Capítulo 23

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Passo a lanterna por todos os lugares até encontrar uma espécie de jaula de ferro, com grades grossas e no fundo uma pessoa encolhida. Parecia-me uma mulher. Me aproximo e me abaixo. Ela então ergue a cabeça. Fico incrédulo ao vê-la. 

- Você! - digo desacreditado. - Co... como você veio parar aqui? O que aconteceu? - questionava ela meio nervoso e confuso. 

Era a mãe do Henrique, a Úrsula, não entendia o porque ela tinha ido parar ali. 

- Quem é você? Foi ela que te mandou aqui? Veio me torturar? - perguntou ela com medo no rosto. Sua voz estava fraca e parecia está sofrendo muito naquele lugar. 

- Calma, eu sou o Charlie, amigo do Arthur. Do reino vizinho. Não lembra? Bateram com algo na sua cabeça? - falei. - Preciso achar um jeito de te tirar daqui antes que voltem, seja lá quem lhe prendeu. - ia me levantar para procurar algo que a pudesse tirar dali, mas logo ela me impede. 

- Não, por favor... Não posso sair daqui. - falou com muita dificuldade. - Minha irmã Agatha, ela me prendeu aqui e está tomando meu lugar. 

Fiquei muito confuso, mas tudo passou a fazer sentido. Lembrei das fotos que achamos no cordão. Então esse tempo todo era ela, e gêmea e não a mãe deles... Mas porque? 

- E não posso sair, ela é uma bruxa poderosa. Ela fica me monitorando por um espelho, se eu sair ela saberá. E fará algo contra eles. 

Eu estava assustado com o que ela me falou. Não por mim, mas por eles. 

- Então ela nunca vem aqui? Como você se alimenta? 

- Ela manda alguém vir deixar comida e água um dia sim e outro não. - disse. 

- Nossa, que horrível. - falei e parei pra pensar um pouco. - Eu vou lhe ajudar... Trarei água e comida, me esconderei quando alguém vier. E tentarei fazer com que o Henrique me ajude. Não posso voltar pra casa mesmo... - me interrompeu. 

- Não, não façam nada. Ela é perigosa, pode machucar vocês. - pediu suplicando. 

- Não se preocupa, não fará isso... E eu não posso deixar isso assim... - ia parar de falar, mas lembrei que havia fugido e mandado recado. - E com certeza a essa altura os seus filhos estão a minha procura também. 

- E porque você saiu do reino? - perguntou ela. 

- Meu irmão me odeia. Acho que deve está enfeitiçado pela Úrsu... pela Ágatha . - falo meio triste. - Enfim, vou procurar algo para você se alimentar e trazer água. 

Me levanto e vou em busca de água e comida. Tinha que tomar cuidado para não bagunçar ou deixar pistas de que havia outra pessoa aqui. Eles poderiam desconfiar e vigiar a casa. Fui até o lado de fora da casa, na parte de trás. Como era uma fazenda deveria ter plantações de frutas ou algo do tipo. 

Estava certo. Encontrei umas bananeiras e mangueiras. Colhi algumas bananas e mangas e levei para a casa. Peguei um copo com água e levei para onde Úrsula estava. Me sentei e comecei a descascar e dar a ela em pedaços. 

Úrsula pegava as frutas com calma e comia devagar. Franzia a testa ao comer, como se estivesse sentindo dor. 

- O que houve? Não estão boas as frutas? 

- Não é isso... É que minha garganta está seca e ferida. - falou. 

Verdade. Ela bebia pouca água e aquele lugar tinha muita poeira. 

- Pega, bebe um pouco de água. - falei entregando a água a ela.
Ela bebeu quase tudo e me agradeceu depois com um leve sorriso. 

- Eles virão aqui quando novamente? - perguntei. 

- Amanhã. 

- Ficarei aqui hoje com você. Amanhã verei uma forma de conseguir falar com o Henrique, mas volto a noite. - falei. 

- Você é bem próximo dele, não é? Fico feliz que ele tenha um amigo como você. - disse ela. 

Eu sorri envergonhado e baixei a cabeça. Eu realmente sentia falta dele, eu gostaria de poder abraçá-lo e me sentir seguro em seus braços. Meu rosto deveria está um pouco assustado, porque ela percebeu. Colocou sua mão sobre a minha e falou:
- Não se preocupe, Charlie. Sairemos dessa. - forçou um sorriso novamente. 

Narrado por Henrique 

Não consegui pregar o olho esta noite, pensando em tudo que aconteceu. No fato de minha mãe ser uma bruxa, de minha tia esta no lugar dela. No Charlie. Como ele estaria? Preciso encontrar ele, preciso de forças pra enfrentar minha tia. Preciso dele comigo.
Eu me levantei e sai para falar com os soldados. Iria fazer buscas por toda a região. Ele saiu a pé e sozinho. Não deveria está longe. 

- Soldados, temos que encontrá-lo o mais breve possível. - falei sério e seco. 

- Por onde começaremos, majestade? - perguntou o líder deles. 

Verdade, não havia pensado nisso. Onde começar... Já sei, o bosque. O lugar de refúgio dele, como não pensei nisso antes? 

- Vamos pelo bosque. - falei montando em um cavalo. 

Eu o encontrarei, Charlie. E quando fizer isso, não o deixarei sozinho nunca.

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora