Capítulo 1

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Eram 07h30 quando o alarme tocou. Primeiro dia de aula! pensei comigo mesma. Levantei-me um pouco atordoada, a visão estava um pouco ofuscada pelos raios de sol que atravessavam a janela de vidro do meu quarto, calcei minhas pantufas e fui em direção ao banheiro que fica dentro do quarto. Atravessei a porta do banheiro e dei uma checada na aparência. Para um personagem de filme de terror eu estava perfeita, mas para o primeiro dia de aula estava péssima, mesmo que não quisesse conhecer nenhum menino, não podia aparecer com essa aparência na escola, especialmente no primeiro dia de aula. Depois de banhada, vesti calças jeans escura de cintura alta, uma blusa branca de manga longa com recorte vazado no ombro e calcei um tênis Vizzano amarração branco.
   Saí do quarto e percorri o corredor branco que leva até a escada, desci os degraus me apoiando no corrimão. Minha casa não é do estilo mais moderno, mas também não é do estilo mais antigo. Ela contém moveis rupestres do séc. XX e as paredes são bejes. Ao descer da escada, segui pela sala de estar que estava um pouco arruinada. Mamãe e papai viviam adiando a reforma da casa devido à nossa condição financeira, eu compreendia já que tinha outras prioridades que envolviam o meu futuro, mas as vezes, sentia-me culpada por empatar eles de se realizarem.

   Cheguei na cozinha e encontrei mamãe em pé, de frente para a bancada, tomando um café quentinho. Seus cabelos negros estavam bagunçados e armados, ela ainda estava de pijama. Para uma mulher de 35 anos minha mãe tinha um corpo incrível. Todos diziam que ela parecia comigo, mas eu não acreditava. Eu tenho cabelos negros ondulados que chegam a passar 10 centímetros da minha escapula, tenho um corpo ideal para minha idade, pernas longas e traços da face levemente finos.

   — Bom dia querida! — Disse mamãe com um sorriso contagiante.

   — Bom dia mamãe! A bênção.

   — Deus lhe abençoe! — Minha família é do tipo religiosa, especialmente minha mãe. Ela não perdia um dia de missa e me obrigava a ir ao menos duas vezes na semana. Eu não entendia o porquê não podia faltar nenhum dia. Uma vez eu estava muito tonta e com uma dor insuportável nos ossos, minha mãe passou o dia desesperada, eu pensava que era por causa da doença, mas na verdade era por ter que faltar a missa, mesmo assim minha mãe me levou para a igreja, cheia de remédios e vasos caso ocorresse um vômito.

   — Preparada para o primeiro dia de aula?

   — Acho que sim! — Respondi enquanto colocava o cereal no prato.

   — É bom que tenha certeza. — Mamãe soltou um riso no final e logo entendi que ela tentava pôr um pouco de humor para alegrar minha manhã.

   Passos soaram na sala atrás de mim.

   — Bom dia minhas mulheres maravilhosas. — Disse papai ao entrar na cozinha.

   Ele deu um beijo em minha cabeça e foi em direção da minha mãe. Como eu imaginava, eles trocaram um único beijo de três segundos.

   — Eca! — Disse quando vi aquela cena. Por mais que saibamos o que nossos pais fazem ou deixam de fazer, nunca estamos preparados para ver isso pessoalmente.

   — Só está falando isso porque não é você aqui com o seu namorado. — Disse minha mãe.

   — Não tenho namorado. — Respondi minha mãe.

   — E assim será até o fim dos tempos! — Disse papai.

   — Sabe que um dia terei namorado, não sabe? — Indaguei meu pai.

   — Não precisa lembrar-me disso, mas se depender de mim a resposta dessa pergunta é não! — Disse papai.

   Seguimos em silêncio para aproveitar o café. Depois papai levantou-se e foi vestir o uniforme do trabalho. Eu fui escovar os dentes, quando terminei fui passar um pouco de maquiagem. Odiava me maquiar, mas o mundo adolescente pede isso.

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