CAPÍTULO 1

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Dália Menezes

2017, São Paulo, Brasil.

Nunca pensei que o mundo chegaria a esse ponto! Tá! Admito, pensei que era só os meus pais.

Tudo bem. Eu sei que antigamente era pior, mas pensei que conforme o tempo passasse, esses julgamentos sem necessidade não iriam existir mais — eu estava errada, fui ingênua, — ainda hoje as pessoas me olham de cima a baixo e torcem o nariz, fazem caretas como se eu fosse sair por aí jogando bomba ou até mesmo que eu fosse a própria bomba. Todavia, o que eles não sabem é que eu continuo pouco me lixando para o que pensam de mim.

Tem dias, que estou de saco cheio dessa situação e mando a maioria se foder. Esse é o caso agora. Saí de casa para simplesmente comprar comida para a Bolhota, minha gata, adotei a felina quando sai de casa; é um compromisso simples, se, eu não morasse em uma cidade tão preconceituosa! Paro no meio da calçada porque um indivíduo deu um suposto “pulo de susto” ao me ver passando.

— Misericórdia… o que é isso? — Ele sussurrou. — Que susto!

Parei e mirei a mão no rosto dele e mostrei o dedo do meio, voltando a andar e falando bem alto para que ele possa ouvir:

— Idiota! Ainda não sou a sua mãe para estar assustando desse jeito!

Nem sempre eu sou assim, só para deixar claro, mas é que dessa vez foi demais, o cara deu um pulo de susto e olha que eu nem sou feia! Continuo a mesma, madeixas coloridas, roupas neutras, tênis chamativos e ainda sou taxada como aberração! Já vi várias pessoas assim e é só comigo que viram a cara, deve ser alguma picuinha mundial. Tem pessoa muito pior e eu não estou exagerando quando digo muito!

Quem me dera se tudo o que fizessem fosse virar a cara, isso é o básico. O sofrimento não para por aí. Atualmente, não consigo emprego e aparentemente, ainda por cima, dou sustos nas pessoas! É o cúmulo!

ßāßā

Ao chegar na casa de ração, finalmente, consigo comprar a comida de Bolhota.

Antes de voltar para casa, decido passar na banca com o propósito de comprar novamente o jornal amarelo de empregos — uma certa gata gorda e folgada fez suas necessidades no meu último jornal.

Assim que chego em casa, dou comida à minha gorda, tomo um banho, faço um mexidão com quase tudo que acho na geladeira e me sento com o jornal e meu almoço na bancada da cozinha.

— Vamos ver o que temos por aqui… — Murmuro sozinha, pensativa e folheando o jornal. Passando os olhos pelas páginas e não encontrando nada de interessante, quando estou quase desistindo, viro a folha novamente e — finalmente — vejo um anúncio que me interessa:

"Procura-se babá competente e paciente! Urgente! Se estiver interessada ligue agora mesmo, peça para falar com Eduardo Magalhães, no seguinte número: ..."

Disco aqueles números no celular e não penso nem duas vezes — mentira penso sim, penso que eu poderia terminar de comer primeiro e depois ligar. — Mas, e se eu demorar esse tempo que vou comer e uma outra pessoa pegar a minha chance? Melhor não arriscar, com o dinheiro do trabalho eu faço outro mexidão e fico satisfeita! — Ótimo, tá resolvido. Eu ligo e depois como.

Disco o número e logo uma voz grave que acaba me causando nervoso chega aos meus ouvidos:

O que?

Nossa que ignorância para atender o telefone”, penso fazendo uma careta descontente.

— Quem é? — Pergunta o sujeito já estressado.

— Boa tarde! — Falo tentando manter a calma e educação. — Estou ligando pelo anúncio do jornal... Sobre a vaga de babá...

— Ah sim, você pode vir fazer a entrevista amanhã mesmo se possível. É no Edifício Choklad Tower, na Avenida Paulista. Esteja aqui às 8, sem atrasos, fale na recepção que tem uma entrevista. Você acabou de falar com Eduardo Magalhães, sou o dono do local.

O homem completou e não disse mais nada, após ele dizer seu nome, tudo o que fez foi desligar a chamada.

Eu não sei o que me surpreendia mais: Ter uma entrevista para amanhã cedo em um edifício na Paulista, ou ter sido atendida aparentemente pelo CEO, super antipático, de uma empresa de chocolate. Deve ser um sonho, — meio conturbado — se tornando realidade!

Ainda extasiada pela situação, tudo o que consigo fazer é pegar meu mexido, olhar para minha gata deitada no sofá e ir pro lado dela.

— É Bolhota… — Sento no sofá, voltando a comer. — Caso eu consiga esse emprego, acho que poderemos ter chocolate pro resto da vida! — Comunico e pego meu celular embaixo de Bolhota, bichinha ousada.

Eu: "Oiie, Danny!"

"Adivinha mais essa???"

Danny: "Oq, capivara?"

"Ganhou na loteria?"

"METADINHA!"

Eu: "Surtou? Vc é muito ruim nesse jogo!"

"Inacreditável!!"

"Nunca vi mais burro!"

"Vou falar logo. Tenho uma entrevista de emprego, amanhã"

Danny: "Não estava mais doq na hr de vc começar a brilhar, Lia."

— Quem me dera… — Sussurro segurando o celular na frente do rosto.

Eu: "Como babá"

Danny: "Não acho uma boa ideia"
"Mas a sua sobrevivência é um negócio sério e particular, não vou me meter!!"

Reviro os olhos olhando para a tela com foto de Bolhota no papel de parede, bloqueio a tela jogando o aparelho na poltrona e continuo comendo. Às vezes conversar com Danny é muito terapêutico, espero ser o mesmo pra ele também já que está sempre precisando e hoje eu só quero jantar e ir dormir!

A Babá Fantástica |REVISADO|Onde histórias criam vida. Descubra agora