CAPÍTULO 5

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Eduardo Magalhães


O clima no carro é estranho.

Vinícius no banco de trás observando as ruas cinzentas e movimentadas da grande São Paulo. Dália está sentada no banco ao meu lado, ninguém diz uma palavra sequer, o que acaba abrindo espaço para que meus pensamentos viajem livremente por meu passado.

Estes estão sendo definitivamente, os quatro anos mais complicados da minha vida!

Em 2013, foi o ano que tudo aconteceu. Alexa, minha ex esposa se virou contra mim, querendo me largar sem motivo aparente ou significativo! Passamos quatro anos casados e como se não fosse nada, ela partiu! Sem ao menos pensar em nosso filho, ela preferiu me abandonar! 

Quando nos casamos, éramos jovens, eu tinha 34 e ela 24. Logo ela ficou grávida e eu pensei que ia dar tudo certo, que dessa vez não haveria abandono, trocas ou escolhas! Tendo um filho eu não ficaria sozinho... Mas não foi isso que Alexa quis, ela quis levar a criança para longe de mim e isso eu não iria deixar!

Tudo começou após o nascimento, ela ainda estava na cama do hospital...

Lembranças ativadas:

11 de janeiro de 2013

Repito meu mantra para que não perca o controle:

Meus filhos! Eu sou o homem mais feliz do mundo! Tenho a minha mulher e meus filhos, gêmeos! Nada pode estragar a minha felicidade…

— Eduardo. — Alexa me chama com rancor. — Eu quero divórcio. — Sinto o baque que foi ouvir isso, ela nunca disse essa palavra apesar de tudo.

Sinto o ódio que estava segurando sair e avanço sobre ela. Estou atordoado de tanta fúria e destesto isso! Arde bem no fundo dentro do peito, é agoniante todas as vezes e sempre tento ignorar!

— Chega! Eu não aguento mais! — Alexa me empurra e continua seu ataque com determinação. — Eu não aguento mais você!

Há muitos anos não vejo essa Alexa, a advogada, oportunista, calculista, sem vergonha e sem nenhum amor por mim!

Naquele dia, muitas coisas aconteceram, foram tantas e tantas coisas e reviravoltas. Tudo mudou para todo mundo e me tornei quem eu mais temia!

Lembranças desativadas.

“Pare de voltar ao passado Eduardo! Dessa vez vai dar certo, a babá vai ficar com Vinicius mais de três dias sem fugir! ” penso voltando de minhas lembranças e olhando no retrovisor eu completo mentalmente, "Eu vou me segurar!"

Sempre que o passado volta à tona em minha mente, é como se revivesse o dia em que tudo de pior aconteceu e eu fico nervoso fazendo merda a todo instante!

Depois de tudo o que passamos, eu quis mudar a aparência! Deixei a barba crescer, fiz diversas tatuagens para cicatrizar cada ferimento interno meu; e hoje, vejo que fiz tudo isso para me punir do que fiz e acabei me afastando do meu filho! Não queria ficar sozinho e acabei sozinho por uma escolha!

Mas não posso deixar que esses pensamentos estrague o dia de hoje!  Preciso dar todas as instruções para a belíssima e afiada, nova babá de meu filho!

Quando percebo que já estamos na rua da escola de Vinicius, paro em frente ao local colorido e sempre movimentado e estacionando o carro ao lado da calçada, em seguida me viro, alternando o olhar entre Dália e Vinicius.

— Para que você ganhe intimidade com a rotina do meu filho, leve ele na entrada hoje. — Digo com autoridade e Dália assente olhando para Vinicius no banco traseiro.

— Vamos Vini? — Ela pergunta e ele acena. Mordo o lábio discretamente, já estão até de apelidos!

Assisto então Dália abrir a porta do carro e sair, abrindo a de Vinicius, pegando a mochila e a lancheira, dando a mão para Vinicius e de uma maneira bem desengonçada porém cuidadosa e me encara sorridente.

— Dê tchau, para o papai. — Ela sorri e por um breve segundo, lembro de Alexa e sinto um frio estranho e um nervoso conhecido na barriga.

Viniciu sorri, e ele tem o sorriso de Alexa, parece estar se divertindo com a situação e acena empolgado. Não consigo evitar e apenas viro o rosto para frente, não dá pra entender porque ele precisa se parecer com a mãe! É tão revoltante! Parece até castigo e não consigo lidar, não controlo minhas atitudes e reações!

As vezes meus impulsos são mais fortes que eu!

Contudo, Dália parece não se importar muito com meus feitos e logo está circundando a frente do carro e se direcionando aos portões de entrada da escola, onde diversas crianças com seus responsáveis adentram o local, a procura de suas salas e professoras.

Dália e Vinicius caminham até eu não os ver mais e então sinto meu celular tocar, avisando a chegada de uma mensagem.

Fernando: Escuta, preciso de um favor.

Reviro os olhos e digito uma resposta sem muita cerimônia.

Eu: Não!

Fernando: Qual é, Eduardo? Sou seu irmão! Quero ver meu sobrinho!

Fernando consegue ser insuportável e mais imprudente que eu! E pensar que já fomos unidos e irmãos companheiros!

Tudo sempre pode mudar!

Coloco o celular no compartimento do carro entre os bancos e ergo a cabeça vendo Dália voltar sorrindo sempre com confiança e queria ser assim, sempre confiante e seguro de si.

Mas não confio em mim! Não posso!

Espero ela se acomodar no banco ao meu lado e colocar o cinto de segurança para anunciar os meus planos.

— Vou deixar você lá em casa e passar rapidamente na empresa, apenas para assinar alguns documentos. — Explico e ela assente calada, gosto muito disso. — Espero que nesse meio tempo você conheça os outros funcionários. Para quando eu voltar, posso te deixar a par do resto da rotina do Vinicius. — Aviso vendo ela passar os dedos pelos cabelos coloridos e jogar a franja para trás. — Ele ainda tem natação hoje.

Dália não critica, rebate ou contesta, apenas acena e assim, começo a dirigir, voltando a ficar imerso em lembranças, sem conseguir evitar!

A Babá Fantástica |REVISADO|Onde histórias criam vida. Descubra agora