Capítulo 9

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***

Esperamos Cristofer no bar ao lado do hospital. Olívia falava sem parar sobre coisas aleatórias. Estava nervosa.

Sabendo que a culpada era eu, tentei relevar o fato na tentativa de acalmar minha amiga. Falei sobre coisas bobas e de forma pausada para tentar diminuir o ritmo dela.

- Olá, meninas – Cristofer disse ao se sentar na nossa mesa.

- Graças a Deus – Olívia sussurrou aliviada e eu ri.

- Você tá bem, Sofia?

O olhar solidário de Cristofer fazia com que eu me sentisse abraçada. Sua nova paixão estava fazendo muito bem para ele.

- Estou bem. E queria falar com vocês dois.

- Ela vai me matar, Cristofer – Olívia desabafou. – Se você demorasse mais dez minutos, eu morreria de nervoso e curiosidade.

- Sinto muito, Olívia – falei aos risos. - Não pensei que ia te causar tanto nervoso. Eu queria apenas pedir desculpas a vocês por ter sido tão indelicada. E nem digam que está tudo bem, porque não há justificativa.

- A gente entende. Pode ser assim? – Cristofer quis saber.

- Pode. Assim está bem – concordei.

Os dois pareciam sensivelmente aliviados depois da tensão toda do dia anterior.

- Acharam a criança perdida? – eu quis saber.

- Ah! Sim! – Olívia falou após dar uma golada no drink colorido que bebia. – Uma mãe que perdeu a guarda da filha, ficou sabendo que ela estava fazendo exames no hospital e levou a menina.

- Meu Deus – me espantei.

- Não conseguiram sair a tempo de dentro do hospital, mas se esconderam bem, por isso demoraram tanto tempo para encontrar – disse se levantando. – Eu vou ao banheiro, não comecem sem mim.

Se afastou depressa enquanto eu ria do comportamento dela.

- Fui ao café da sua namoradinha – pisquei para Cristofer.

- Namoradinha... – pareceu envergonhado.

- Quis dar uma abraço nela, mas ela ia pensar que sou maluca.

- Ela te conhece, Sofia.

- Conhece?

- Nos viu no dia que teus exames saíram... Enquanto a gente se abraçava.

- Ah, que bom. Ela me odeia

- Ficou com ciúmes sim.

- Porra...

- Mas eu expliquei para ela – fez uma cara desconfortável e triste por mencionar de forma indireta minha doença.

- E ela entendeu? Ninguém se zanga com alguém inocente no corredor da morte.

- Que brincadeira mórbida de mau gosto – se irritou.

Dei de ombros.

- Mas ela entendeu sim – seus olhos brilharam.

- Eu gosto dessa garota.

- Chega, Olívia está vindo.

Fiz como se tivesse selando meus lábios apertando-os até ficarem brancos.

- Ok – ela disse sem fôlego por ter andado muito rápido. – Vamos ao que interessa.

- Vou fazer o tratamento – os peguei desprevenidos.

- O quê? – Olívia largou o gole que dava em sua bebida no meio.

- Desconfiei – Cristofer falou com um sorriso meio safado. Ele tinha entendido meu recado sem eu nem mesmo ter falado nada no outro dia durante a cirurgia que ele fazia.

Olívia me olhava feliz.

- Algo me disse que eu precisava fazer. Pelo menos tentar... – olhei em volta, mas nem Carter ou Heaven estavam por perto.

Incrível, mas só o fato de mencionar o tratamento fez com que os dois sumissem. Pelo menos aparentemente.

- Mas... – continuei.

- Mas??? – os dois entoaram num uníssono e riram.

- Antes de começar, quero ir a um show do The Odds.

Os dois se entreolharam com desconforto.

- Mais um? – Cristofer comentou rapidamente.

- Sim, mais um. Eu sei que pode ser a última vez que eu vou, então quero aproveitar como se fosse a última vez.

- Mas eles não têm shows por aqui, têm?

- Não – confirmei.

O olhar de dúvida deles me fazia querer rir.

- Mas nós vamos até uma cidade que vai ter.

- Vamos? – Cristofer indagou.

- Já comprei as passagens e os ingressos.

- Sofia - Olívia falou abismada.

- Qual é?

- Sofia... – Cristofer resmungou.

- É aqui ao lado... num país ao lado - consertei.

- País? – Olívia voltou a ficar ofegante.

- Eles não têm nada marcado para cá, então...

- Meu Deus – Cristofer soltou antes de dar uma golada considerável em sua bebida.

- Vocês vão negar isso pra uma amiga que vai morrer? – ri da minha maldade.

- Se falar isso mais uma vez, eu juro por Deus que te bato – Olívia me alertou.

- Quando a gente vai? – Cristofer quis saber.

Então eu sabia que meu plano tinha dado certo. 

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