Capítulo 14

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No dia seguinte acordei bem cedo para preparar a leitura da tarde. Arthur ainda não havia levantado. Pedi a Antonela que deixasse o café pronto, que comeria quando ele acordasse.
Fui para biblioteca e separei alguns livros de lendas e contos da região. Iria animá-los com as histórias. Lembrei-me que o Henrique viria, e isso me deixou um pouco ansioso. Bastante ansioso, por sinal. 

- Bom Dia, Charlie. - disse Arthur abrindo a porta da biblioteca. 

- Olá, bom dia. Como foi sua noite? Dormiu bem? - respondo com várias perguntas o que o faz sorrir. 

- Sim, tudo ótimo... Você acordou cedo não é? - falou escorando a cabeça na porta e bocejando.
Nossa, ele ficou muito lindo quando fez isso. Estava com os olhos meio fechados, seu semblante era doce. Alguns traços lembravam um pouco os do irmão. Ele permaneceu em pé olhando para mim. 

- Se continuar me olhando assim ficarei com muita vergonha. - disse ele me tirando de meus pensamentos. 

- De...desculpa. Eu nunca tinha notado o quanto você lembra seu irmão. - falei. 

- Um pouco. Pelo menos é o que dizem. - sorriu. 

Chamei ele para a mesa. Lá tomamos nosso café e conversamos mais um pouco sobre o que leríamos a tarde. E avisei que teria que fazer meu treino agora pela manhã. Nos levantamos da mesa e sentamos em algumas poltronas que haviam na sala de recepção para deixar que a comida fosse digerida. 

- Com licença Príncipe Charlie. - disse Antonela entrando onde estávamos. - O Rei Henrique está aqui, veio buscar o irmão. - concluiu. 

- Tudo bem, traga-o até aqui. - ordenei. 

Ela saiu e voltou com ele. Que estava belo. Entrou com um sorrido no rosto encantador. Foi até Arthur, abraçou e deu um beijo em sua cabeça. 

- Como está irmãozinho? - disse ele abraçando o irmão. 

- Estou bem. - respondeu Arthur. 

Ele então veio em minha direção e estendi a mão para cumprimentá-lo. Ele não apertou minha mão, veio e me deu um abraço caloroso. 

- Olá Charlie, bom vê-lo novamente. - disse me abraçando. 

- Oi... digo o mesmo. - sorri tímido.

- Você veio cedo. - disse Arthur. - Achei que viria mais tarde. 

- Vou logo avisando que você ficará para a leitura que ocorrerá a tarde aqui no jardim. E nem adianta negar. - falei brincando em tom de ordem. 

- Eu nem pensei nisso. - disse ele sorrindo e piscando para mim. Corei. 

- Ah, vou falar com o Sir Nicolau para deixar meu treino pra outro dia. Com licença. - falei me retirando. 

- Como assim outro dia? Nada disso. Adorarei treinar com você. - disse Henrique abrindo um sorriso. 

- Eu não... - fui interrompido. 

- E nem adianta negar. - concluiu Henrique sorrindo e levantando uma de suas sobrancelhas.
Eu não acredito nisso. Não que eu estivesse com medo de treinar com ele, porque não estava. Mas era muito vergonhoso. Não sei se conseguiria segurar a espada direito. Eu nunca faço isso na frente de outras pessoas. Sei que pode parecer patético, mas eu não sou bom em apresentações do tipo em público. 

Fomos até a área de treinamento, disse ao Sir que treinaria com o Rei e que podia tirar esse tempo para descanso. Entreguei a ele uma espada e uma roupa adequada para se proteger. Fomos para a área e o Arthur sentou em um banco um pouco distante nos observando. 

- Isso vai ser divertido. - disse Henrique estalando o pescoço e sorrindo. 

- Com certeza vai. - falei ironizando e forçando um sorriso para não parecer que estava muito nervoso. 

Ficamos em postura e comecei atacando. Errei o primeiro golpe. Errei o segundo e terceiro golpe. Ele apenas sorria a cada golpe que eu tentava dar. Ele então veio e tentou me golpear com a espada, deixando-a sua ponto bem na frente do meu rosto. 

- Tuchê. - falou ele serrando os olhos. 

- Está bom, já podemos parar. - disse retirando a espada de frente dos meus olhos. 

- Nada disso. Começamos agora, você só não estava aquecido ainda. 

- Eu não vou conseguir fazer isso, estou nervoso. Não costumo treinar com outras pessoas. - falei envergonhado. 

- Terá de aprender. - disse ele convicto. 

Ele se posicionou novamente e eu também.
- Dessa vez eu começo atacando. Se concentre apenas no meu golpe, esvazie a cabeça e relaxe. - falava ele me acalmando. 

Ele então deu o golpe e eu consegui defender. Ele sorriu em aprovação. E eu sorri também por ter conseguido me defender. Tentou outro golpe e eu defendi novamente. Estava ficando confiante. Ele se posiciona melhor e tenta o terceiro golpe com a espada, eu defendo e faço o contra-ataque, deixando a ponta de minha espada a milésimos de distância da barriga dele. 

- Tuchê. - sorri ao ver seu semblante assustado. 

- Uau. Por essa não esperava. - ele sorriu como se tivesse orgulhoso do meu golpe. 

Treinamos mais um pouco, ele era muito bom. Eu fui bem também, não como de costume, mas não a ponto de passar vergonha. Nos divertimos muito treinando. 

Antes de terminar ele tenta me acertar, derruba minha espada e pega no meu braço me fazendo ficar de costas pra ele. Me prendeu junto a seu corpo, segurando meu braço para trás e passou, posicionou a espada junto a meu pescoço, como se fosse cortá-lo, e encostou a cabeça próximo a meu ouvido. 

- Cuidado Pequeno Charlie, qualquer distração pode ser fatal. - sorriu. 

Senti meu corpo estremecer. Senti-lo próximo a mim dessa forma, sua respiração e seu hálito quente no meu ouvido me fez arrepiar.
Ele me soltou e cumprimentou. E saiu caminhando para onde estava o irmão, que observava tudo sorrindo contente. Segui ele caminhando um pouco mais atrás. 

- Vocês foram incríveis. - disse Arthur eufórico. 

- Seu irmão foi incrível. Eu dei mancada. - falei. Confesso que estava um pouco chateado pelo último golpe. 

- Deixa disso, Charlie. Você foi ótimo. - disse colocando o braço sobre meu ombro.
- Vou tomar um banho. - falei. - Pedirei pra Antonela levar toalhas para um dos banheiros lá em cima para que possa tomar banho também. 

Arthur foi para biblioteca e eu subi para meu quarto calado. Henrique veio caminhando atrás de mim. Direcionei ele onde deveria ir para tomar banho e caminhei para meu quarto. Empurrei a porta para fechar. Mas algo impediu. 

- Espera, Charlie. - falou Henrique colocando o braço para a porta não fechar. - Você foi incrível lá... outro no seu lugar e eu teria o deixado no chão fácil, confesso que tive trabalho. - falou ele sorrindo escorado na quina da porta. 

- Você fala isso só para eu me sentir melhor e inflar meu ego... - falei segurando a porta e dando uma pausa. - Talvez tenha funcionado, mas não me convenceu. - sorri o desafiando.
- E como posso convencê-lo? - falou ele se aproximando.

~Nota do Autor~
Esse de longe é um de meus capítulos favoritos. Adoro a forma com que os personagens foco se aproximam nele. É maravilhoso sentir a sensação de escrever e ainda sim sentir como se estivesse lendo pela primeira vez.
E vocês, o que estão achando?

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora