Capítulo 6: O menino Natan

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Cinco anos se passou desde o incidente na casa da família dos Santos, o menino Natan agora era um adolescente. Estava no ensino médio na escola, era um garoto estudioso e respeitador. Com poucos amigos, não levava desaforo para casa, já protagonizou diversas brigas contra garotos que o provocara. As meninas tinham um pouco de medo do jeito de ser do menino, elas o achavam encrenqueiro.

Aurélia conversava com frequência sobre essas brigas, mas Natan na maioria das vezes dava uma explicação convincente. A relação entre mãe e filho era ótima, o menino era muito obediente e ouvia tudo o que Aurélia falava, mesmo que fosse para brigar, ele simplesmente abaixava a cabeça e falava:

- Sim Mãe.

O menino Natan, mal sua mãe sabia que na verdade ele era o Arcanjo Uriel cumprindo uma punição dentro daquele corpo de carne e osso. No começo foi difícil para o celestial se acostumar com a fragilidade de ser um humano, mas com o passar dos anos ele foi se acostumando. Uriel sentia muita saudade de poder voar, de seus irmãos e do Éden. Era tanta coisa ruim que ele via no dia a dia, mas por ordens de Miguel, ele não procurou mais contato com o mundo espiritual.

Pensando melhor, Natan se arrependeu de se envolver no exorcismo a cinco anos atrás, pois quase revelou a sua verdadeira identidade e poderia sofrer outra punição de Arcanos, mas ele se perguntava " Porque eu fiz aquilo?". O ser humano é cercado de tanta maldade e pecados, que o Arcanjo não se conteve. Dez anos preso num corpo de carne e osso, vendo tanta desgraça, fez com que o celestial agisse por impulso.

Se passava das 20:00hs, o tempo estava nublado e o vento dava aquela sensação de frio. Aurélia estava na cozinha de sua casa preparando o jantar, Natan assistia uma partida de futebol na televisão. 

- Filho a janta está pronta, pode vir quando quiser.- Falou Aurélia em voz alta para o filho.

O menino depois de lavar as mãos, se sentou na mesa com a mãe, ele estava faminto. A janta era bife com batatas fritas e como bebida aquela coca cola com gelo, prato predileto de Natan.

No meio da janta, mãe e filho conversavam sobre o dia de um e de outro, para alegria de Aurélia, o filho não tinha se envolvido em nenhuma briga. mas ela notou que ele estava diferente, aparentava estar mais feliz do que o costume. Os sentidos de uma mãe são muito afiados, logo, ela matou a charada.

- Você parece que viu um passarinho verde hoje filho? Me fale o nome dela?

- Do que você está falando mãe? Não há ela... Ainda não. - Falou o filho sorrindo para mãe.

- Olha lá em menino.- Agora quem sorria era Aurélia.

Eis que a noite se estendeu e ambos foram dormir.

No outro dia na escola, Natan não conseguia se concentrar direito nos estudos, pois na sua sala tinha uma garota que encantou seu coração, o nome dela era Karina, uma mocinha loira de olhos verdes e um corpo bem definido. Linda aos olhos do menino, sempre que podia ele ficava olhando para ela, mas o seu jeito tímido e leigo o impedia de se aproximar. Outra coisa que afastava o menino dela, era o fato de Karina ter namorado, um rapaz de dezoito anos chamado Anderson, ele era alto de cabelos escuros, olhos castanhos claros e possuidor de um corpo atlético. Ele era o cara mais folgado da escola, todos o temiam por ser grandalhão e muito forte. Andava com um grupo de garotos que faziam vandalismo na escola. Só não teve problemas com Natan ainda, porque nunca cruzou o seu caminho e porque o celestial nunca deu motivo também.

O Arcanjo não entendia esse sentimento que o incomodava tanto, tudo que ele fazia, pensava em Karina. Isso era algo novo, coisa que somente um ser humano pode sentir, o amor carnal.

Quando acabou a aula, todos saíram da sala, menos Natan que ficou conversando com o professor. Depois disso o celestial partiu rumo ao portão de saída da escola. Ele caminhava sozinho pensando em nada, foi quando avistou perto do poste do outro lado da rua, Karina e Anderson aos beijos. O casal estava abraçado e num carinho intenso, isso foi um choque para Natan, suas pernas tremeram, parecia que ele estava sem chão, seu coração começou a bater duas vezes mais rápido, uma dor sem ferida física, sentimentos destruídos, o pobre menino simplesmente abaixou a cabeça e foi embora para sua casa.

Anoiteceu.

Aurélia chegou cansada do serviço, antes de se preparar para fazer a janta, ela chamou o filho sem resposta. Ela subiu até o quarto dele e quando abriu a porta e acendeu a luz, a mulher teve um grande susto, Natan estava sentado na cama olhando para o nada.

- Ai filho que susto, o que você está fazendo no escuro? Não ouviu eu te chamar?- Falou Aurélia irritada.

- Não ouvi a senhora me chamar mãe, desculpe... Eu não estou afim de fazer nada, apenas ficar aqui no escuro sozinho.- Falou Natan num tom de mágoa.

A mãe insistiu numa conversa com o filho:

- Você quer conversar sobre o que aconteceu hoje? Ontem você estava todo feliz.

- Eu não entendo... Nunca tive um tipo de pensamento assim, o amor dói mãe.

- Como assim, do que você está falando Natan?

- Eu tenho um sentimento por uma garota, mas ela tem namorado, mesmo assim não há nada que eu faça para destruir esse amor inalcançável, por isso eu não estou bem.

Aurélia deu um breve sorriso e ficou muito feliz:

- Meu filhinho está amando... Que coisa mais bonitinha.

- Não tem graça mãe, não vê que estou sofrendo!

Depois dessa fala do filho, Aurélia se acabou na gargalhada. Alguns minutos depois ela retomou a conversa.

- Natan... Amores vem e amores vão, esse não será o primeiro e nem o último. Se essa garota não é possível porque ela é comprometida, vai atrás de outra filho. o que não pode fazer é ficar assim por causa de alguém que não se importa com você. A vida é tão bela para você ficar assim se remoendo Natan.

- Mãe, o amor é sempre assim?

- Não... O amor é o melhor sentimento que há no mundo, mas deve se fazer isso para a pessoa certa. Vamos fazer o seguinte, vamos até a cozinha, vou fazer um achocolatado bem quentinho que você gosta e lá conversaremos mais sobre o assunto.

Meio que sem querer, Natan foi com sua mãe.

Aurélia e seu filho conversaram por horas, ela falou de suas aventuras amorosas, suas paixões mal resolvidas e sabiamente aos poucos foi levantando o astral de Natan.

Na hora de dormir, o celestial deitou em sua cama e pensou:

"Já enfrentei Demônios de diversos tipos e poderes, persegui almas penadas nesse mundo, lutei com as mais terríveis bestas e é uma menina de quinze anos que me derruba, vai entender as coisas". Natan ria sozinho pensando nisso.  

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