A manhã nasceu e eu acordei com o cheiro de café vindo da cozinha. Foi a primeira vez que levantei cedo.
Quando estava quase ao pé da escada, escutei meu pai falando.
- Temos que contar isso para ela. A rotina de exames...
E minha mãe concordou com ele.
- Olha só quem resolveu dar o ar da graça – meu pai falou baixando o jornal um pouco assustado.
- Bom dia, querida – minha mãe saudou enquanto comia uma fatia de bolo tentando parecer indiferente.
- Acordei com fome.
Pergunto sobre o que estavam falando?
- Então, venha comer.
Sentei morrendo de curiosidade.
- Já estamos de saída – minha mãe saiu atrás do meu pai, dando tapinhas nas minhas costas.
- Mas hoje é domingo! – protestei.
- Estamos indo visitar alguns fornecedores. Voltamos de tarde.
Permaneci sentada digerindo o que os dois estavam cochichando.
Imaginei a quantidade de coisas que eles poderiam estar escondendo de mim.
Balancei a cabeça para espantar o pensamento. Respirei fundo e tomei duas xícaras de café. Queria ler e precisava ficar atenta.
Já tinha lido quase que um livro inteiro e feito várias anotações quando senti meu estômago roncar.
- O grande problema de voltar a sentir fome é ter que fazer algo para comer – reclamei indo à cozinha.
Juntei a sobra da janta e fritei um ovo. Era o máximo que eu estava disposta a fazer.
Depois de limpar tudo, abri o congelador e vi o sorvete lá dentro. Peguei uma colherada e lembrei do Eduardo.
- Maldição...
Não consegui me concentrar mais durante o dia todo. Escutei algumas músicas, assisti um filme infantil, e limpei a casa. Pareceu uma eternidade. Os outros dias não estavam sendo assim.
A noite também não foi das melhores. Passei o tempo todo me perguntando sobre o que meus pais falavam durante a manhã e pensando no Eduardo.
***
Escutei um pássaro cantando e notei que já era manhã novamente.
- Eu preciso voltar a ser um ser humano normal com um emprego e uma vida cansativa, ou vou morrer – falei levantando da cama.
Olhei no relógio da parede da sala e notei que já eram dez e meia da manhã.
Será que eu virei um vegetal?
Sou médica, médicos não dormem!
- Preciso agir como um ser humano normal.
O tédio começou a se apoderar de mim. Seria um bom sinal? A melancolia que estava sentindo nos últimos dias não me permitia notar o tédio. Talvez fosse sim um bom sinal.
Uma hora depois, enchi minha cara de maquiagem para espantar o ar de doente e fui procurar um lugar para almoçar. Comer resto não estava mais me satisfazendo.
No fundo, no fundo, o que eu queria mesmo era sair de dentro de casa. E mais lá no fundo ainda eu queria aumentar a probabilidade de trombar com o Eduardo.
Olhei pro carro do meu pai estacionado na garagem e pensei umas duas vezes em entrar nele para seguir o plano de procurar um lugar legal pra almoçar. Mas minhas pernas ganharam vida própria e eu segui descendo o lado direito da rua a pé.
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Alucinante
RomanceSofia sempre nutriu amores platônicos por astros do rock. Alucinar com um deles parecia um sonho até virar um pesadelo em potencial. Uma história que, dadas as condições, deve ser interpretada com a devida liberdade poética. TODOS OS DIREITOS RESERV...