Dália Menezes
Estou tendo um pressentimento ruim, um bem péssimo pra ser honesta. É como se a qualquer momento fosse acontecer alguma coisa e isso está me dando calafrios, eu sinto que me meti na toca de algum predador assassino desconhecido pela sociedade. Meu coração bate em descompasso com minha respiração.
Olho novamente para Eduardo e reparo que ele caminha em direção a uma cômoda de madeira escura, que tem do lado direito da sala. Ele abre uma gaveta e como está na frente não consigo ver o que ele pega lá dentro mas já me dá medo. Me viro e tento abrir a porta, que para o meu azar, deve ter o mesmo trinco que a do seu quarto, porque por mais que eu tente virar a maçaneta ela não se abre.
— Ai que saco! — Sussurro nervosa.
Levanto a cabeça para ver o que meu chefe está fazendo e por um segundo eu quase morro, ele não está mais perto da cômoda. Me sinto em um filme de terror mal feito, olhando em volta a sua procura e o encontrando perto da janela, ele olha a rua enquanto segura a cortina.
— Sabe, senhorita Menezes? Andei lhe observando e percebi que você não é muito de bater nas portas, não é mesmo? — Ele questiona enquanto fecha a janela e se vira pra mim. Arregalo os olhos inconscientemente, por que ele fez isso? Não está frio nem chovendo. — Responda! — Eduardo esbraveja ríspido ainda no mesmo lugar.
— Oche! — Exclamo sem perceber. — Eu… Eu não sei do que o senhor está falando! Quer que eu fale o quê? — Esse o homem está me assustando! E essa tensão que nos envolve me incomoda muito.
— Sabe muito bem do que estou falando, Dália! — Ele está muito sério e parece descontrolado. Tento lembrar de algum golpe que eu possa me defender. — Vai me dizer, que não se lembra de ter invadido meu quarto? — Eduardo dá um passo para o lado e eu acompanho com o olhar de fuga.
Sua voz está assustadoramente baixa e parece que está atrás de mim, meus braços se arrepiam quando ele tira uma faca de dentro do bolso.
— Eu… Eu… Bom, eu não fiz por mal. — Gaguejo atordoada. — E também eu entrei por engano, mas, logo sai. — Minto por puro instinto e medo dessa faca em suas mãos, nunca fui boa em desviar de objetos cortantes. — Guarde isso, sim? Não tem necessidade de violência. — Aponto para o objeto pontudo.
— Mentirosa!! Pare de mentir! — Ele grita de repente me assustando, está ficando vermelho como seus cabelos. Ando para o lado temerosa, acabo, infelizmente, me afastando da porta.
— Senhor… — Falo baixo tentando o calmar, como se faz com um animalzinho assustado, acho que ele está tendo algum tipo de crise. — Não precisa gritar…
— Eu grito o quanto quiser!! — Ele exclama um pouco mais baixo e bem mais ameaçador. — Você não tem o direito de querer me impor algo! É você a empregada, a subordinada, não eu! — Eduardo me olha com raiva, totalmente transtornado.
E a empatia que estava tentando ter se esvai no momento que ele me chamou de subordinada, uma falta de respeito tremenda! Cara idiota!
Olho para ele com toda a minha revolta e então ele começa a vir em minha direção, são passos firmes, sem qualquer vacilo. Eduardo me faz recuar e quando percebo minha panturrilha bate no apoio do sofá, acabo me desequilibrando, seguro com força no encosto do assento e solto a minha revolta, ele pode estar armado mas não pode me humilhar assim, posso me armar de humilhações.
— Não fale assim comigo, não! — Grito colocando fúria na voz, é preciso se impor! Não sou cachorrinho de ninguém! — Eu posso ser sua empregada, mas não sou sua propriedade! Subordinada é o caramba! Seu grosso mal educado! — Reclamo com ironia e revolta, nem meus pais gritaram assim comigo, quem dirá um inútil desse! Não sou nada dele e nem que fosse, ele não pode falar assim com as pessoas!
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A Babá Fantástica |REVISADO|
RomanceDália é uma mulher de 29 anos e se considera em eterno conflito. Se mudou e ganhou sua própria independência muito cedo, nativamente mexicana e à nove anos moradora da grande São Paulo, tudo o que ela menos queria era se envolver em uma polêmica ou...