Capítulo 35 Primeiro dia de trabalho

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Natan saiu cedo da igreja para tentar arrumar um emprego, o Arcanjo queria ficar no anonimato, o tipo de serviço seria o mais simples possível. Então ele escolheu a construção civil, mas estava difícil, pois o rapaz já tinha passado em três obras e todas não havia vaga.

Se passava das 09:00hs, o sol caprichava no calor, o celeste parou em outra obra para ver se conseguia um emprego. O lugar era um sobrado que estava em reforma, na frente dele tinha um portão com dois homens conversando. Natan chegou no meio dos homens e disse: 

-Bom dia, por favor, posso falar com o responsável da obra?

-Está olhando para ele rapaz.- Falou um homem de cabelo branco, olhos azuis e barrigudo.

-Mais uma vez bom dia, meu nome é Natan. Eu gostaria de saber se o senhor está precisando de algum ajudante na obra.

O velho olhou de lado e falou com o outro rapaz que estava a sua direita:

-Afonso, tem quantos dias que aquele moleque ruim de serviço não vem ?

-Dois dias Sr. José. - Falou o homem tirando a mochila das costas.

-Ótimo, pode falar para ele não vim mais.- Ordenou José. Olhou para Natan e continuou. - Você é da onde rapaz?

- No momento eu não tenho casa senhor, mas minha mãe morava ali nas proximidades do capão redondo. - Falou o celeste encarando o velho a sua frente.

José olhou para Afonso, coçou a barba e pensou por um minuto.

- Tudo bem, vamos fazer assim. Trabalhe hoje e vou analisar como você se sai, dependendo como for, depois do expediente a gente conversa, mas eu acerto o seu dia. E outra, eu não pago muito. 

- Tudo bem, sem problemas, eu só quero trabalhar. -Falou Natan quase dando pulos de alegria.

O Arcanjo ficou muito contente, ele e os outros dois homens entraram para dentro do terreno. José era o chefe da obra e Afonso era o seu braço direito. Havia mais cinco pessoas que trabalhavam no lugar.

O Arcanjo foi apresentado para os outros e depois disto, José pediu para que ele guardasse suas coisas para começar a trabalhar. Natan foi até um quartinho onde tinha uns armários, e lá guardou sua mochila que continha algumas mudas de roupas que o Padre Valdir lhe dera antes dele ir embora.

O dia não seria fácil, pois José mandou afonso pegar pesado com o rapaz, mas não por maldade, e sim para ver como celeste iria se sair.

-Natan o que você sabe fazer?- Perguntou Afonso olhando para o rapaz.

-Eu não sei fazer muita coisa senhor, mas sou esforçado e dedicado.

Afonso esboçou um sorriso.

-Sem problemas, os pedreiros vão te ensinando.- Falou o homem.

O Arcanjo carregou entulho para a caçamba, fez massa de concreto para os pedreiros e quebrou paredes com uma marreta. O rapaz era bruto, mesmo com um corpo meio franzino e com pequenas mãos, ele era forte e rápido. Não mais por limites do corpo físico. Aos poucos os calos foram aparecendo e estourando causando dor nas mãos, mas isso não impedia Natan de continuar. O velho José observava de longe.

Chegou a hora do almoço, todos os peões se reuniram num refeitório improvisado. Natan ficou em outro lugar, ele olhava para um lugar qualquer, descansando o corpo aguardando a volta. José reparou a ausência do celeste e  mandou chama-lo.

Natan entrou no refeitório coçando os calos nas mãos.

-O garoto, você não tem fome? - Perguntou um curioso José.

-Tenho sim senhor, mas eu não trouxe comida. - Falou o celeste abaixando a cabeça.

O chefe da obra caiu a gargalhadas.

-Não seja tímido rapaz, coma com a gente, venha e se sente aqui na mesa. - Falou o velho cessando a risada e emendou - E cambada de peões, o rapaz aqui tem fome e não tem o que comer, quem puder pegar um pouco de comida da marmita e dar para ele, eu agradeço.

Afonso se levantou da mesa, pegou um prato e passou diante da mesa recolhendo um pouco da refeição de cada um. Ninguém se opôs, ao contrário, todos deram comida com muita satisfação e bondade.

Natan se surpreendeu com o ato dos humanos a sua frente, ele que sempre não olhou a raça humana com bons olhos. Acabou descobrindo na prática os motivos pelos quais Deus ama tanto o homem. O celeste pensou consigo " Esta raça é capaz de gestos maravilhosos, dignos de anjos... Agora eu sei porque o senhor tem tanto carinho por eles Pai".

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