugar é aí, no chão. — E volto a caminhar.

Apresso o passo, até porque agora estou sem guarda-chuva e mais atrasada do que antes. Passo pelo segundo ponto e ando mais à frente, chegando à algumas ruas adjacentes e entrando na segunda, como vi ontem à noite no Google Mapas, logo várias casas requintadas e de construções imponentes surgem em meu raio de visão, depois de andar cerca de mais dois minutos consigo chegar na casa de Eduardo, sem mais nenhum imprevisto. Graças à Deus! Porém estou suja e tem mais água na minha bota que em um aquário, devia ter vindo de tênis!

Toco a campainha e espero, encarando a grande porta de madeira. Eu realmente já esperava uma casa gigantesca, bom, é melhor nem comparar com a minha casinha que com tanto afinco pago o condomínio, minhas economias já está nos últimos respiros por isso preciso tanto desse emprego, daqui a pouco estou dormindo no meio do mato do parque Ibirapuera!

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