Capítulo 7

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Acordei perto das nove horas. Meus olhos estavam pesados e meu corpo cansado. Parecia que um batalhão de soldados haviam passado por cima de mim e me pisoteado. Senti uma angustia enorme no peito. Olhei para o lado e vi uma bandeja com pães, bolo, frutas e suco. Não senti vontade de levantar e comer.

Fiquei pensando sobre tudo que ocorreu na noite anterior, de como tudo estava indo bem e como foi que tudo acabou. Levei meus pensamentos até o Henrique. Lembrei da forma que ele me abordou e sorri involuntariamente. Senti uma sensação fria no estomago, não sei explicar como, nem porque senti aquilo ao lembrar dele. Pensar que ele quer me encontrar novamente me deixou ansioso e ao mesmo tempo me questionava o porque ele queria tanto me ver novamente. E até então não havia me perguntado sobre o que eu queria, de fato. E eu cheguei a conclusão de que eu queria vê-lo também.

Levantei da cama e vesti uma roupa adequada. Estava com muita enxaqueca. Desci até a cozinha onde estava Antonela.

- Bom Dia, Charlie. Sente-se bem? - perguntou ela após ver minha cara péssima.

- Estou com dor de cabeça. - falei sentando na cadeira.

- Espera só um minuto que irei preparar um chazinho para você. - falou ela pegando algumas ervas para fazer o chá.

Antonela colocou um bule com água e as ervas no fogo. Em seguida ela pegou um outro recipiente e colocou água e hortelã, bateu um pouco e molhou um lenço com a mistura. Veio até onde eu estava e colocou o lenço sobre minha testa e segurou.

- Vai refrescar um pouco. - falou ela. 

Eu permaneci calado. Observei atentamente todos os cuidados que ela tinha comigo. A maneira que me tratava, como se fosse um parente seu, até mesmo um filho. Meus olhos começaram a marejar, e dessa vez eu não quis segurar. Abaixei um pouco a cabeça e comecei a chorar. Como uma criança.

Antonela ao perceber, me abraçou rapidamente e encostou minha cabeça sobre seu peito.

- A dor logo passa. Não chore tanto, pode piorar. - disse ela tentando me acalmar.

- Não é isso.. Eu estou aqui sozinho.

Ele me odeia, Antonela... Ele deseja minha morte. - dizia chorando.

- Calma, Charlie. Não fala isso. Ethan é seu irmão e ele jamais lhe desejaria algum mal. - falou ela ainda me abraçando.

- Eu queria acreditar nisso, mas não consigo. As circunstâncias não permitem.

Ela se afastou um pouco, olhou para mim e segurou as minhas mãos.

- Charlie, independente de como seu irmão lhe trate, mesmo que de forma rude, eu sei que ele te ama. Não entendo as atitudes dele, mas ele te ama. E você não está sozinho, eu prometi a sua mãe que nunca o deixaria só. E não irei. - disse ela apertando minhas mãos.

Suas palavras foram reconfortantes. Sentir que ela estava comigo me deixou um pouco mais aliviado.

- Obrigado por cuidar de mim e não me deixar cair. - disse beijando suas mãos em seguida.

Ela foi até o fogão e colocou em uma xícara o chá e levou pra mim. Sentou do meu lado e cortou uma fatia de bolo e me entregou. E voltou a segurar o lenço na minha cabeça.

- Agora come, precisa ficar forte. Você é o príncipe. - ela sorriu. Retribui sorrindo de volta.

Me senti uma criança tendo cuidados da mãe com aquela situação. Percebi que meu irmão havia dado folga aos empregados após a festa, por isso não estavam lá.

Subi para meu quarto em seguida. E peguei um livro para ler. Passei algumas horas lendo, nem percebi o tempo passar. Escutei um barulho vindo da porta do meu quarto, que me fez ficar atento. Era o meu irmão que abria e entrava.

- Toma um banho e veste uma roupa. O mensageiro veio avisar que a rainha Úrsula solicitou que fosse até lá. Seu novo irmãozinho quer sua companhia. - disse Ethan em tom de ordem.

- Mas eu não estou me sentindo muito bem. - falei.

- Eu não perguntei como estava se sentindo. Apenas mandei você fazer isso. E você vai. - falou áspero.

- Tudo bem. - me rendi as usas ordens, não queria causar mais desentendimentos.

- Vamos daqui a uma hora.  - disse ele.

- Você também irá?

- Claro, acha mesmo que iria deixar ir sozinho? Quem sabe depois que eu me casar com a princesa. - falou soltando um leve sorriso.

"Não seria má ideia." - pensei.

Arthur deveria ser tão sozinho quanto eu. Apesar de todo o amor que a família oferece. O irmão era ocupado demais, a mãe e filha viviam fazendo coisas de mãe e filha. E ele ficava a maioria de seu tempo sozinho, acredito.

Ao descer, encontro meu irmão impaciente me esperando. Achava que ele iria reclamar, como de costume, mas ao me ver apenas se dirige para saída do castelo. Eu o sigo sem falar nada.

Ele monta em um cavalo e eu em outro. Alguns dos cavaleiros nos acompanham fazendo escolta. O castelo não ficava longe. Uns trinta minutos a cavalo e logo chegaríamos.
Tínhamos carruagem, mas meu irmão gostava de sair a cavalo e eu também. Por isso não achava nem um pouco ruim.

Avistei de longe o palácio. Era lindo e enorme. Tinha uma floresta por trás e ao redor várias plantas verdes. O rio passava na frente do palácio e uma ponte enorme e bem estruturada ia de um lado do rio até o outro, dando espaço para a entrar no palácio. Não era tão grande como o nosso, mas tinha uma construção mais antiga e bela.

Chegamos ao castelo e fomos recebidos pela rainha Úrsula. Que estava a nossa espera.

- Bem Vindos! Sintam-se em casa. - disse ela com um sorriso no rosto.

De uma hora pra outra comecei a sentir uns calafrios estranhos no corpo. Ao se aproximar de onde ela estava sorrindo a sensação de angustia só aumentou. Estranho.

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora