Capítulo 10: Sobrevivência, a lei do mais forte

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Natan foi enviado para a Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor(Febem) do Tatuapé, zona leste de São Paulo, o pessoal dos direitos humanos pouco fizeram, o menino foi abandonado e jogado no que parecia uma cova de leões. A função do lugar era fazer um trabalho socioeducativos​ para o menor infrator e devolvê-lo​ ​a sociedade, mas isso não passava de uma teoria barata, segundo o depoimento de alguns jovens.

Já dentro da cela do presídio, o celestial procurava colocar sua mente no lugar, as palavras do delegado Carlos foram pesadas, mas para o menino, ele estava certo de sua afirmação. Um peso na consciência por ter matado Anderson atormentou a cabeça do Arcanjo, se recordou da punição que sofreu no Éden por Arcanos. Tudo isso por seu jeito explosivo de ser, estava repensando suas atitudes, o que ele fez sem pensar e sem usar sabedoria, lhe levaram para as trevas do mundo humano.

Natan dividia a cela com dez meninos, nas primeiras noites ele não teve problemas, mas para dormir incomodava um pouco, pois os meninos dormiam amontoados, um do lado do outro, devido a cela estar além da capacidade de pessoas.

Era uma manhã de quinta-feira, se passava das 7:00hs, o tempo estava nublado com chuva, as celas foram abertas para os menores infratores irem para o pátio, atividades esportivas estavam canceladas devido ao tempo, o pátio era imenso, cercado por grades e impossível para uma eventual fuga. Muitos inspetores rondavam pelo lugar para fazer a segurança.

Natan ficava sentado num banco de concreto no canto do lugar, ele não não queria se envolver em confusões e não procurava amizades.

O inspetor Marcos Santos, um homem branco, cabelos loiros, olhos escuros e um porte normal para uma pessoa de quarenta anos, odiava os detentos, era um carrasco cruel.O homem também era racista, pois seu filho foi morto por um assaltante menor de idade e negro. Ao ver o celestial, um menino de cabelos ruivos, de cor parda, baixinho e com um corpo magro, Marcos deduziu que ele seria uma presa fácil para sua tortura contra o novato.

Além do inspetor, outros detentos também não foram com a cara de Natan, eles o julgavam muito mal encarado e sua expressão de sério às vezes causavam arrepios nos meninos. Notícias ruins chegam rápido em lugares sombrios, Em uma semana que o Arcanjo estava no presídio, já sabiam quem ele tinha matado e como.

Entre os detentos, tinha um garoto de dezessete anos chamado João, o menino era alto, cabelos escuros, olhos castanhos e forte, muito forte, ele passava o dia levantando peso na academia improvisada que tinha no presídio, foi preso envolvido num crime de latrocínio, roubo seguido de morte. Sua vítima foi um idoso de 65 anos que foi pego de surpresa na saída do banco. Ele morreu porque não quis entregar o dinheiro da sua aposentadoria que estava no seu bolso e tentou sem sucesso reagir ao assalto. O pobre senhor foi alvejado com três tiros, um na cabeça e dois no peito.

Na hora do almoço, os meninos se dirigiram até o refeitório, Natan era um dos últimos da fila, o celestial que sempre estava de cara fechada, serviu um pouco de comida numa bandeja de plástico e se dirigiu para uns dos bancos do lugar. No meio do caminho até os bancos, quando o celestial passava entre os outros meninos, eis que um garoto colocou umas das pernas de propósito na intenção de fazer o Arcanjo tropeçar e cair no chão. Ao cair, Natan derrubou todo seu alimento, fazendo todos ali no lugar olhar para ele. O autor de tal ato contra o celestial foi João, depois de conseguir fazer o que planejou, ele se aproximou de Natan, se abaixou e sussurrou:

- Meu nome é João... Você matou meu primo Anderson na frente da escola... Não vou deixar barato, vai morrer seu bastardo.

O garoto voltou para seu lugar na mesa onde almoçava. Natan pegou a bandeja, se levantou e pensou por um instante num meio de evitar uma confusão, mas o celestial era destemido e não conseguiu se conter, ele se aproximou de João, lhe deu um golpe com a bandeja na cabeça e o atacou com muitos socos. Os meninos que estavam próximos dos dois brigões, se afastaram para não se envolverem. João revidou e deu socos em Natan. Não demorou muito para os inspetores separarem os dois meninos e conter a briga. O Arcanjo estava ofegante e nervoso, João foi atingido por um soco no canto dos lábios e parte da bochecha. Sangue descia da sua boca.

Quando os meninos se acalmaram, Marcos se aproximou, sua expressão era séria e carregava um cassetete em umas das mãos.

- Quem começou a briga ? - Perguntou o inspetor para os meninos.

- Eu.- Respondeu Natan.

- O novato... Eu vou deixar claro que aqui vocês devem seguir as regras, caso contrário as consequências serão drásticas. Estamos entendidos?

- Sim senhor.- Falou João.

- Entendi.- Falou Natan.

- É Sim senhor seu animal.- Esbravejou o inspetor, agora encarando diretamente o Arcanjo.

- Me desculpe inspetor, mas o meu senhor está no céu.

Todos ali se espantaram com a resposta de Natan, inclusive Marcos que deu um leve sorriso de sarcasmo, era tudo que ele queria. Ele se virou para o celestial:

- Temos um espertinho aqui, pode ter certeza garoto que você vai comer o pão que o diabo amassou comigo.

Marcos foi rápido e desferiu um poderoso soco no rosto de Natan que caiu tonto no chão. Não contente, o inspetor com o cassetete na mão, começou a castigar o menino com muitas pancadas.

Depois de tanto apanhar e perder a consciência, o celestial foi levado para uma cela isolada e muita escura, conhecida como solitária.

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