Capítulo 28

44 7 0
                                    

- Como você passou a noite? - quis saber.

Estávamos deitados em sentindo oposto na manta que ele tinha levado mais uma vez. Nossas cabeças estavam lado a lado.

- Dormi bem depois de duas noites mal dormidas - virei para ele.

- Eu tenho esse efeito sonífero - riu.

- Nem sempre - falei como se fosse uma confissão. Muitas vezes ele acordava cada célula do meu ser.

Ele sorriu e voltou a encarar o céu.

- É estranho.

- O que é estranho?

- Isso - apontei de mim para ele repetidas vezes.

- Nós dois?

- Sim. Nós dois. Somos dois estranhos que têm uma afinidade incrível.

- É verdade - ele sorria com os olhos espremidos por causa da claridade. O dia estava bem frio, mas o céu era de um azul intenso e claro.

- Stay up all night... lara ra... Stay up all night uhum uuhuumm... - cantarolei quando ficamos em silêncio.

- O que é isso que você fica cantando o tempo todo?

- Não faço a mínima - encarei o céu azul. - Está presa na minha cabeça, desde ontem. Não tenho idéia de onde possa ter vindo. Com certeza alguma música, mas não sei de onde veio.

- Você sabe o que dizem sobre os refrões de música empacados na cabeça, não sabe?

- Apesar de ser médica neurologista, não sei.

Ele riu antes de continuar.

- Aparentemente, é sinal de que você tem algo te atormentando a mente e quer esquecer.

- Esquecer? - eu ri olhando para ele. - Mais ainda?

- Sofia - ele me repreendeu rindo também. - Você não existe.

- Existo sim. E estou bem aqui - me virei para ele apoiada no cotovelo, minha mão escorando a cabeça

- Às vezes parece mentira.

- Quer que eu te belisque? - perguntei rindo.

Ele sorriu e se aprontou para me beijar quando eu me lembrei de um fato importante.

- Ah! - me sentei. - Não te falei. Para variar - fitei o céu revirando os olhos - esqueci de te contar.

- O quê?

- Semana que vem, sábado, é meu aniversário e meus pais querem fazer uma comemoração na floricultura. Você está convidado.

Senti que algo mudou em seu olhar. Começou a mexer nos cabelos e disse que sim.

- Esse sim, significou sim mesmo? - meu olhar de confusão era óbvio.

- Sim! - repetiu se sentando para me dar um beijo.

- Meus pais - interrompi o beijo que ele me dava - estão doidos para te conhecer.

- Sério?

- Sim. Minha mãe acha que você é uma companhia que me faz bem. Sabe como são as mães.

- Sei sim. E se ela soubesse das minhas intenções...

Sorri para ele imaginando o que se passava naquela cabeça, porque na minha... na minha passava bastante coisa. Mentalmente a gente devia se encontrar com freqüência. Ao vivo era mais complexo. Sempre no lago, que era um lugar remoto, mas ainda assim, público. E no meu quarto, que tinha a complexidade de um quarto de uma adolescente, com probabilidade de pais entrando e tudo.

AlucinanteOnde histórias criam vida. Descubra agora