Conversa com Lúcifer

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No início da manhã, Eileen começou a sentir a agitação crescer em sua mente. A falta de descanso aliado aos pensamentos a respeito da tarefa que realizaria naquele dia a fizeram um ser incapaz de se manter um segundo parado, indo e vindo até onde os irmãos preparavam os ingredientes para o feitiço que deveria invocar Lúcifer. Várias vezes perguntou se eles precisavam de ajuda, mas Sam e Dean afirmavam não precisar de qualquer auxílio. Ela tentou ler, mas seus olhos não conseguiam se concentrar nas palavras, tentou ouvir música, e embora tenha ajudado por um tempo, assim que a última canção do álbum London Calling terminou, ela se viu novamente tragada para um estado de completa perturbação.

— Fica calma. - Dean disse, já começando a se sentir nervoso pela menina.

— Eu sei, eu sei. Eu não entendo por que eu estou tão nervosa. Quero dizer, é claro que eu estou prestes a conhecer o próprio Lúcifer, mas dadas as circunstâncias até agora, isso não deveria me deixar tão agitada.

— Vai dar tudo certo. - Sam disse, e Eileen assentiu.

Passaram o resto da manhã assim, com Eileen pulando de uma distração para outra, enquanto os irmãos cortavam fungos de aparência estranha, ou quebravam ervas que a menina nunca vira antes, e duvidava que teriam algum uso na cozinha. Ela admirou o conhecimento dos Winchester a cerca de feitiços, e a biblioteca dos homens das letras era um arsenal quase infinito de grimórios, existia todo o tipo de livro sobre encantamentos, que os irmãos sabiam aproveitar muito bem. Em certo ponto Eileen parou para prestar atenção ao que eles faziam, mas isto não durou mais do que meros cinco minutos, antes que ela se virasse e começasse a procurar algum outro passatempo.

A manhã passou vagarosamente na visão de Eileen, mas quando chegou a tarde e ela se viu dentro do impala, se dirigindo para um endereço que Crowley arranjara, afastado de qualquer civilização e tão seguro quanto possível, a agitação que já era grande se tornou insuportável. Pelo retrovisor Dean percebeu que ela apertava seu livro ao ponto do nós dos dedos se tornaram brancos. Também reparou que os olhos da menina não se fixavam em lugar algum, e por um instante ele achou que ela vomitaria de nervosismo. Eles nunca viram Eileen daquele jeito, e o mais velho esperava que ela não fosse desistir, como parecia que faria.

Assim que chegaram ao local indicado, descobriram um velho galpão, em todas as janelas frontais havia, pelo menos, um vidro estilhaçado. A pintura descascava, e a que perdurava na parede há muito estava desbotada. Era um lugar isolado sem sinal de casas ao redor, perfeito para a tarefa que tinham em frente. Eileen deixou sair um longo suspiro antes de abrir a porta do impala. A tarde ensolarada não conseguia sobressair o frio que um forte vento trazia, seu corpo começar a tremer levemente.

Sentiu uma mão acolhedora cair sobre seu ombro, e logo seus olhos encontraram os de Dean, e ele sorriu tentando passar alguma calma – Eu sei o que você está arriscando aqui... - Começou, mas a menina não deixou que ele terminasse.

— Tudo bem, por incrível que pareça, eu não estou com medo de passar mal depois do feitiço, não é dai que essa agitação está vindo. - Começaram a andar em direção ao galpão, já com as malas cheias do que seria necessário para a invocação.

— Preocupada com o Lúcifer? - O mais novo sugeriu, abrindo a velha porta do lugar, as dobradiças enferrujadas rangeram, e a porta quase não cedeu.

— Eu acho que sim... Na verdade tenho certeza que sim. - Ela disse, olhando para seu livro – Toda a minha vida ouvindo referências a ele, é como conhecer uma celebridade, eu acho. - Ela deu um leve sorriso de gracejo.

Crowley já estava lá, com seu habitual ar de pompa, e um olhar sério que suavizou quando ele avistou Eileen. Os irmãos já tinham por certo o fato de que o demônio virara o fã número um da menina, e diferente de como fora com Amara, ele não parecia nutrir nenhum sentimento suspeito além da honesta admiração, mas mesmo assim, aquele era Crowley, era sempre bom manter a guarda alta.

O Livro de EileenOnde histórias criam vida. Descubra agora