Mandei uma mensagem para Olivia e ela não demorou mais do que cinco minutos para nos encontrar numa das salas de descanso.
O envelope parecia gigantesco diante de mim e o peso dele era muito, muito grande para que eu pudesse segurá-lo e ficar de pé ao mesmo tempo, então sentei. Fechei os olhos e rezei para estar tudo bem.
O chão desapareceu sob meus pés assim como o sol que aparecia pela janela. Sumiu a cadeira que eu estava sentada, a sala em que eu estava, inclusive meus dois amigos que me olhavam aflitos.
Uma nuvem negra envolveu meu corpo e ficou tudo escuro. Mas as letras da palavra que eu li pareciam que tinham o poder de brilhar no escuro num letreiro luminoso imenso.
- Melanoma – falei mais para mim mesma que para eles. – Metástase no cérebro.
Olivia fechou os olhos enquanto apertava as unhas contra a palma da mão apertando os punhos com raiva. Critofer se aproximou e me olhou sem saber que atitude tomar.
Eu devia ter notado as manchas na pele. Mas cuidar da saúde de tanta gente, pode fazer você não ter muito tempo pra cuidadar da própria saúde.
Comecei a rir. Foi um som bem baixo no começo que começou a se espalhar pela sala até virar uma enorme e barulhenta gargalhada.
- Carter Nickson é um tumor!
Os dois estavam imóveis enquanto eu surtava, esperando o momento certo de recolher meus cacos assim que eu desabasse.
- Carter... esse desgraçado – apontei para minha alucinação começando a ficar séria até que o riso deu lugar ao choro.
Ninguém tentou me abraçar, mas deveriam, eu precisava de um abraço, qualquer coisa que me apertasse e me segurasse dentro de mim porque minha alma parecia querer sair do meu corpo, desesperadamente.
- Eu vou morrer – falei sem drama ou desespero.
- Sofia! – Olivia me repreendeu.
- Quais as chances? – olhei para ela ao responder.
A cara de Cristofer entregava que o pensamento dele era o mesmo que o meu. Ele nunca tinha sido o tipo de pessoa esperançosa, e sim realista. Acreditava nas estatísticas e, nesse caso, eu estava bem ferrada.
- O que eu faço agora? – eles perceberam que os últimos diálogos eram monólogos. Eu estava falando comigo mesma, mas mesmo assim, Cristofer respondeu.
- Tratamento.
Olhei para ele, depois pra janela e o sol parecia ter aparecido com força, tanto que me cegou. Fechei os olhos e respirei fundo antes de falar.
- Não sei se eu quero.
Antes que os dois tomassem fôlego para se manifestar, continuei.
- E também não sei mais se quero as opiniões de vocês. Nem as médicas, nem as pessoais.
Levantei sem esperar pela resposta da minha grosseria e saí pela porta.
Eu sabia que tinha sido extremamente grosseira e malvada, mas eu ia morrer mesmo, ninguém se zanga por muito tempo com pessoas que vão morrer. Não por benevolência, mas porque não vão mais ter que aturar, então é fácil perdoar. É o senso comum.
Andei pelos corredores como se eu estivesse em fuga. Não corri, mas andava tão rápido que nem distinguia os rostos que passavam por mim.
Só parei quando cheguei no meio do estacionamento, ofegante e suada. Tive que me curvar para frente e apoiar nos joelhos para me sustentar.
Hiperventilava e o coração batia muito rápido.
Sorvete.
Foi a primeira coisa que me veio à mente.
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Alucinante
RomanceSofia sempre nutriu amores platônicos por astros do rock. Alucinar com um deles parecia um sonho até virar um pesadelo em potencial. Uma história que, dadas as condições, deve ser interpretada com a devida liberdade poética. TODOS OS DIREITOS RESERV...