Meu olho quase não abriu na manhã seguinte. Estavam inchados por ter chorado boa parte da noite.
Fiz um café forte, sem açúcar, para acordar, e tomei um banho não muito quente. Queria conseguir trabalhar, precisava estar desperta.
Coloquei os óculos mais escuros que eu tinha para sair, estava certa de que minha cabeça ainda iria doer, a sensibilidade nos meus olhos provava isso.
De pé na varanda, notei que a rua tinha mais carros do que de costume. Minha rua num bairro tranqüilo não era ponto de parada de muitos carros, a não ser em dia de festa na casa de algum vizinho.
Uma pessoa saiu do carro segurando uma máquina quando eu caminhei para o meu carro ainda dentro da garagem. Mais um homem surgiu também segurando uma máquina.
- Que ódio! - falei quando bati a porta do carro com certa força, agarrada ao volante.
Os caras meio que montaram um acampamento na minha rua, esperando ver Heaven. Não é todo dia que um astro da música se enfia numa casa de subúrbio. Mas eles não iam ter muito o que ver lá. Nos raros momentos que eu estava em casa, certamente, não teria mais visitas de Heaven. Com certeza ele nunca mais apareceria. Fato que me deu uma pontada no peito. Eu queria poder dar uma esbofeteada na cara dele.
Balancei a cabeça me livrando dos pensamentos envolvendo ele para me comprometer com o que de fato importava: meu trabalho.
***
- Não acredito que tinha gente de tocaia na sua porta de casa - Olívia falou e depois sugou o suco pelo canudo com força.
- Isso não faz sentido nenhum - Cristofer continuou depois que contamos para ele tudo que tinha acontecido.
- Eu estou furiosa. Queria matar alguém - confessei.
- Você pensou que estava doente de novo por causa desse cara - Cristofer ainda estava impressionado. - Eu não sei você, mas se ele aparecer na minha frente, eu quebro a cara dele.
- Isso não vai acontecer, Cristofer - assegurei terminando de tomar uma coca para me manter acordada. Me recostei no sofá da sala de descanso e suspirei. - Não agüento mais ficar sem fazer cirurgias. Se eu quisesse ser babá de paciente, tinha feito enfermagem.
- Maldosa - Olívia falou irônica.
- Por falar em cirurgia, eu tenho que ir - Cristofer anunciou.
- Também vou indo - Olívia se levantou arremessando o copo vazio no lixo.
- Isso. Vivam suas vidas enquanto eu fico jogada pelos cantos desse hospital.
Estava vagando pelo corredor que parecia especialmente calmo. Vi Jéssica fazendo um prontuário, me distraí prestando atenção no que ela fazia quando senti alguém segurar no meu braço. Não foi com força, mas envolveu todo meu antebraço e eu me virei calmamente para ver.
Os olhos arregalados de um tom esverdeado inconfundível me focaram.
- O que você está fazendo aqui? - soltei um pouco mais alto do que pretendia.
- Shiu... - ele respondeu com os olhos verdes ainda mais arregalados.
- Não faz shiu pra mim! Você está louco? - falei mais baixo. - Sai de perto de mim. Não quero ver sua cara.
- Preciso falar com você.
- Vai pro inferno - comecei a andar novamente, mas ele me segurou.
- Por favor - implorou.
Ainda contrariada, puxei ele para dentro de uma sala de suprimentos com certa grosseria. Tranquei a porta logo em seguida.
- O que você está fazendo nessa área? Como você entrou aqui?
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Alucinante
RomansaSofia sempre nutriu amores platônicos por astros do rock. Alucinar com um deles parecia um sonho até virar um pesadelo em potencial. Uma história que, dadas as condições, deve ser interpretada com a devida liberdade poética. TODOS OS DIREITOS RESERV...