O Livro da Capa Aveludada

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O livro o que? - Dean perguntou, arregalando os olhos.

Ignorando a pergunta, Eileen começou - Uma amiga minha trabalha na biblioteca George Peabody, e me agendou uma visita particular ao acervo especial. A visita aconteceu depois do horário normal, então já tinha anoitecido quando eu cheguei lá. Nós passamos pela guarita, tudo bem normal até ai, mas foi quando nós descemos até onde os livros a serem restaurados ficam, que eu comecei a ouvir. Um sussurro, como se fosse uma conversa distante, então eu não me importei muito, eu sabia que nós não éramos as únicas ali.

"Logo ela começou a falar da biblioteca, e aquele sussurro não ia embora, não importa o quando a gente se afastasse, era como se viesse atrás de nós. Eu perguntei pra ela, se ela sabia quem estava conversando daquele jeito, porque aquela altura, tinha começado a ficar mais alto. Ela me olhou com uma expressão confusa e perguntou 'Que conversa?'. Eu insisti, disse que estava ouvindo aqueles sussurros desde que entramos ali, mas ela continuou negando com veemência que estivesse ouvindo qualquer coisa. Entendam agora, meu desespero, porque se eu estava ouvindo, não era possível que ela não estivesse, mas talvez por um senso de medo que me acometeu na hora, eu só deixei pra lá, e tentei ignorar os som."

"Ela tinha selecionado três livros de escrita antiga pra mim, os três jamais puderam ser traduzidos, e eram objeto de estudo de muitos pesquisadores importantes, e quando nós finalmente chegamos a sala que ela havia preparado pra que eu pudesse manusear os livros, os sussurros viraram uma voz que eu conseguia ouvir claramente, como se mais uma pessoa estivesse ali. Nesse momento o celular dela tocou, e ela me pediu pra esperar um minuto, eu fiquei sozinha na sala ouvindo aquela voz, mas eu não conseguia entender o que ela dizia, e era impossível que mais alguém além de mim estivesse na sala"

"Eu fiquei aterrorizada, encostada em uma das paredes, esperando que minha amiga voltasse, e quando ela o fez, a voz cessou, completamente. Ela notou meu espanto e me perguntou se eu estava passando bem. Eu já estava me julgando louca, e tudo que consegui fazer foi dizer que estava tudo bem, só que estava cansada. Minha amiga foi até os livros e tirou a proteção deles, o primeiro de todos é esse livro que vocês estão vendo. Quando ela o abriu, disse que estava em uma língua nunca antes vista em nenhum outro livro e que ninguém nunca foi capaz de identificar de onde ele vinha, ou em que ano fora escrito, mas rapazes, eu entendi tudo que estava escrito na primeira página, assim, como se estivesse em português, eu apontei o texto para essa minha amiga, e perguntei se ninguém nunca tinha traduzido a primeira página e ela disse que não, o livro todo estava numa língua desconhecida." - Ela então estendeu o livro para eles.

Relutante Sam abriu a primeira página do livro, só para encontrar vários símbolos ininteligíveis, voltando os olhos novamente para a garota que apesar de parecer exausta, não parecia louca. - Você disse que não conseguiu entender o que a voz dizia.

— Não em um primeiro momento, mas depois de ler as primeira páginas desse livro, eu acho que sei o que a voz estava dizendo.

— Você roubou o livro? - Dean perguntou.

— Foi inevitável, era como se ele estivesse me chamando a fazer isso...

— Como o cemitério de bichos fez com o Louis* - Dean comentou com um sorriso, satisfeito com sua analogia.

— Sim – Eileen concordou com ênfase – Exatamente assim. E foi como se o universo estivesse ao meu favor, porque depois de passar dez minutos disfarçando o fato de que eu entendia o que estava escrito em um livro que em teoria NINGUÉM jamais fora capaz de ler, minha colega foi chamada pra um compromisso urgente, e perguntou se eu me importaria em ficar ali sozinha. Foi tão estranho, quase como se ela também quisesse que eu levasse o livro dali. Desde que eu o roubei ninguém o reclamou, é como se ele nunca tivesse saído de lá.

— Você leu as primeiras páginas, o que estava escrito? - Foi a vez de Sam perguntar.

— Na verdade eu literalmente só consegui ler as duas primeiras páginas, depois disso eu também não entendo o que está escrito. Mas até ali, o texto fala de cinco criaturas, os Mitrahá, eles eram elementares errante, seres pacíficos muito poderosos. Cada um deles tinha um tipo de poder que eles tiravam de algum objeto mágico. Eu decorei essa parte do texto, já que eu devo ter lido umas 40 vezes, vocês querem que eu conte toda a história?

— Por favor, nós precisamos entender o que está acontecendo pra poder te ajudar. - Sam disse.

— Ok, o texto diz, mais ou menos, isso: "O primeiro, Animus, senhor da luz e das coisas que nasciam, portava um anel brilhante que trazia a luz de mil estrelas, e este anel sussurrava-lhe os feitiços, e jamais o deixava esquecer. O segundo, Bulder, detinha seu poder nas coisas já vivas e da natureza, alimentava-se da terra, ele carregava um cajado feito da árvore mãe, e este lhe sussurrava seus poderes e jamais o deixava esquecer. O terceiro Kindra era a paixão e tudo que ardia, era sentimento inflado e dor profunda, carregava um diadema repleto de belos brilhantes, que lhe sussurrava seus poderes e jamais o deixava esquecer. O quarto era Necron, controlador do tempo e da sabedoria, aquele que vai e vem e de tudo sabe e a todos aconselha, ele trazia um colar, e na ponta do colar uma ampulheta com a areia do infinito, que sussurrava seus poderes e jamais o deixava esquecer. Por ultimo Cimmeris, portador do fogo verde, aquele que tudo destrói e tudo consome, a morte certa a tudo que é vivo, com ele vem seu livro, feito do caos que sussurra-lhe os poderes, e jamais o deixa esquecer".

Nesse momento os dois rapazes olharam para o livro, apreensivos, o entendimento das palavras finalmente alcançado.

— Esse livro - Começo Dean – Pode ser que esse livro seja o da história?

— Se for, eu vou precisar do dobro de ajuda. - Disse Eileen, com uma expressão chorosa.

— Por que? - Sam perguntou.

— Porque eu não consigo me livrar dele. - Ela começou, se levantando e pegando o livro – Observem. - Dito isso, caminhou até a entrada do bar e arremessou o volume porta a fora com toda a força que conseguiu, ganhando olhares curiosos das pessoas que bebiam. Então virou as costas, caminhou até os rapazes e se sentou. Observou a expressão espantada dos dois, encarando-a, só não mais surpresos do que ficariam ao baixar os olhos e descobrir o livro novamente ali, sem nem mesmo um grão de sujeira da queda – Viram só. Desde que eu o roubei, por algum tempo ele ficou em silencio, mas logo ele começou a sussurrar de novo, e agora era algo que eu entendia. "Lembre-se", dito por essa voz etérea, eu fiquei com muito medo e o guardei no meu armário, mas para minha total surpresa, no outro dia eu o encontrei aos meus pés na cama. Quando eu fui para a faculdade, eu o encontrei dentro da minha mochila, mesmo que nem tenha me passado pela cabeça colocá-lo lá.

— Ele está falando agora? - Sam quis saber, agora não mais tentado a tocar na capa aveludada.

— Não, faz dois dias que ele não diz nada. Mas me persegue do mesmo jeito.

— Eileen, você já se perguntou porque o livro está te perseguindo e falando com você? - Sam tinha formado sua teoria, mas não queria assustar a garota que já parecia muito abalada com os últimos acontecimentos. Mas para ele parecia claro o que estava acontecendo ali, e viu nos grandes olhos da garota, que ela já havia pensado o mesmo.

— É loucura – Ela disse apenas. Somente Dean ainda parecia perdido.

— Me desculpe, mas a que conclusão vocês dois chegaram, eu não estou acompanhando.

— Eileen, você pode ser o Cimmeris de que a história fala. - Sam soltou, sem notar a expressão surpresa de Dean, focado apenas nos lentos acenos de cabeça da garota, que não queria acreditar em tal suposição.

O Livro de EileenOnde histórias criam vida. Descubra agora