Mais encontros assim, por favor.

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Retiro minhas palavras quando disse que o mês de abril tava sendo um saco, retiro mesmo. Sabe por que?
Eu vou te contar o "porque".
Desde aquela tarde no shopping, tudo melhorou. Acho que foi Deus querendo que eu saísse daquela sala de cinema e desse de cara com ele, o Ricardinho.
Passamos a nos ver todos os dias, todas as horas, todos os minutos...
O TEMPO TODO!!!
E eu? Aah, eu... Eu tava adorando!
Sabe aquele momento que você já tá cansada de ficar olhando pro teto, esperando quase impacientemente um convite dos amigos pra sair ou uma simples ligação do seu noivo dizendo "eu te amo"? Pois é, eu já tava cheia de ter que esperar.
Mas agora...
Enquanto o Dênis estava tão ocupado trabalhando em Natal (Isso! Já faz um mês que eu não vejo ele... Até a facul ele não foi mais) e enquanto os meus amigos estavam super saindo com seus pares e não ligando pra mim, eu estava com ele. Apenas com ele!
E quando a gente não estava teclando na minha aula de antropologia da alimentação ou no novo projeto dele, estávamos nos divertindo por aí como um belo casal de amigos.
Ele era uma ótima companhia; me fazia rir, me acompanhava até o posto de saúde, falava mal das pessoas comigo, me fazia visitas sempre que podia e o melhor de tudo... Me pagava comida toda vez que eu pedia, principalmente o meu iogurte da tarde. Aah! Era bom demais!
03 de maio às 15:45 da tarde, indo pra cozinha feliz da vida.
- Lálálálálálá, a primavera chegou e eu sou uma flor. - abri a geladeira e peguei um suco. - Oh happy day, oh happy day, oh happy daaay. Todo mundo levanta o braço. - comecei a cantar e dançar ao mesmo tempo. - When Jesus washed, when Jesus washed, when Jesus washed... Oh happy day!! - Santa desafinação.
Deu até pra sentir os copos de vidro se trincando.
- Para, para, para! Pelo amor de Deus! - a estraga tudo muito além de prazeres entrou na cozinha. Mamãe!
- O que foi? Eu tô cantando. Pode mais cantar não?
- Minha querida existe uma grande diferença entre cantar igual uma Alcione da vida e incorporar o demônio. O quê que deu em você, hein? - dona Lucrécia mal educada pegou meu suco e bebeu.
- Nada ué, só estou feliz. E a educação mandou boa tarde pra você. - tive que pegar outro copo.
- E eu devo saber o motivo dessa felicidade tão repentina?
- Não! Mas como eu sou uma filha muito legal, eu vou contar.
Falei pra ela que o grande motivo dessa alegria toda, era porque o Ricardinho havia me chamado pra viajar com ele no fim de semana. E isso havia aumentado bastante o meu ego. E como sempre, ela não estava de acordo.
- De jeito nenhum, como assim você vai viajar com outro cara, Bruna?
- O que é que tem? Só é um passeio na fazenda, nada demais.
- Nada demais? Já falou pro seu noivo sobre essa viagem?
- Pra quê eu vou falar? O Dênis tá bem curtindo a vida pra valer mãe, ele não vai ligar.
- Bruna, Bruna. Você não sabe o que diz.
- Eu sei perfeitamente o que eu digo, eu vou e pronto. Tô cansada dessa rotina de faculdade e casa, não faz bem pra mim. - falei e saí de cena deixando dona Lucrécia na cozinha.
Logo, Riley me liga.
- Oi sumida, o que foi?
- Sumida? Por que sumida? - Riley ingadou confusa.
- Ah, deixa pra lá. O que você queria?
- Eu tava aqui pensando e lembrei de uma coisa muito importante.
- Hum, é mesmo? Jogou na loteria de novo? - tomara que ela tenha ganhado dessa vez.
- Sim, joguei e tô quase ganhando. Mas o que eu tava pensando era outra coisa mais importante.
- Mais importante do que jogar na loteria e ganhar os trocentos milhões? Ficou biruta?
- Bruna? É maio!
- Maio? Que porra é maio? - Riley deve tá surtando.
- O mês, mês 5, daqui há 12 dias. - ela se anima.
- Querida eu não falo por código, desembucha.
- O seu aniversário, boba. Agora dia 15 de maio.
- Meu aniversário?
- Claro, vai me dizer que esqueceu? - Nossa! Esqueci mesmo.
- É, legal... - que desanimação para os quase tão esperado 18 anos.
- Só isso? Cadê a animação?
- Êêêh!
- Credo! O que há contigo mulher?
- Bom, antes eu tava me sentindo meio que... - eu ia falar sobre meus problemas e fui interrompida.
- Opa, Tody está me ligando, falo com você mais tarde, tchau. - e a vaca desligou.
- Que eu não tô nem aí pra nada, vou fazer as malas.

🌸🌸🌸

O fim de semana chegou tão rápido que mal deu pra eu escolher as roupas pra viagem. (Como se fosse uma coisa difícil; calça já era, saia nem pensar e o que me resta? Vestido e um treco chamado bata de grávida)
9:30 da manhã, me despedindo dos coroas.
- Tem certeza que quer ir nessa viagem? - seu Bernardo perguntou ao me ajudar com a mala.
- Eu tenho certeza pai. Eu e o bebê precisamos disso. - falei e dei um beijo no rosto dele.
- Você já falou com o Dênis? - dona Lucrécia apareceu na porta.
- Não, mãe! Ele não precisa saber. Vejo vocês na segunda. - entrei no táxi.
- Cuida bem desse bebê, Bruna. - mamãe como sempre preocupada.
- Fica bem filha, te amamos. - own, amo meu pai.
Por incrível que pareça, eu fiquei bastante surpresa quando os meus pais nem sequer tentaram me impedir quando falei que ia pra esse passeio de qualquer jeito. Será que finalmente eles entenderam que eu mesma posso cuidar de mim?
Bom, espero que sim, né.
Tempos depois, chegando na fazenda.
Caramba eu tô rodeada de pessoas cheia da grana, puta que pariu.
Meu Deus! Eu sou a única que não tem dinheiro nessa bagaça?
O garoto não tem nem 18 anos e já é herdeiro de uma fazenda do tamanho do mundo.
Aff, tenho que ganhar nessa mega sena.
- Então Bruna, o que tá achando do lugar? - Ricardinho perguntou enquanto andávamos pelo campo.
- Nossa, isso aqui é hilário! Você sempre vem por aqui?
- Sempre não, porque como você pode ver, é bem longe.
E bote longe nesse caralho. Afinal, tudo é longe aqui.
- Saquei. Mas enfim, o que tem de legal pra uma grávida fazer aqui?
O bebê e eu precisávamos urgente de uma diversão.
- Olha, tem muitas coisas bacanas pra fazer aqui. A gente pode dar um mergulho no lago, o que acha?
- Claro, é disso que eu preciso. Vamos nadar! Partiu por o biquíni!
Jesus! Eu amo água...
Caramba, acho que em outra vida eu devo ter sido um peixe, ou uma sereia, ou até uma foca da vida, porque puta merda, eu amo qualquer espaço que tenha água.
E aquele lago da fazenda é incrível, quase igual ao que tem na casa de campo do Dênis.
Oh, Dênis!
Falando em Dênis, o que será que ele deve tá fazendo agora? Será que tá pensando em mim?
Oh, claro que não. Deve está muito ocupado.
Por que eu tô pensando nele, hein? Af, eu tô aqui nesse lugar lindo, com um cara que agora é lindo, novinho, mas é legal. E como!
Eu não preciso pensar no Dênis, eu não preciso ficar esperando a boa vontade dele aparecer e eu não posso mais viver nesse mundo de ilusão.
Ai meu Deus, me ajuda. É tão ruim se sentir assim.
17:45 da tarde, no jantar.
Eu não estava muito animada pra comer, isso é uma raridade, eu sei e aquela comida até que parecia gostosa mas... Mas o que eu estava sentindo foi muito além do que minha fome insaciável.
- Bruna? Tá tudo bem com você? - perguntou Ricardinho ao me ver encarando a comida e mexendo o macarrão com o garfo.
- Sim, está tudo bem. De repente me distraí, desculpa.
- Você não gostou da comida? Se quiser posso pedir pra Merida, a cozinheira, preparar algo melhor.
- Espera aí, espera aí...  - acordei dos pensamentos com isso.
- O que foi? - ele perguntou confuso.
- O nome da sua cozinheira é Merida?
- Sim. - ele continuava confuso.
- Caraca, que top. Eu adoraria ter uma cozinheira com nome de princesa.
- Adoraria?
- Sim, claro que sim. Sabe, é muito difícil encontrar uma cozinheira com nome legal. Até nos livros eles colocam nomes escrotos.
- Nossa. - o mesmo começou a rir.
- Creuza, Astrogilda, Carlota, Amigracilda. Meu Deus, quem coloca o nome da filha de Amigracilda? Os pais eram o que? Imigrantes? E o cilda vem de onde?
Ricardinho soltou uma gargalhada daquelas, o que me fez soltar várias risadas também.
E assim ficou a noite... Me fazendo ir ao banheiro de 5 em 5 minutos sem parar, de tanto rir.
Eu tinha me esquecido como era bom está com alguém que tem a facilidade de arrancar sorrisos. Aah, adoro.

🌸🌸🌸

- Hoje é domingo, pede cachimbo, o cachimbo é de barro, bate no jarro, o jarro é ouro, bate no touro, o touro é valente, machuca a gente, a gente é fraco, cai no buraco, o buraco é fundo, acabou-se o mundo. Tá na hora de acordar? Ei? Acorde. - era meu jeito mais fofo de acordar alguém.
- Oi, oi. Acordei! Que horas são?
- É hora de ser feliz. Vamos, levanta! Hoje é o último dia no paraíso, temos que curtir.
- Tá legal, tá legal. Vamos curtir.
Fazenda é algo que sempre tem uma coisa boa pra fazer; nadar, apreciar a natureza, alimentar os animais, tirar leite da vaca (isso é muito bacana), cavalgar (claro, isso eu não pude fazer, mas é bom demais) e cozinhar de uma maneira bastante natural.
Um lugar ideal pra uma grávida solitária como eu. Coloquei até em prática o que já havia aprendido nas aulas de gastronomia. Um dia ainda serei uma belíssima chefe de cozinha.
- Bruna, esses ovos estão simplesmente deliciosos. Não achei que fosse tão boa na cozinha.
- Ao contrário da minha mãe, eu me dei bem nesse ramo. - rimos.
- Pensa em evoluir?
- Claro, um dia ainda abrirei meu fabuloso restaurante "Mc Bruner's".
- Mc Bruner's? Bem criativo.
- Exatamente, que quer dizer Mestre Bruna. E quem é a Bruna? Isso mesmo, eu! - falei e dei uma pescadinha.
- Você é muito incrível mesmo, Bruna. - ele sorrir e do nada eu fico sem jeito.
Droga, fala alguma coisa.
- Sabe... Esses dias que a gente passou juntos estão sendo bastante significativos pra mim. - ele se levantou da cadeira.
- É... Pra mim também. - continuei sem jeito, ele estava ficando mais próximo.
- Você tá gostando da minha companhia?
- Mas é claro, você tem sido um grande amigo e o único que se importou comigo nas últimas semanas.
- Eu sempre me importei com você, Bruna, sempre. E essa não é a primeira vez que eu tento te falar o quanto és especial pra mim.
Santa rapadura, fiquei muda. Mano, fala mais não, cala boca, vou ter um treco.
- Ricardinho, eu... - fui interrompida.
- Não, não fala nada. - ele me encurralou na geladeira. - Esse é o tipo de garota que eu quero ter do meu lado... - os lábios dele estavam vindo em direção à minha boca.
Pai amado! Ele tá vindo me beijar. Senhor! Estão ficando mais próximos... Faz alguma coisa lesa, ISSO NÃO PODE ACONTECER!
- É... Acho melhor não. - tive que virar meu rosto. (Isso garota, mandou bem)
Será que mandei mesmo?
Um silêncio tomou conta do momento por alguns segundos e ele me olhou com aqueles olhinhos de dar pena.
Provavelmente, desiludido.
- Tá chateado? - que pergunta besta, Bruna. Tu é uma besta.
- Não! - ele suspirou. - Desculpa, eu não devia ter falado isso, desculpa. - o mesmo falou e saiu da cozinha imediatamente.
- Droga! - expressei após me ver naquela situação de querer enfiar a cabeça no buraco. (Tu é muito besta, mesmo).
É pelo visto o passeio acaba aqui.
Segunda - feira, 8:35 da manhã, voltando pra casa.
Nao queria que as coisas tivessem acontecido daquele jeito, serio, eu não queria. E se eu tivesse permitido aquele beijo, eu tenho certeza que expectativas da parte dele seriam criadas.
Bom, não tenho dúvida que ele ficou bem constrangido ou se sentindo um inútil, pois não saiu daquele quarto até o amanhecer e quase não trocou palavras comigo no caminho pra casa.
(Acho que algo ruim na minha vida ia acontecer.)
Poxa! Será que agora eu perdi outro amigo de novo? As coisas estavam indo tão bem e do nada puf. Acabou.
- Aff, adeus alegria! Oi solidão. - falei ao me jogar em cima da minha cama.
Merda de vida.

Grávida do meu melhor amigo gayOnde histórias criam vida. Descubra agora