- The Odds?
- Não! - respondi subitamente, deixando Jéssica assustada. - Prefiro começar em silêncio, ok?
- Claro - seus grandes olhos castanhos piscaram algumas vezes.
Já havia passado dois meses desde que eu tinha descoberto a verdade sobre Heaven. Era minha primeira cirurgia, finalmente. Fazia o mesmo tanto de tempo que eu não escutava nenhuma música deles. Não assistia nada ou falava a respeito. Não podia sequer considerar a possibilidade de escutá-los durante uma cirurgia, ainda mais a primeira depois de tanto tempo.
Dois meses também era o tanto de tempo que Heaven havia falado comigo a última vez. Acatou meu pedido, na verdade ordem, de que nunca mais me procurasse. A minha sorte era não ter meio nenhum de contato com ele, caso contrário, talvez eu mesma fraquejasse tentando encontrá-lo. Tudo o que eu mais queria é que ele realmente fosse um amigo meu da época de escola, o entregador de pizza, o cirurgião da cardiologia, ou até mesmo fruto da minha imaginação. Então não haveria um monte de mentiras e tanta raiva dentro de mim.
- Como foi? - Olívia quis saber entusiasmada enquanto nos trocávamos para ir para casa.
- Uau. Foi maravilhoso - falei firmando minha vista cansada. - Estou exausta. Dores nas costas, nos tornozelos e meus olhos estão me matando. Mas correu tudo bem.
- Bem-vinda de volta - sorriu.
Suspirei aliviada.
- Estamos saindo para beber alguma coisa. Cristofer não vai, pra variar. Vai ficar com a Sofia. E você? Vamos?
- Nem pensar. Também vou ficar com a Sofia, que no caso sou eu mesma. Não tenho condições de sair hoje.
- Velha.
- Que seja - ri.
Cheguei em casa por inércia. Minhas pernas estavam tensas, tremendo um pouco de estafa.
Os carros estranhos que me vigiavam foram ficando escassos. Heaven sumiu, eles também.
Quando fiquei de frente para a varanda, vi que havia uma caixa no chão.
- Ah, meu Deus - suspirei.
Olhei para os lados com medo de alguém estar por perto. Da última vez que Heaven entrou, se aproveitou da minha distração enquanto o portão eletrônico se fechava, provavelmente, para entrar e me pegar de surpresa.
- Como essa porcaria veio parar na porta da minha casa?
Peguei a caixa pequena e entrei. Acendi a luz jogando a bolsa sobre o sofá, como de costume, enquanto arrancava os sapatos. Sentei no outro sofá e olhei com cuidado a embalagem. Era retangular de couro preto texturizado, sem remetente, mas com meu nome bordado na parte superior. Letras mais claras num tom cinza estampavam meu nome.
Abri a caixa curiosa para saber o conteúdo. Lá dentro, um envelope preto e mais nada. Peguei o envelope e deixei a caixa de lado. Nele não havia nada escrito. Puxei o que tinha dentro dele na abertura lateral e não fiquei surpresa com o que vi. Um convite dourado de um show do The Odds.
- Pfff... - bufei revirando os olhos.
Eles estavam para tocar na cidade? Eu nem tinha escutado nada a respeito. A turnê já tinha chegado ao fim.
- Até parece - falei me levantando e deixando o papel sobre o sofá.
Subi me arrastando para o quarto, satisfeita com o cansaço. A velha Sofia estava de volta.
***
Escutei ele me chamando. Estava longe, mas eu pude ouvir. Abri meus olhos e mesmo no escuro, reconheci a silhueta dele que estava parado sob o batente da porta.
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Alucinante
RomanceSofia sempre nutriu amores platônicos por astros do rock. Alucinar com um deles parecia um sonho até virar um pesadelo em potencial. Uma história que, dadas as condições, deve ser interpretada com a devida liberdade poética. TODOS OS DIREITOS RESERV...