Capítulo 30

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- Por favor - implorou mais uma vez e eu assenti com a cabeça, andando devagar dessa vez, para que ele me acompanhasse.

Andamos lado a lado pela rua escura e molhada enquanto os pingos de chuva iam ensopando cada vez mais nossas roupas.

- O que está fazendo? - perguntou quando comecei a escalar.

- Entrando em casa.

- Pela parede?

- Saí pela janela e vou entrar pela janela. Não é como se você não tivesse acostumado.

Ele Ficou quieto e me seguiu. Me ajudou a subir me empurrando para cima pelas minhas pernas.

A janela estava aberta e o quarto tinha boa parte do chão molhado, mas não faria diferença, já que da minha roupa escorria muita água, deixando-o com pequenas poças.

Ele entrou logo em seguida e ficou parado de frente para mim, em silêncio, e então desviou o olhar para a minha mão.

- Você tem que fazer um curativo nisso. Se machucou descendo pela parede, não foi? - olhava a palma da minha mão com atenção.

Fiz que sim com a cabeça. O som da água pingando do meu cabelo e indo diretamente para o carpete encharcado parecia um mantra.

- Tem alguma coisa aqui para a gente limpar o machucado?

Fui até a minha cômoda e abri uma gaveta que tinha uma caixa de remédio e de primeiros socorros. Peguei a caixa e entreguei para ele, ainda em silêncio.

Ele pegou meu pulso com delicadeza e então estudou a palma da minha mão.

- Está limpo. A chuva já lavou para você - falou enquanto avaliava a profundidade do corte. - Mas parece que foi fundo. Tá doendo? - quis saber quando passou antisséptico, mas eu gemi de forma sibilada e ele sabia a resposta.

Esperou que o líquido secasse e então enrolou um esparadrapo que envolveu minha pele, apenas a palma e as costas da mão.

Ele estava sério, com um olhar de preocupação e de medo, mas eu continuei em silêncio. Não queria mais falar.

Permanecemos de pé e ensopando o chão do meu quarto quando ele resolveu falar mais uma vez.

- Você tem que tirar essa roupa molhada, Sofia. Seus lábios já estão roxos.

Não me movi. Respirei fundo e continuei meu ritual silencioso.

- Quer que eu saia pra você poder se trocar? - perguntou ansiando por uma resposta, mas eu continuei imóvel.

Escutei que o ar saiu pesado de seus lábios, como se ele tivesse tentando disfarçar o desejo de bufar indignado. Passou a mão pelos seus cabelos presos e se aproximou de mim com cautela, como se eu fosse uma bomba prestes a explodir.

Colocou meu cabelo que pendia sobre os ombros para trás, e abriu os botões do meu casaco. Não mexi um músculo. Queria bater nele e mandar ele sair de perto de mim, mas queria puxar os cabelos dele por outros motivos também.

Segurou a lapela do casaco pesado de lã, de frente para mim, e foi descendo ele pelos meus dois braços até que ele caísse no chão.

Olhou para mim novamente e mais uma vez mexeu nos meus cabelos, uma mecha estava colada na minha bochecha, então ele a ajeitou me contornando e ficando atrás de mim, empurrando o casaco que estava no chão para longe. Senti quando os dedos gelados dele tocaram minha nuca no topo do zíper do meu vestido.

Ele ia tirar meu vestido.

Eu que já estava morrendo de frio, congelei.

Escutei o barulho do zíper se abrindo e senti minha pele toda arrepiar com a sensação dos dedos dele passando pela minha pele, mesmo que de relance.

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