Capítulo 27

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Ao me levantar pela manhã, dei de cara com a foto de Gabriel que eu tinha deixado grudada no espelho da minha penteadeira. Deixei ele num lugar bem visível, para forçar a memória.

Não foi só a foto dele que eu deixei num local estratégico, o aparelho com músicas que eu tinha ganhado recentemente também estava sobre a penteadeira. Dois dias já tinham se passado sem que eu tivesse notícias de Eduardo. Pensei nele exaustivamente e não conseguia mais suportar ficar sem vê-lo. Passei pelos dois intermináveis dias graças à seleção de músicas que ele havia feito.

Já era de tarde e eu estava me trocando para ir até a casa dele quando escutei um barulho na janela.

Um alívio reconfortante passou por mim quando eu vi Eduardo parado lá embaixo. Os olhos um pouco cansados, mas cheios de vida como costumavam ser.

- Você abriu - falou surpreso.

- Abri.

- Achei que estivesse me evitando e, sinceramente, - coçou a nuca - não pensei que você fosse me receber.

- Vem - pedi debruçada na janela.

Ele não demorou para escalar até meu quarto.

- Oi - falou quando entrou.

Sorri para ele, era bom ver aquele rosto.

- Você podia ter batido na porta.

- Você está bem? - ignorou meu comentário.

- Estou - resolvi manter minha mais nova descoberta em segredo.

Seu olhar foi de pesar. Devia estar óbvio que eu escondia algo.

Ele se encostou no parapeito e cruzou os braços, não estava com uma expressão muito tranqüila.

- Que bom que está bem - pareceu falar da boca pra fora.

- E você? Está bem?

- Ótimo - ironizou.

Suspirei.

A conversa estava tensa. A atmosfera entre nós dois, horrível.

- Desculpa, Eduardo - baixei o olhar - eu estou um pouco...

Não pude terminar.

- Quem é esse cara? - falou se aproximando da foto no espelho da penteadeira.

- Bom - parei sem intenção de continuar.

- Não vai me dizer? - pareceu magoado.

- Eduardo - supliquei.

- Está bem - falou balançando a cabeça infinitamente triste. - Desculpe por ter parecido grosseiro - as mãos caminhavam pelos cabelos exasperadas. - Fui indelicado com você. Não sei o que deu em mim. Sofia - suplicou com os olhos. - Eu não devia ter vindo, me perode - confessou voltando para a janela, a voz era um murmúrio.

- Não! - falei mais alto do que pretendia.

- Eu preciso ir, Sofia - falou colocando uma das pernas para fora.

- Não vá! - pedi agarrando as costas de sua blusa, quase chorando e então ele parou pesaroso encarando o chão. - Por favor. Fique.

Ele respirou fundo e voltou a outra perna para dentro do cômodo. Quando ele estava de pé e novamente em equilíbrio, o abracei instintivamente. O corpo dele se contraiu em susto, mas as mãos dele me apertaram espalmadas nas minhas costas.

Comecei a chorar.

- Sofia? - falou abafadamente por entre os meus cabelos. - Eu sou um estúpido, me perdoa, por favor.

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