Christopher Gutiérrez
Uma semana e meia depois...
— Não, é você que não está entendendo, Ferreira, é direito do familiar ter alguma informação e vocês não estão ajudando em nada! — Exclamo ao telefone para o detetive. — Meu filho foi sequestrado já vai fazer duas semanas e vocês não moveram um musculo! — Desligo o telefone e a vontade que eu tenho é de tacar longe, mas não posso fazer isso, não tenho tempo para comprar um celular novo e fazer toda uma transferência de dados, preciso achar Vinicius com ou sem ajuda da polícia.
O desespero está começando a tomar conta de mim, eu estava tentando manter a calma até então, mas o problema é que não estou no México, aqui no Brasil eu não tenho nenhum contato, um amigo para ligar e pedir um empurrãozinho para auxiliar e ir adiantar as coisas, é inútil! Me sinto inútil, o infeliz do Eduardo levou Vinicius na segunda do dia treze e hoje já é quinta, dia vinte e três, fazem onze dias que levaram o menino e não tem uma movimentação diferente, nem da polícia, do embuste do Eduardo ou da Dália e Julia, que nem parecem estarem em casa, o silencio é torturante!
Começo a andar em círculos pelo escritório, preciso de uma solução, uma luz qualquer que seja! Tudo saiu do eixo, devia ter levado mais a sério quando Dália falou que algo estava para acontecer. Essa polícia brasileira não está com nada, não saímos da mesma situação desde que os acionamos no mesmo dia do sequestro. Bando de imprestáveis! Pra não falar coisa pior.
Nossa casa nem é mais a mesma, minha princesa Julia, não faz nada a não ser dormir na cama do irmão junto ao urso e a Bolhota; agora ela parou mas antes ficava repetindo que a culpa é dela por ter ido embora mais cedo, conseguimos tirar isso da cabeça dela mas ela não quer comer e só chora, nem Millena anima ela, entendo minha pequena, quando ela acordou, o Vinicius foi em quem ela se agarrou primeiro, como uma ancora e agora ele não está aqui, é assustador!
Minha Dália está inconsolável, não consegue dormir porque tem pesadelo, parece um zumbi andando pela casa, vive chorando pelos cantos, comendo comida estranha enquanto faz suas próprias pesquisas, se ajudasse em alguma coisa, mas até agora sem resultado. Além de que a preocupação adicional da Julia não querer comer e isso faz mal as duas.
Um dia após levaram Vinicius, Dália foi para a empresa, para buscar o notebook que esqueceu lá, porém desmaiou por estar muito fraca já que ficou um dia inteiro sem se alimentar direito. Fiquei doido sem conseguir falar com ela, já estava pensando que Eduardo havia pego ela também, mas aí liguei na empresa e o segurança a achou caída no escritório. A levei ao hospital, ela fez alguns exames que até hoje não fui buscar os resultados e o médico avisou que se ela não se alimentar e se cuidar, vai ficar internada, e nada vai ajudar se estiver deitada em uma cama de hospital, sendo alimentada e medicada por eles.
Então Dália parou, raciocinou e voltou a comer, algumas coisas mas fica inventando moda e colocando canela e mostarda em quase tudo, por exemplo, feijão com mostarda! Ô coisa nojenta! Ela come com tanto gosto e eu prefiro que ela coma qualquer coisa a ficar com fome e desmaiar por aí; além de que eu que não vou proibir uma mulher que já está sofrendo de comer, muito menos Dália, não sou doido!
Solto um suspiro cansado, já é quase meia noite, amanhã é sexta-feira e nada de notícias. Saio do escritório e vou em direção a escada, chego ao corredor e entro no quarto de Vinicius, onde Julia está ficando todos esses dias e encontro minha princesa deitada na cama, vestida com uma blusa de frio de Vinicius muito maior que ela, encolhida na cama de costas pra mim com o urso em seus braços e Bolhota como sempre aos seus pés. Chego mais perto e escuto ela sussurrar:
— Quero meu irmão de volta... — Funga, isso significa que ela está chorando, de novo. — Ele é chato, mas é meu irmão e eu amo muito ele! — Aperta mais o urso em seus braços e enfia o rosto na pelúcia. — Traz ele de volta Lua! Eu prometo dar minha sobremesa pra ele, durante uma semana! — Me pergunto quando ela decidiu nomear o urso de Lua, sento na cama e afago seus cabelos.
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A Babá Fantástica |REVISADO|
RomanceDália é uma mulher de 29 anos e se considera em eterno conflito. Se mudou e ganhou sua própria independência muito cedo, nativamente mexicana e à nove anos moradora da grande São Paulo, tudo o que ela menos queria era se envolver em uma polêmica ou...