Meio bolada, mas feliz pt.2

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Já no carro da vovó, faltando meia hora pra tá na casa do love.
- Cara, eu não acredito que é você. Não acredito que foi você a minha luz no fim do túnel.
- Quem diria que nossos caminhos iriam ser traçados novamente.
- Pois é, naquele dia você me deu seu número, só que eu esqueci de salvar no telefone.
- Esperei seu telefone. - ela falou séria.
- Sério?
- Não! - a velhinha sorriu.
Sorri também
- Como se chama?
- Eu? - saiu naturalmente, nem lembrava que só estávamos nós duas ali.
- Sim, você. Não tem mais ninguém por aqui.
- Bruna... Bruna Penderghast, prazer. - estendi a mão.
- Querida, prazer a gente só tem na cama. Satisfação, Denise. - apertou minha mão.
- Denise...? - esperei ela falar seu sobrenome.
- Só, Denise.
- Hum, saquei.
- Então, Bruna. O que uma garota como você está fazendo à essa hora da noite empurrando uma bicicleta com pneu furado?
Pintou um silêncio... Mente Bruna.
- Bom, eu adoro ciclismo. Sempre saio do meu bairro pra dar uma volta de bike pra me exercitar, sabe como é né? - fiquei com medo de contar a verdade, vai que ela me denunciava.
- Aéh? E de onde você vinha pedalando?
- Do meu bairro, nova oliança.
- Nova oliança? Perto do shopping paradise?
- Exatamente.
- Você ficou louca? É super longe garota. - fez uma cara de chocada.
- Eu sei, mas fazer o que? É o amor ao esporte. - sorri falsamente.
Mal sabe ela que o único exercício que eu faço é com a colher.
- Não é da minha conta... Mas o que vai fazer no bairro céu azul?
- O que eu vou fazer lá? - tentei inventar uma mentira rápida.
- Sim.
- Ah, eu tenho um amigo lá que é mecânico.
- Mecânico? Na céu azul?
(Merda, como é que eu falo que tem mecânico em bairro chique)
- É... - gaguejei. - É só um hobby que ele tem, não é coisa profissional.
- Hum, entendi. Que louco!
- Pois é. E o que uma senhora como você está fazendo à essa hora da noite num carro completando as músicas dos outros?
Ela riu.
- Ah, eu simplesmente adoro passear pela cidade nesse horário. E adoro essa música que você estava cantando.
- Gosta de músicas antigas? - perguntei esquecendo que a vovó também era antiga.
- Vem cá, quantos anos você acha que eu tenho?
- Ah, sei lá, não sou adivinha. - falei baixo.
- Como?
- 50? - perguntei rápido antes que ela me deixasse no meio do caminho pelo modo como falei.
- É, e mais um pouquinho.
- 57? - chutei.
- Hunrum. - dona Denise concordou com a cabeça.
- Aaaah! - viajei.
- Chegamos! - Vovó Denise parou o carro em frente ao prédio
- Mas já? - perguntei incrédula.
Caramba, nem percebi que já estávamos no bairro de rico.
- Sim filha. Eu posso ser velha, mas o carro não é. Corre que é uma beleza.
- Percebe - se. Bom, dona Denise, muito obrigada pela carona, fica com Deus tá?
- Me chama só de Denise. "Dona" não faz parte do meu nome. - Êh velhinha.
- Tá bom, Denise. Muito obrigada, viu!?
- Relaxa! Qualquer coisa, sabe onde me encontrar, hein!?
- Sei sim, nas ruas. - sorri
- Isso mesmo. Tchaaau! - e saiu no maior estilo dentro daquele carro chique que eu ainda não sei a marca e nem o nome.
- Não sei porque, mas eu amei essa velha.
Fiquei refletindo sobre isso por alguns minutos em frente ao prédio. Até que...
- JESUS! O plano. - já havia até esquecido.

🌸🌸🌸

Corri rapidamente até a recepção para me identificar.
- Olá, boa noite. O que deseja? - uma nova recepcionista séria perguntou.
- Boa noite. Cadê aquela outra recepcionista que atendia aqui?
- Está de férias. Posso ajudar?
- Sim. Eu gostaria de ir fazer uma visita ao meu amigo Dênis que mora no quinto andar, por favor.
- Dênis? Qual sobrenome?
- Clark, Dênis Clark.
- Desculpa, mas no momento ele não se encontra.
- É, eu tô sabendo. Pode por favor me dá a chave cópia do apartamento pra eu esperar lá?
- Lamento, mas isso é contra as regras do nosso prédio.
- Ah, por favor. É o aniversário dele, eu quero fazer uma surpresa.
- Ah, meus parabéns! Ainda é contra as regras. - ela sorriu e fez sua cara de quem deu e não gostou.
- Moça, eu tô te pedindo. Eu sou muito amiga dele. Ele vai ficar chateado comigo.
- O problema não é meu. Agora se não quiser espera - lo como uma garota decente sentada naquela cadeira. Retire - se. - deu sua última palavra.
- Okay, eu tentei ser legal. Olha aqui sua loira falsa de farmácia, eu sou uma macumbeira profissional hein? Eu vim da Bahia. E se você não liberar essa chave agora mesmo, eu vou ser obrigada a fazer uma macumbinha maravilhosa pra você.
- Lamento, mas eu não acredito nessas coisas. Ou você sai, ou serei obrigada a chamar os seguranças.
Olhei pra ela com a cara da menina do exorcista. (Quer dizer, tentei imitar.)
- BRUXA! - falei.
- Não sou eu quem faz bruxaria. - me olhou de um modo irônico.
Que vagabunda!
Saí lentamente do prédio.
- Agora fodeu - se! Como é que eu vou subir até o quinto andar para chegar no apartamento do Dênis? - suspirei.
Fiquei pensando por um tempo em alguma solução para o meu problema. É nessas horas que eu adoraria ser uma bruxa mesmo pra transformar aquela vaca em mosca. Aff!
- E agora José? O que a gente faz!? - falei enquanto circulava aquele pátio todo do prédio.
5 minutos se passaram, e nada. Tive que esperar mais 5 minutos pra ver se a minha cabeça Homer Simpson da vida bolava algum plano pra entrar ali. De repente...
- JÁ SEI! - pulei de alegria.
- Como você não pensou nisso antes, Bruna? Como tu é bocó!
Eu merecia esse xingamento.
- Se aquela kenga acha que acabou, não acabou não. Eu vou entrar nesse prédio e vai ser agora.
Me aproximei mais um pouco dali. Lá vai...
- SOCORRO! SOCORRO! ASSALTO, ASSALTO. ME AJUDEM! - corri para a portaria.
- O que aconteceu? - a recepcionista bocó apareceu preocupada trazendo dois seguranças.
- Um cara armado acabou de levar minha bolsa.
(Deixei minha bolsa escondida atrás de uma planta perto dali)
- LADRÃO? Na céu azul????? Pra onde ele foi?
- Pra lá. Ai meu Deus! Minha vida tá naquela bolsa. - fiz o drama.
- Vamos seguranças! Essa medalha é minha! - a recepcionista falou e correu atrás do suposto ladrão.
Foi aí que dei um sorriso daqueles!
- Que trouxa! - comecei a rir - Ai, ai... Hollywood tá me perdendo. - ironizei.
Peguei minha bolsa, roubei a chave do apê e corri para o elevador antes que a loira do banheiro aparecesse de novo. Vamo lá!
Já no apartamento do love.
Joguei minha bolsa no sofá, comecei a tirar minha roupa calmamente e vesti a lingerie. Coloquei uma música bem romântica no rádio da sala só pra ele notar que havia alguma coisa de errado e decidi espera - lo na cama.
Minutos de espera.
Quando deu exatamente 21:15, ouvi um barulho na porta. Era ele! Rapidamente, fiz pose de atriz pornô em cima da cama e arregalei aquele sorriso que só a Bruna sabe dar.
- Olá? Tem alguém aqui? - Dênis perguntou abrindo a porta do quarto.
- Eu estou aqui. - fiz cara de safada.
- Aaaaaaaaaah! JESUS!? - ele gritou.
- Não, é a Bruna. - continuei deitada.
- Bruna, o que você tá fazendo aqui? - ele perguntou pálido e espantado.
- Eu vim conversar com você.
- Não temos nada pra conversar.
(Caramba, isso tá parecendo novela.)
- Me escuta, eu vim te dar uma explicação.
- Eu não quero explicação. Por favor, saia do meu quarto agora. - Dênis abriu a porta.
- Eu não vou sair daqui porra nenhuma enquanto você não me ouvir. - fechei a porta.
Ele ficou me olhando, calado.
- Você não imagina o que eu passei pra chegar até aqui só pra fazer as pazes com você.
- Você não deve ter passado nada, para de enxame.
- Nada? Então mentir pros meus pais, pular da minha janela, cair de cara no chão, roubar uma bicicleta, aceitar carona de uma estranha, bancar macumbeira e inventar um assalto só pra chegar até aqui, é nada?
- Como assim, você roubou uma bicicleta? - ele arregalou os olhos.
- É uma longa história, depois eu te conto.
Ficamos nos entre olhando por um tempo.
- Por que você se aproveitou de mim? - ele perguntou na esperança de receber alguma resposta.
- É que...
- Sem mentiras, eu quero a verdade.
- Calma, eu vou te contar tudo. Mas...
- Mas?
- Mas antes, eu quero te pedir uma coisa.
- O que?
- Você pode pedir uma pizza primeiro?
- Pizza?
- Sim! É que eu tô morrendo de fome.
- Bruna, quando é que você não tá com fome?
- Quando estou dormindo. - respondi.
- Aff! - ele saiu do quarto.
- Pizza de calabresa, com bastante tomate hein!? Te amo! - falei alto.
- Era só o que me faltava. - ele suspirou baixo.
Adoro esse menino!
🌸🌸🌸

Chegou a pizza, hora da verdade.
- Então, agora você pode me falar porque se aproveitou de mim? - ele queria saber a verdade à qualquer custo.
- Eu não gosto quando você diz que eu me aproveitei de você.
- E não foi isso?
- Não.
- Então, o que foi?
- Dênis, eu sempre fui apaixonada por você. Desde quando você pôs os pés naquela escola.
Ele parou de comer.
- E desde esse dia, mesmo com a enorme preguiça de fazer alguma coisa, eu estava determinada à te conquistar.
- Mesmo quando soube que eu era gay?
- Quando eu soube que você era gay, eu já estava completamente apaixonada. Eu fiz coisas por você que eu não por nenhum homem.
(Êh caramba, isso é declaração?)
- E a parte que acordei pelado ao seu lado? - sua voz estava lenta.
- Eu tive que fazer isso.
- Por que? - perguntou tristonho.
- Porque eu já estava louca, entende? Louca de amor.
- Bruna, isso foi errado.
- Eu sei que foi errado. Por isso eu tô aqui, por isso vim aqui.
- Eu posso te perdoar, mas acho que não seremos mais melhores amigos.
- Eu não quero ser só sua amiga. Eu quero ser sua namorada, sua parceira de cama.
- Bruna, eu sou gay. E você sabe muito bem que eu gosto de outra pessoa.
- E o que adianta você gostar do Otis se ele não curte essa fruta?
- Isso é uma questão de tempo, só isso.
- Para de criar essa ilusão na sua cabeça, isso nunca vai acontecer.
- Quer saber, é melhor você ir embora.
Fiz a cara que geralmente não é a minha, triste.
- Desculpa Bruna, eu não queria falar assim.
- Tá bom, eu entendo. Eu já vou. - peguei a caixa de pizza e me levantei.
Ele me olhou querendo rir.
- Pode pelo menos me levar até o terminal pra pegar o ônibus pra casa?
- Sua boba, deixe que eu te levo até sua casa. - e saimos.
No caminho não trocamos muitas palavras, eu estava profundamente magoada pela primeira vez na minha vida por não ser correspondida. A única coisa que eu queria além de acabar aquela caixa de pizza, era parar naquele bar de pobre e encher minha cara de tequila com chantilly.
(Estranho né? Nem sei se existe alguém nessa vida que mistura os dois ou se é possível fazer isso sem ir direto pro hospital).
Cheguei em casa.
Depois de encher meu bucho de pizza, deitei na cama e abracei o travesseiro. Fiquei meditando sobre tudo que houve minutos atrás.
Isso aí, tomei o meu primeiro fora. Sabe o mais lindo nessa história? Sim, o fora que eu peguei veio diretamente do meu melhor amigo. E sabe o que é mais esplêndido nisso tudo? Sim, ele é gay.
Okay, vou morrer.
40 minutos depois, chorando sem parar.
Ouvi um barulho na minha janela, pareciam pedrinhas sendo atiradas.
Levei um susto.
- Gente quem é esse louco que quer quebrar o vidro da minha janela?
Me aproximei da janela.
- Meu Deus, será que é o Dênis?
Pai amado! Será que ele meditou também sobre tudo e tá igual aqueles garotos apaixonados de cinema usando a técnica das pedrinhas contra janela?
Okay, vamos descobrir.
Ai - Meu - Deus!
- O que você está fazendo aqui?
A pessoa menos esperada.
Continua...

Grávida do meu melhor amigo gayOnde histórias criam vida. Descubra agora