Cheguei em casa tirando meus sapatos e alongando os dedos. Uma cópia fiel do meu pai.
Sentei no sofá e alcancei meu notebook que estava na mesa de centro. Liguei o aparelho enquanto me levantei para procurar um disco do Elvis. Escolhi um deles e coloquei para tocar num aparelho antigo que havia ganhado dos meus pais enquanto busquei uma cerveja na geladeira.
Apoiei meus pés na mesinha e procurei na internet por Carter Nickson.
Milhares de fotos dele ainda adolescente pularam na tela. Sozinho, junto com os outros membros da banda, em shows, fugindo de paparazzi e com garotas. E então começaram a aparecer as fotos atuais. Os cabelos curtos, até uma certa calvície começando a surgir. Devia ser a morte para ele. Eu me lembrava bem do amor narcisista dele pelo cabelo. Hoje, tinha uma barriguinha protuberante e já era pai de uma criança bochechuda.
- Trinta e oito – sussurrei.
Elvis pedia love me tender no alto-falante enquanto eu via que a imagem de Carter era bem diferente da que eu tinha visto mais cedo.
- Que bizarro – falei encostando para trás tomando mais um gole da minha cerveja.
Olhei pra cima com os olhos pesados de sono e inchados por ter chorado mais cedo. Terminei o que tinha na minha garrafa e respirei fundo.
Apaguei.
Já tinha sol na sala quando senti o desconforto por ter pegado no sono no sofá. A jaqueta de couro marrom escura que eu estava usando era tão agarrada no meu braço que cortou a circulação do membro e eu estava toda amortecida. Resmunguei quando despertei e senti o corpo todo dolorido. Abri meus olhos e imediatamente arregalei os dois à medida que um grito agudo e desafinado saltava da minha garganta.
Carter Nickson estava no meio da minha sala de estar.
- O que é você? – Gritei. Mas meu telefone tocou ao mesmo tempo jogado do meu lado esquerdo do sofá.
Levei um susto olhando instintivamente para o aparelho e quando voltei a olhar para frente ele tinha sumido.
O toque do meu celular parou, mas um segundo depois voltou a se repetir me dando um segundo susto.
- Oi...
- Você tá bem?
- Eu...
- Sofia?
Esfreguei minha testa que estava um pouco suada, respirei fundo.
- Tô bem, acabei de acordar, só isso.
- Você tem dormido pouco.
- Eu sei, querido. Faz parte do meu trabalho.
- Eu sei, eu sei. Já ouvi isso tantas vezes...
Ele parecia um pouco irritado.
- E você? Está bem? – cortei antes que uma discussão se iniciasse.
- Tô bem. Queria saber se vamos almoçar juntos hoje, para variar um pouco.
- Nossa, quanto bom humor – respondi ironicamente, mas logo em seguida me arrependi. – Claro que vamos. Estou morrendo de saudades de você.
- Eu também estou. E queria aproveitar teu dia de folga com você.
- Você também conseguiu folga hoje?
- Sim, deixei um pessoal cuidando do escritório.
Meu coração deu um salto de alegria. Era muito raro Gabriel deixar o trabalho de lado para ficar sem fazer nada. Fala de mim o tempo todo, mas também é viciado em criar propagandas e slogans para coisas bobas e até mesmo geniais. A última campanha de absorvente que tinha feito ficou ótima, dei dicas incríveis de que mulher nenhuma sorri durante o período em questão e que era ridículo dormir de calça branca, mas ele me disse que era a liberdade poética.
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Alucinante
RomanceSofia sempre nutriu amores platônicos por astros do rock. Alucinar com um deles parecia um sonho até virar um pesadelo em potencial. Uma história que, dadas as condições, deve ser interpretada com a devida liberdade poética. TODOS OS DIREITOS RESERV...