CAPÍTULO 40

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Dália Menezes

Apuro a audição e resolvo parar de ignorar o médico quando ele entra em um assunto que me interessa.

— A senhora tem uma gestação de risco por vários motivos, ter 39 anos, ser a primeira gravidez e claro, levar um tiro acarretando num princípio de aborto! — O olho rapidamente pelo canto do olho e subo minha mão para a barriga, meus dedos alisam a pele e abaixo a cabeça em culpa. — Então eu aconselho cuidado, responsabilidade e seguir a risca os procedimentos que seu obstreta indicar, para que não haja perigo para nenhum dos dois!

Sinto meus olhos se encherem de lágrimas. Fui tão estúpida! Como que eu pensei que ignorar iria fazer sumir? Ou que, só porque não dei ouvidos o meu bebê iria esperar até eu salvar seu irmão? Sinto as lágrimas caírem no lençol conforme faço minha promessa, mas uma promessa que faço ao meus filhos.

Prometo nunca mais colocar você em perigo, meu amor! Sinto muito por fazer você passar estresse todo. De agora em diante vou te proteger com a minha vida e nunca mais te ignorar!

Escuto um pigarreio e olho para o responsável enquanto cego as poucas lágrimas. Desvio o olhar para o relógio no pulso do médico, ignorando-o de propósito.

Eu acordei nesse hospital frio e extremamente branco, sozinha há meia hora e foi simplesmente aterrorizante! Eu nunca gostei de ficar sozinha, tanto que adotei Bolhota quando vim para o Brasil e agora, estou acostumada com as vozes altas, as correrias, pulos, ânimos, sorrisos e chamados dos meus filhos! Abraços e beijos quentes do meu Christopher e por um instante eu sinto que fui tudo um sonho, se eu não soubesse da gravidez, juraria com todas as minhas forças que nada nunca existiu e não quero isso!!

Fechos os olhos e desvio de novo a visão para o lençol branco, abraçando minha barriga com esperança e saudade. As lágrimas caem sem controle e cada segundo sozinha aqui, esse lugar fica ainda mais congelante!

Odeio esse frio!

A voz do médico continua e parece que está fazendo de propósito! Desde que despertei já me examinou não sei quantas vezes, fui picada e perfurada por agulhas diversas vezes e vários lugares! Fiz exames adoidado e agora ele fica falando, essa voz calma e contida me irrita!

Odeio hospitais, desde que passei muitos dias dentro de um com minha Julia e sinto tanta dor! Dor de cabeça, dor na coluna, nas costas e no corpo todo que ainda por cima não posso mexer! Estou toda doída e ainda tenho que ficar ouvindo o médico repetir o quanto fui descuidada e que quase matei meu bebê.

Aperto os olhos sentido as lágrimas arderem. Eu sei que tenho culpa mas nunca ia querer levar um tiro, nunca pedi pra isso acontecer! Como poderia? Quem pediria para um cara atirar no próprio filho, só para que eu me jogasse na frente da bala? Eu pelo menos não sou esse tipo de maluca, sou outro tipo de maluca! Sou a maluca que preza pela vida acima de tudo!

Não quero ouvir, quero somente a minha família! Cadê o Vinicius? E o meu Christopher? A Julia está bem? Ninguém veio me ver ou me avisar de nada! A última visão que tive antes de apagar foi a em pânico de meu marido e os gritos aterrorizados de meu filho! Quero saber que estão bem. Poder abraçá-los e beijá-los, pedir desculpa por ser inconsequente!

Solto um soluço alto, meu corpo começa a tremer conforme choro e as lágrimas descem feito cachoeira em dia de tempestade. Abraço a mim mesma e esfrego as mãos nos braços para afastar o frio.

— Senhora? — Escuto me chamarem e balanço a cabeça para que não me chamem.

Ergo a cabeça e olho para o médico que se aproxima da cama com a mão estendida, com tanta cautela que parece estar cuidando de um animalzinho ferido e indefeso.

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