Capítulo 3

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Cheguei em casa tirando meus sapatos e alongando os dedos. Uma cópia fiel do meu pai.

Sentei no sofá e alcancei meu notebook que estava na mesa de centro. Liguei o aparelho enquanto me levantei para procurar um disco do Elvis. Escolhi um deles e coloquei para tocar num aparelho antigo que havia ganhado dos meus pais enquanto busquei uma cerveja na geladeira.

Apoiei meus pés na mesinha e procurei na internet por Carter Nickson.

Milhares de fotos dele ainda adolescente pularam na tela. Sozinho, junto com os outros membros da banda, em shows, fugindo de paparazzi e com garotas. E então começaram a aparecer as fotos atuais. Os cabelos curtos, até uma certa calvície começando a surgir. Devia ser a morte para ele. Eu me lembrava bem do amor narcisista dele pelo cabelo. Hoje, tinha uma barriguinha protuberante e já era pai de uma criança bochechuda.

- Trinta e oito – sussurrei.

Elvis pedia love me tender no alto-falante enquanto eu via que a imagem de Carter era bem diferente da que eu tinha visto mais cedo.

- Que bizarro – falei encostando para trás tomando mais um gole da minha cerveja.

Olhei pra cima com os olhos pesados de sono e inchados por ter chorado mais cedo. Terminei o que tinha na minha garrafa e respirei fundo.

Apaguei.

Já tinha sol na sala quando senti o desconforto por ter pegado no sono no sofá. A jaqueta de couro marrom escura que eu estava usando era tão agarrada no meu braço que cortou a circulação do membro e eu estava toda amortecida. Resmunguei quando despertei e senti o corpo todo dolorido. Abri meus olhos e imediatamente arregalei os dois à medida que um grito agudo e desafinado saltava da minha garganta.

Carter Nickson estava no meio da minha sala de estar.

- O que é você? – Gritei. Mas meu telefone tocou ao mesmo tempo jogado do meu lado esquerdo do sofá.

Levei um susto olhando instintivamente para o aparelho e quando voltei a olhar para frente ele tinha sumido.

O toque do meu celular parou, mas um segundo depois voltou a se repetir me dando um segundo susto.

- Oi...

- Você tá bem?

- Eu...

- Sofia?

Esfreguei minha testa que estava um pouco suada, respirei fundo.

- Tô bem, acabei de acordar, só isso.

- Você tem dormido pouco.

- Eu sei, querido. Faz parte do meu trabalho.

- Eu sei, eu sei. Já ouvi isso tantas vezes...

Ele parecia um pouco irritado.

- E você? Está bem? – cortei antes que uma discussão se iniciasse.

- Tô bem. Queria saber se vamos almoçar juntos hoje, para variar um pouco.

- Nossa, quanto bom humor – respondi ironicamente, mas logo em seguida me arrependi. – Claro que vamos. Estou morrendo de saudades de você.

- Eu também estou. E queria aproveitar teu dia de folga com você.

- Você também conseguiu folga hoje?

- Sim, deixei um pessoal cuidando do escritório.

Meu coração deu um salto de alegria. Era muito raro Gabriel deixar o trabalho de lado para ficar sem fazer nada. Fala de mim o tempo todo, mas também é viciado em criar propagandas e slogans para coisas bobas e até mesmo geniais. A última campanha de absorvente que tinha feito ficou ótima, dei dicas incríveis de que mulher nenhuma sorri durante o período em questão e que era ridículo dormir de calça branca, mas ele me disse que era a liberdade poética.

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