- Oi? - minha mãe falou se aproximando de mim quando abri meus olhos.
- Oi... - disse despertando. Minha cabeça estava pesada, e apesar de não estar doendo tanto, estava muito desconfortável.
- Como se sente?
- Um pouco tonta.
- Seu café já chegou. Consegue comer?
- Acho que sim - falei me endireitando um pouco na cama que já estava com boa parte elevada nas costas.
- Vou chamar alguém para te ajudar a ficar mais confortável.
Ao contrário dos outros, eu adorava a gelatina do hospital. Sempre que possível, roubava uma e comia escondida. Coisa que agora, meu cérebro talvez não lembrasse.
Depois que me sentei direito na cama, alcancei a gelatina que estava na bandeja à minha frente com a mão dolorida por causa do acesso do soro. Resmunguei de dor e alternei a mão, deixando a dolorida quieta.
Saboreei a gelatina. Nada. Nenhuma lembrança.
- Mãe - falei colocando o pote de gelatina novamente na bandeja.
- Sim?
- Quanto eu esqueci?
Ela olhou para mim com ternura. Eu já sabia que a resposta não era boa.
- Bom, alguns anos.
- Anos? - me assustei.
- Eu sinto muito.
Fechei os olhos e tentei me acalmar. Surtar de novo não ia adiantar nada.
- Preciso saber quem eu sou.
- Eu sei, querida - respondeu com pesar.
- Quantos anos eu tenho, o que eu tenho feito... estou com medo de me olhar no espelho.
Segurou minha mão e parou por um tempo, me avaliando.
- Você ainda é minha menina linda.
Sorri em resposta, mesmo com uma vontade esmagadora de chorar me corroendo o peito.
- Tudo bem, mas eu preciso ir ao banheiro também - falei ao me levantar com certa dificuldade da cama.
Entrei no banheiro com medo do espelho. Então, não me dirigi a ele. Terminei rapidamente e voltei para a cama.
- Onde paramos?
- Está tudo bem? - minha mãe quis saber, certamente com medo da minha reação diante do espelho.
- Não olhei para o espelho, mãe. Uma coisa de cada vez.
Suspirou um pouco decepcionada e tentando manter a calma. Então tomou fôlego e começou a falar. Contou minha idade, o que me deixou um pouco em choque, mas não tanto quanto a próxima informação.
- Você já é uma médica. Neurologista.
- Sou? - eu estava feliz de saber, mas ao mesmo tempo com ódio mortal de não me lembrar de uma coisa tão importante.
- Sim - respondeu sorrindo.
- E Cristofer?
- Achei que nunca fosse perguntar - falou aliviada. - Ele também.
- Sério? - perguntei antes que ela terminasse de falar.
- Sim, querida. Vocês dois trabalham aqui.
- Não acredito - parei por um segundo avaliando a situação. - Por isso tantas pessoas me conhecem pelo nome... Meu deus - sussurrei. - E onde ele está?
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Alucinante
RomanceSofia sempre nutriu amores platônicos por astros do rock. Alucinar com um deles parecia um sonho até virar um pesadelo em potencial. Uma história que, dadas as condições, deve ser interpretada com a devida liberdade poética. TODOS OS DIREITOS RESERV...