Capítulo 2

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Entro na sala devagar em direção a meu quarto. Chego na porta do quarto e quando abro para entrar meu irmão fala.

- CHARLIE... Onde você estava? - Paralizo na porta e me viro devagar.

- Estava dando uma volta no bosque, Vossa Majestade. - falo em tom de ironia.

- Até onde lembro eu proibi você de sair sem me pedir autorização. Ou já esqueceu? - falava ele enquanto se aproximava de mim.

- Até onde sei eu já sou bem grandinho para decidir onde devo ir e... - me interrompe.

- Acontece que eu sou o Rei, e seu irmão mais velho, e o único responsável por você aqui, logo deve me obedecer sim. - dizia já em tom alterado. - Já tivemos essa conversa antes e espero não tê-la novamente. Ou você quer ficar trancado a chaves ai dentro?

- Você não faria isso. - disse abaixando a cabeça. Porque tão insensível?

- Não só faria como teria o prazer de ver sua cara quando fosse te trancar. - disse ele com deboche. - E a propósito... você irá jantar no seu quarto hoje. - saiu após falar.

Entro no quarto e limpo os olhos que estavam marejados. Como ele conseguia ser tão cruel? E porque ele fazia isso? Somos sangue do mesmo sangue, deveríamos nos dar bem. Ou ter algum tipo de afeto. Tolo ele em pensar que eu acharei ruim não descer pra jantar. Só em não ter de estar no mesmo lugar que ele já era uma grande vitória.

Sorte que ele não viu o tecido enrolado em minha mão. Saberia que teria visto alguém, pois não temos esses tecidos aqui. Olho para minha mão e lembro do Henrique.

- Porque não posso ter uma família que se importe comigo da forma que ele se importou? - penso em voz alta.

• Dois anos atrás.

- Eu falei pra tomar mais cuidado com esses seus treinamentos, você pode acabar se machucando mais gravemente, meu filho. - dizia minha mãe enquanto passava algodão com água banhada em ervas no corte em meu braço.

- Faz parte do treinamento mãe. Um dia serei como o Pai. Forte e Guerreiro. - dizia lembrando de meu pai.

- Você será filho, mas toma mais cuidado. - disse ela segurando em meu rosto.

- Porque essa preocupação toda com ele? Charlie deve aprender como nós todos aprendemos, se ferindo. - falava Ethan do outro lado da sala.

- Seu irmão é mais novo, devem ir devagar com ele. Poderia ter sido algo mais sério. - disse minha mãe.

- Bobagem, ele precisa mesmo é crescer como um homem.

- Eu sou um homem. - disse.

- HAHAHA. Um homem? Precisa aprender muito para se tornar um. - debochou.

- Não fala assim com seu irmão. Ainda sou sua mãe, rainha regente e exijo respeito. - fala minha mãe séria. Ela não precisava nem alterar a voz para que seus sermões fossem atendidos.

- Desculpa. - diz Ethan e se retira.

- Porque ele me odeia tanto? - pergunto um pouco triste.

- Ele não te odeia, Charlie. Só tem muita responsabilidade na cabeça dele. É novo ainda, precisa aprender a controlar os sentimentos e responsabilidades sem se perder no caminho. Quem sabe você não possa ajudar ele com isso.

- É quem sabe um dia...

• Presente

Era incrível o fato de minha mãe conseguir manter tudo em ordem aqui no castelo e no reino. Todos a adoravam. Sinto tanta falta dela.

Batem na porta do quarto me tirando de meus pensamentos.

- Alteza, o Rei Ethan ordena que se arrume para o jantar. Será servido em trinta minutos. - avisou um dos cavaleiros do castelo.

- Certo Sir, descerei em breve. - falo e ele se retira.

Achei que iria jantar aqui no quarto. Meu irmão é tão bipolar que chega a ser mais insuportável por isso.

Tiro o pedaço da capa que estava enrolada na minha mão e enrolo uma faixa. Visto outra roupa e desço até a sala de jantar. A mesa já estava pronta. Sento na primeira cadeira a esquerda. Em seguida o Duque Teodoro me cumprimenta e senta a direita. Demora alguns minutos para que o meu irmão sente-se conosco na ponta da mesa. O jantar é servido após ele chegar.

- Majestade, ouvi dizer que o Rei, do reino vizinho, que chegou a poucos dias tem uma irmã mais nova. - dizia o duque.

- Sim, eu soube. Deveríamos promover uma festa de recepção a eles. Afinal, os nossos reinos sempre foram muito unidos. E seria ótimo para a gente estreitar esses laços - disse Ethan.

- Sei que não é de minha conta, mas vossa majestade deveria encontrar uma rainha, o reino não pode ficar sem uma. Imagino que uma princesa do Reino vizinho seria perfeito. - após o duque falar, meu irmão fica pensativo.

- Tens razão, poderia abrir portas para que eu pudesse ter acesso aos dois Reinos. - disse ele levantando uma sobrancelha.

- Mas lá já tem um rei. - falei.

- E alguém lhe dirigiu a palavra ou lhe perguntou algo, Charlie? A propósito, só voltei atrás na decisão para informar que temos vizinhos novos e que espero que nessa festa você se comporte como o príncipe educado que nossa mãe fez questão de lhe ensinar. Não me envergonhe. - disse ele olhando para mim.

- Não se preocupe com isso, jamais lhe envergonharia - disse.

O jantar prosseguiu calmo. O duque e meu irmão falavam sobre negócios e a realização da festa. Meu irmão não tinha boas intensões com isso, eu sei disso, mas talvez uma esposa ajudasse a amolecer seu coração. Espero.

Após o jantar, tomei um banho e fui para meu quarto. Naquela noite por algum motivo eu sonhei com o Henrique. Acordei de madrugada sem entender o porque ele estava em meus sonhos já que havíamos nos encontrado uma única vez.

Eu deveria me arriscar e ir vê-lo no bosque? Ou seria melhor esquecer isso? Afinal meu irmão não iria gostar que eu fizesse amizades, ainda mais com camponeses. Fiquei ali com meus pensamentos até meus olhos pesarem e pudesse adormecer novamente.

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora