Capítulo 20

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A manhã nasceu e eu acordei com o cheiro de café vindo da cozinha. Foi a primeira vez que levantei cedo.

Quando estava quase ao pé da escada, escutei meu pai falando.

- Temos que contar isso para ela. A rotina de exames...

E minha mãe concordou com ele.

- Olha só quem resolveu dar o ar da graça – meu pai falou baixando o jornal um pouco assustado.

- Bom dia, querida – minha mãe saudou enquanto comia uma fatia de bolo tentando parecer indiferente.

- Acordei com fome.

Pergunto sobre o que estavam falando?

- Então, venha comer.

Sentei morrendo de curiosidade.

- Já estamos de saída – minha mãe saiu atrás do meu pai, dando tapinhas nas minhas costas.

- Mas hoje é domingo! – protestei.

- Estamos indo visitar alguns fornecedores. Voltamos de tarde.

Permaneci sentada digerindo o que os dois estavam cochichando.

Imaginei a quantidade de coisas que eles poderiam estar escondendo de mim.

Balancei a cabeça para espantar o pensamento. Respirei fundo e tomei duas xícaras de café. Queria ler e precisava ficar atenta.

Já tinha lido quase que um livro inteiro e feito várias anotações quando senti meu estômago roncar.

- O grande problema de voltar a sentir fome é ter que fazer algo para comer – reclamei indo à cozinha.

Juntei a sobra da janta e fritei um ovo. Era o máximo que eu estava disposta a fazer.

Depois de limpar tudo, abri o congelador e vi o sorvete lá dentro. Peguei uma colherada e lembrei do Eduardo.

- Maldição...

Não consegui me concentrar mais durante o dia todo. Escutei algumas músicas, assisti um filme infantil, e limpei a casa. Pareceu uma eternidade. Os outros dias não estavam sendo assim.

A noite também não foi das melhores. Passei o tempo todo me perguntando sobre o que meus pais falavam durante a manhã e pensando no Eduardo.

***

Escutei um pássaro cantando e notei que já era manhã novamente.

- Eu preciso voltar a ser um ser humano normal com um emprego e uma vida cansativa, ou vou morrer – falei levantando da cama.

Olhei no relógio da parede da sala e notei que já eram dez e meia da manhã.

Será que eu virei um vegetal?

Sou médica, médicos não dormem!

- Preciso agir como um ser humano normal.

O tédio começou a se apoderar de mim. Seria um bom sinal? A melancolia que estava sentindo nos últimos dias não me permitia notar o tédio. Talvez fosse sim um bom sinal.

Uma hora depois, enchi minha cara de maquiagem para espantar o ar de doente e fui procurar um lugar para almoçar. Comer resto não estava mais me satisfazendo.

No fundo, no fundo, o que eu queria mesmo era sair de dentro de casa. E mais lá no fundo ainda eu queria aumentar a probabilidade de trombar com o Eduardo.

Olhei pro carro do meu pai estacionado na garagem e pensei umas duas vezes em entrar nele para seguir o plano de procurar um lugar legal pra almoçar. Mas minhas pernas ganharam vida própria e eu segui descendo o lado direito da rua a pé.

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