Eileen

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Depois de 20 minutos procurando na internet, eles descobriram que só existia um Kroog's Bar em toda a região, e ele não estava há mais de 40km do bunker. Se aquele era o bar certo, eles não poderiam afirmar com 100% de certeza, mas valia a tentativa. E depois de esperar por dois dias, os irmãos pegaram tudo o que precisavam, as armas, talismãs, jarras com sangue de pelo menos quatro criaturas diferentes, o habitual. Dean ainda parecia meio incerto quanto aquilo, e Sam só pode atribuir isso aquela estranha relação entre o irmão e Amara, que Dean parecia não conseguir, ou não querer explicar. Sam passou o caminho todo pensando sobre a situação, quieto, agradecendo pela primeira vez o silencio do irmão mais velho, que parecia mais concentrado na seleção de músicas do Journey que começara a tocar no rádio.
Rodaram por algum tempo até encontrarem. O Kroog's Bar era um estabelecimento pequeno e de aparência duvidosa, 56m² de paredes sujas e um letreiro em que o "K" e o "g" já não brilhavam mais. Não que os dois não estivessem acostumados com aquele tipo de ambiente, mas como Dean descrevera a voz como vinda de uma provável criança, aquele era o ultimo tipo de lugar que eles estavam esperando encontrar.
— O que você acha? - Perguntou Sam, sem olhar para o irmão.
— Eu acho que a cerveja ali dentro deve ser barata. Vamos logo. - Disse, abrindo a porta do carro e saindo sem esperar pelo mais novo.
O interior do lugar fazia jus ao exterior. Um balcão se estendia até uma curva, onde ficavam algumas mesas, tudo parecia ter uma sujeira de anos acumulada. A primeira vista, o que eles puderam observar foram alguns sujeitos mal encarados, bebericando garrafas de uma cerveja cuja marca nem mesmo Dean conhecia. Passaram algum tempo na porta, sem de fato entrar até que uma das garçonete os chamou.
— Algum problema? - Perguntou, o tom de grosseria mais inerente a sua fala do que por uma real intensão de ser grosseira.
— Nós estamos procurando alguém, mas eu acho que não estamos no lugar certo. - Sam começou, já virando as costas.
— Quem vocês estão procurando? - Ela limpou as mãos no avental e chegou mais perto deles.
— Uma garota chamada Eileen. - Dean disse, já a meio caminho da impaciência.
A mulher pareceu pensar um pouco e então disse - Se eu não me engano tem uma garota com esse nome aqui. Ela está sentada lá atrás, nas mesas. - Apontou para um espaço mais escuro do bar, e eles puderam ver uma silhueta pequena debruçada sobre a mesa.
Os dois soltaram um "obrigado", se dirigindo até a menina. Lá eles se depararam com uma visão adormecida de uma garota que não poderia ter mais do que 16 anos de idade. O cabelo curto, meio branco e meio loiro escuro, caia pelo braço tapando parte de seu rosto. Ela ressonava baixinho, e se as olheiras eram algum indicio de tempo não dormido, aquela garota deve ter passado pelo menos cinco dias em claro. Foi com um pouco de pena que Sam tocou-lhe o braço, fazendo com que ela abrisse os olhos lentamente. Grandes e expressivos olhos castanhos, mas vermelhos, com as veias completamente visíveis.
— Eilleen? - Sam perguntou, sentando-se na cadeira de fronte a ela. Ouviu um sim, seguido de um bocejo longo. Quando ela pareceu finalmente se dar conta de quem eles deveriam ser, deu um pulo em sua cadeira.
— Sam e Dean? - Perguntou entusiasmada, o sono parecendo se esvair em velocidade vertiginosa. Eles acenaram positivamente, e a expressão cansada foi logo substituída por uma de mais puro alívio. Dean acabou por se sentar ao lado de Sam, encarando a figura diminuta a sua frente, apesar de suas feições demonstrarem alívio, sua postura era de defesa, com um dos braços agarrando o outro fortemente e os ombros caídos - Eu estou tão feliz que vocês realmente vieram. Mas acho que antes de tudo eu devo uma ou duas explicações a vocês...
— Pode apostar que sim. - Dean soltou, sem ver o olhar de reprovação de Sam ante ao seu tom nada amigável - Você pode começar com como você descobriu o que nós fazemos.
—Bem, isso foi há dois meses mais ou menos. - Ela começou, se remexendo na cadeira – Quando meus problemas começaram e eu não sabia a quem recorrer. Como eu não queria falar o que estava acontecendo para as pessoas que eu conhecia, eu comecei a pesquisar online. E entre uma pesquisa e outra apareceram uns tais de ghostfacers... – Nesse momento Dean soltou um grunhido e Sam apenas pareceu surpreso – Esse nome significa algo pra vocês?
— Infelizmente – Ela leu na expressões de Dean que era melhor não perguntar mais do que isso, e assim ela continuou.
— Eles tinham todo esse site sobre coisas paranormais e o nome de uma ou duas pessoas que diziam já ter passado por situações mais ou menos como a minha. Eu entrei em contato com eles para ver se eu conseguia o número ou o endereço de alguém. E de fato eu acabei conseguindo, uma mulher chamada Linda Bard.
Nesse momento Dean engoliu em seco, e Sam pareceu atingido pela memória, observando pela feição divertida de Eilleen que ela sabia a história toda.
— Linda foi um caso muito antigo que nós pegamos. - Começou Sam, obviamente constrangido.
— Ela foi atacada por um lobisomem que acabou por ser o marido dela – Eilleen começou, vendo que os rapazes estavam mais do que embaraçados com a história, que Eileen já ouvira da boca da própria Linda – Que entrou no quarto quando ela e... Bem... - Ela olhou para Dean, que apenas acenou positivamente com um pedido mudo de que ela não continuasse – Quando ele pegou vocês dois, aconteceu todo o desastre. Mas isso não importa, o caso é que ela me contou sobre vocês dois e o que vocês fazem, e era tudo de que eu precisava. Como eu encontrei o número foi toda uma outra longa, longa história, que envolveu uma extensa pesquisa de antigos casos de vocês dois e um bom tempo levantando cada um dos seus nomes falsos como um provável portador do número. Em um mês eu devo ter ligado pra umas cem pessoas. - Dean soltou um assobio, mentalmente dando os parabéns a persistência daquela garota.
— Então você está realmente desesperada. - Dean deu ênfase ao realmente. Antes ele havia imaginado que aquela ligação e todo aquele mistério eram apenas fruto do exagero que pessoas que nunca se depararam com o sobrenatural tem, mas pelo visto algo realmente sério estava acontecendo. A menina acenou dramaticamente com a cabeça, os grandes olhos de coruja brilhando, agora um pouco apavorados com a conversa que culminava para os fatos principais.
— E porque você precisa da gente? - Foi a vez de Sam falar, curioso para saber o que estava acontecendo aquela garota.
Nesse momento Eilleen, se virou e se debruçou sobre a cadeira, alcançando uma bolsa e retirando dela um pesado livro de capa verde escura, ela o colocou sobre a mesa. Era um belo volume aveludado, cuja a capa estava vazia, livre de qualquer título. O cuidado que a menina teve ao tocá-lo, denotava mais medo do que delicadeza em si. E por longos segundos após tê-lo pousado sobre a mesa, ela o encarou, como que hipnotizada por uma música que só ela podia ouvir.
—Eilleen? - Sam foi obrigado a chamá-la e despertá-la do torpor ao qual caíra.
Olhou-os séria, e de forma solene e num sussurro ela disse:
— Esse livro, ele vem falando comigo desde que eu o encontrei.

O Livro de EileenOnde histórias criam vida. Descubra agora