Prólogo

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Fórum romano, Roma imperial.



Dabritho estava admirando as joias produzidas em seu império quando as portas do templo se abriram. Ele virou com um ar ansioso e encontrou Letriono, um de seus homens de confiança. Lentriono era alto e magro, usava roupas longas e pretas que fugiam um pouco do padrão romano. Ele aproximou-se de Dabritho com um olhar furioso, como se estivesse decepcionado com algo.

— E então? Encontraram ele? Não me diga que o perderam de vista outra vez! —indagou Dabritho

Letriono lançou um olhar frio e prosseguiu.

— Ele fugiu outra vez, mas dessa vez foi diferente — Letriono fez uma pausa para conter o tom angustiado que soava em sua voz —Ele conseguiu destruir três dos nossos. 

   — O que você está me dizendo? — Dabritho desceu os degraus da escada com tanta pressa que parecia voar sobre eles. — Quer dizer que vinte e cinco homens perderam para um simples demônio?

 — É diferente agora. — Disse Letriono.

— Diferente como? — Indagou Dabritho.

— Ele obteve o perdão divino.

Dabritho parou no tempo. Sua face transmitia uma mistura de emoções que alternavam entre medo, raiva, decepção e angustia.

— Então ele agora é... — Ele parou de falar temendo a conclusão de sua frase.

— Um anjo. — Letriono falou completando a frase. — E dos poderosos.

Novamente as portas do templo se abriram e delas surgiu uma mulher. Ela era Branca como neve, tinha cabelos negros que em uma batalha de tons, eles ganhavam facilmente para a escuridão, e vestia uma roupa branca muito longa. Ela aproximou-se dos homens e os lançou um olhar de desprezo.

— Desculpa minha senhora! Mas... — Dabritho falou, mas logo foi interrompido pela própria.

— Shhhh... não fale mais nada. Sei da incompetência de vocês. — Ela falou de um jeito que parecia não dar importância.

— Então a senhora não está brava? —Dabritho indagou.

— Não! Fico muito feliz por ele ter escapado, ter conseguido o perdão divino, coisa que venho desejando há anos. — Dessa vez sua face mudou de expressão. Seus olhos começaram a parecer um mar de ódio e fúria. Ela apertou a mão e olhou para eles com o mesmo tom de raiva nos olhos. — Idiotas, imbecis, incompetentes! Uma poeira faria esse trabalho melhor que vocês.

Eles abaixaram a Cabeça e seguiu um breve silencio

— Ele tem um amor?

— Sim senhora. Uma mulher que para ele significa muito. —Respondeu Dabritho.

— Ótimo! Ainda me resta esperança. A proteção de um anjo só é útil até a sua décima geração, depois disso eu poderei dar um fim e finalmente recuperar a minha dignidade e paz.

— E o que faremos até lá? —Finalmente Letriono indagou.

— Fiquem de olho em todas as gerações, não quero falha dessa vez, usem todos os truques possíveis! Se preciso, entrem na família. —Ela parou de falar e virou em direção da saída. Deu cinco passos e parou novamente. — Caso ocorra qualquer falha da parte de vocês... irei acabar com todas as suas gerações. — Dessa vez a mulher soltou um sorriso irônico e decidido e logo em seguida, retirou-se do templo.

   Ao sair do templo, Letriono encontrou sua serva desesperada. Ele seguiu até ela e indagou-lhe.

   — O que houve? Por que está chorando?

   — A minha senhora... a sua mulher. — Ela parou de falar e tentou engolir um soluço de choro.

   — O que houve? — Letriono arregalou os olhos, temendo a resposta da serva.

   — Ela está. — A serva fez uma breve pausa e seguiu. —Morrendo!

   Letriono correu pelas ruas desesperado em direção a sua casa. Ao chegar, encontrou sua esposa deitada na cama e suas servas chorando. Ele aproximou-se de Alzeida, a serva preferida de sua esposa e lançou um olhar questionador, mas ela apenas fez um sinal negativo com a cabeça e disse:

   — Sinto muito, meu senhor!

   Letriono saiu de sua casa desesperado e seguiu até o palácio. Ao chegar lá, percorreu o longo corredor feito de pedra que levava até uma porta muito alta feita de ferro. Ele aproximou-se da porta e entrou sem pensar em nada. Atrás da porta havia um quarto muito elegante, forrado de cortinas brancas, moveis de ouro e uma cama enorme no meio dele. Em cima da cama estava a mulher de cabelos negros, a mesma com quem ele tinha conversado no templo. Ele seguiu até ela e disse:

 — Minha rainha! Minha mulher está morta, por favor, cure-a. — Ele se jogou aos pés da mulher e começou a chorar.

  — Eu a matei. — A mulher respondeu em um tom despreocupado.

  —  O que? —Letriono levantou a cabeça e secou as lagrimas.

  — Para você aprender a fazer o trabalho que lhe imponho. E se pensar em errar outra vez, eu matarei todos da sua linhagem, até que não reste ninguém para contar a sua historia. Agora saia!

   Letriono retirou-se. Ao passar pela porta ele soltou uma frase em sussurro:

   — Isso não acaba aqui!

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