Capítulo 26

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A verdade é que quando me beijava, parecia me dopar com alguma droga bem potente, capaz de me deixar fazer o que ele quisesse. Momentos de lucidez passavam por minha mente como um relâmpago e eu tinha que acatar imediatamente, ou perdia o momento e me entregava. Completamente.

Hoje foi assim.

Simplesmente aceitei o que ele estava fazendo como se eu fosse o mar e ele a correnteza. E ele bem parecia o mar, que amanhece calmo num dia, mas em outro está agitado.

- O que estava ouvindo? – falou parando de me beijar para colocar uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

Mas que droga...

Permaneci de olhos fechados em protesto à pausa no nosso beijo.

Escutei o sorriso que eu amava se formando no seu rosto e fui obrigada a abrir os olhos para admirá-lo.

Eu tinha acertado. Estava parado com um sorriso de garoto no rosto, os olhos apertados por conta do sorriso.

- As músicas que você me emprestou – falei fazendo aspas com os dedos.

- E aí? – quis saber pegando no meu cabelo.

- Eu conheço a maioria, mas Fix You nunca tinha ouvido. Acho que ela está com grandes chances de se tornar a melhor delas.

- Que bom – falou dando de ombros, olhando para frente.

- Por quê? – eu perguntei rindo e enfiando a minha cara na frente da dele para que ele me olhasse de novo.

- Porque eu não gosto de dividir minha música favorita.

- Egoísta – ri me jogando nos braços dele que me aconchegou no seu colo.

Ele se apoiou nos braços esticados para trás e olhou para cima inspirando profundamente enquanto que, com a cabeça apoiada em suas pernas, eu via seu queixo e a copa das árvores.

- Eu não queria estar em nenhum lugar que não fosse aqui – falou olhando para cima.

- Jura? – meu coração inchou dentro do peito.

- Sim – endireitou a coluna e colocou uma mão no meu rosto, passando o dedão de leve pela minha bochecha.

Meus olhos encheram de lágrima. Foi tão sincero, e o toque dele me deixou ainda mais à flor da pele.

- Sabe – continuou – tem dias que a gente daria tudo para estar em outro lugar, estar longe. Agora, eu estou bem onde eu queria estar, bem aqui. Com você.

Fui obrigada a sair do conforto do seu colo e sentei para poder beijá-lo.

As mãos dele se enfiaram pelo meu cabelo com uma urgência nova para mim. Quase doía. Ele mal respirava. Parecia que se me soltasse, eu escaparia no ar e ele nunca mais  me recuperaria, como se eu fosse uma bexiga cheia de gás hélio prestes a voar.

- Alguma coisa. Em você – falou pausadamente ainda me beijando. – Me faz perder o bom senso – continuou.

- Espero que nunca encontre – respondi tomando fôlego.

Estava ficando muito frio, a umidade da grama já tinha atravessado a colcha que estávamos. Pude sentir quando ele me deitou nela e se debruçou sobre mim. Mas dessa vez, nenhum de nós dois tinha a intenção de parar. Ele estava sendo a minha maré e eu a dele. Nenhum dos dois no controle, mas mesmo assim, reféns um do outro. Sua mão fria encontrou minha pele por baixo da minha camiseta e blusa de lã. Me retraí com a sensação emitindo um gemido baixo. Os olhos dele encontraram os meus e eu queria poder engolir ele, ou estrangular, não sei.

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