- Como você passou a noite? - quis saber.
Estávamos deitados em sentindo oposto na manta que ele tinha levado mais uma vez. Nossas cabeças estavam lado a lado.
- Dormi bem depois de duas noites mal dormidas - virei para ele.
- Eu tenho esse efeito sonífero - riu.
- Nem sempre - falei como se fosse uma confissão. Muitas vezes ele acordava cada célula do meu ser.
Ele sorriu e voltou a encarar o céu.
- É estranho.
- O que é estranho?
- Isso - apontei de mim para ele repetidas vezes.
- Nós dois?
- Sim. Nós dois. Somos dois estranhos que têm uma afinidade incrível.
- É verdade - ele sorria com os olhos espremidos por causa da claridade. O dia estava bem frio, mas o céu era de um azul intenso e claro.
- Stay up all night... lara ra... Stay up all night uhum uuhuumm... - cantarolei quando ficamos em silêncio.
- O que é isso que você fica cantando o tempo todo?
- Não faço a mínima - encarei o céu azul. - Está presa na minha cabeça, desde ontem. Não tenho idéia de onde possa ter vindo. Com certeza alguma música, mas não sei de onde veio.
- Você sabe o que dizem sobre os refrões de música empacados na cabeça, não sabe?
- Apesar de ser médica neurologista, não sei.
Ele riu antes de continuar.
- Aparentemente, é sinal de que você tem algo te atormentando a mente e quer esquecer.
- Esquecer? - eu ri olhando para ele. - Mais ainda?
- Sofia - ele me repreendeu rindo também. - Você não existe.
- Existo sim. E estou bem aqui - me virei para ele apoiada no cotovelo, minha mão escorando a cabeça
- Às vezes parece mentira.
- Quer que eu te belisque? - perguntei rindo.
Ele sorriu e se aprontou para me beijar quando eu me lembrei de um fato importante.
- Ah! - me sentei. - Não te falei. Para variar - fitei o céu revirando os olhos - esqueci de te contar.
- O quê?
- Semana que vem, sábado, é meu aniversário e meus pais querem fazer uma comemoração na floricultura. Você está convidado.
Senti que algo mudou em seu olhar. Começou a mexer nos cabelos e disse que sim.
- Esse sim, significou sim mesmo? - meu olhar de confusão era óbvio.
- Sim! - repetiu se sentando para me dar um beijo.
- Meus pais - interrompi o beijo que ele me dava - estão doidos para te conhecer.
- Sério?
- Sim. Minha mãe acha que você é uma companhia que me faz bem. Sabe como são as mães.
- Sei sim. E se ela soubesse das minhas intenções...
Sorri para ele imaginando o que se passava naquela cabeça, porque na minha... na minha passava bastante coisa. Mentalmente a gente devia se encontrar com freqüência. Ao vivo era mais complexo. Sempre no lago, que era um lugar remoto, mas ainda assim, público. E no meu quarto, que tinha a complexidade de um quarto de uma adolescente, com probabilidade de pais entrando e tudo.
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Alucinante
RomanceSofia sempre nutriu amores platônicos por astros do rock. Alucinar com um deles parecia um sonho até virar um pesadelo em potencial. Uma história que, dadas as condições, deve ser interpretada com a devida liberdade poética. TODOS OS DIREITOS RESERV...