Capítulo 12

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Estava no jardim quando meu irmão partiu em viagem. Saia com alguns cavaleiros do castelo e o duque. Fui procurar minha capa, iria descer para a cidade. Nunca mais havia saído para caminhar fora do castelo, precisava sentir um pouco o ar puro.

- Antonela, vou passear um pouco. Quero que fique de olho se tudo anda em ordens. O Sir Nicolau estará aqui também. - passava as ordens a ela.

- Vai sair sozinho? Não é perigoso? - pergunta ela preocupada. 

- Claro que não. Nunca me reconhecem, e eu sempre vou escondido você sabe. - acalmei ela. 

Sai caminhando em busca da cidade. Sentindo o vento no rosto, o cheiro de liberdade. Uma sensação que não havia sentido a tempos. Passei por algumas pessoas e cumprimentei com a mão. Estava de capuz, elas não me reconheceram. 

Cheguei na cidade e fui direto para a feira. Encontrei o senhor que havia me dado aquela maçã saborosa. Pedi algumas e ele me entregou em uma sacola. Dei-lhes algumas moedas e ele agradeceu. Continuei caminhando por entre as ruas até chegar em uma quadra enorme, com algumas lojas ao redor, era naquele espaço onde ocorria as festividades do local. Lembro que já havia estado aqui uma vez, havia várias bandeirinhas de um tronco a outro, várias pessoas dançando, tinha muita comida e sorrisos nos rostos de todos que ali estavam. 

Passando a visão pelo local, avisto uma livraria. - Interessante. - penso. 

Decido caminhar até lá, entro e deixo as maçãs no balcão. Antes de ir em busca das prateleiras para olhar os livros a senhora que estava no balcão me chama atenção. 

- O senhor poderia abaixar o capuz para circular aqui dentro? É para segurança do local. - pediu ela educada e firme. 

- Claro, perdão. - falei abaixando o capuz. Ao perceber quem eu era, uma expressão de espanto se formou no rosto da senhora. 

- Perdão alteza, não sabia que era o senhor. - falou fazendo reverência. Sorri. 

- Não precisa se desculpar, você está certa. E não precisa de referência. - falei sorrindo e sai olhando por entre as prateleiras procurando algum livro que me interessasse. 

Tinha livros de romance, livros educativos, de ficção... Era um lugar lindo. O chão era de madeira, as portas e prateleiras também. Havia alguns quadros na parede, e arranjos no balcão. Procurava mais um pouco, não sabia ao certo o que estava atrás. Mas cada vez que olhava, me encantava ainda mais com a quantidade de livros. 

- Está procurando algo em especial, Alteza? - perguntou a senhora que estava até então no balcão.

- Não... Na verdade... Tem algum livro sobre magia... - parei de falar ao perceber o quão estúpido isso pareceu. 

- Claro, vem comigo. - disse ela sorrindo. 

Eu a acompanhei até umas prateleiras mais afastadas, vendo atentamente os livros que haviam em todas as estantes. Era como um sonho.

- Não temos nenhum livro ensinando a fazer feitiços, se é o que procura. 

- Nã... não é isso. - gaguejei. - É que queria livros sobre feiticeiras e bruxos. Gosto de ler sobre essas coisas sobrenaturais. - falei na defensiva. 

- Entendo. Todos gostamos de ler um pouco sobre... Só é meio assustador para alguns. - sorriu.

- Porque? Você acredita mesmo nisso? - perguntei curioso. 

- Digamos que eu não descarto essa possibilidade. - sorriu e saiu. 

Fiquei olhando os livros, não tinha tantos interessantes como na biblioteca do Arthur. Tinha mais histórias e contos. Passava a vista por alguns e vi um lá atrás. Puxei ele e ao ver minhas pupilas dilataram. "A verdadeira história delas". 

Era exatamente algo assim que eu procurava. Li um pouco da sinopse que me encantou mais ainda. Peguei o livro em meus braços e fui até o balcão. 

- Quanto custa? - perguntei ansioso. 

- Hm... Pode levar por conta da casa. - disse sorrindo. 

- Não, faço questão. - insisti. 

- Eu não quero dinheiro de nosso príncipe, mas... Gostaria de algumas rosas que tem no seu jardim. Para enfeitar minha loja. - falou ela sorrindo. 

- Eu mandarei o quanto antes. - sorri. - Obrigado por isso. 

Coloquei o capuz e sai de lá rapidamente. Saí tão apressado que nem lembrei que havia deixado minhas maçãs lá. 

Cheguei rápido no castelo. Fui até onde estava Antonela que me certificou que tudo estava em ordem. Ordenei que o mensageiro do palácio fosse até o outro reino deixar um recado ao Príncipe Arthur para vir até aqui e que poderia ficar para descansar.

Coloquei o livro debaixo de outros na biblioteca e saí para o quarto descansar um pouco. Adormeci sem ao menos perceber. Acordo um tempo depois com Antonela batendo na porta.

- Príncipe... O mensageiro chegou e pediu para entregar-lhe isso. - disse-me entregando uma correspondência.

Agradeci e ela se retirou. A correspondência era do Henrique avisando que Arthur viria pela parte de tarde. Fiquei feliz que eles haviam permitido que ele viesse.

No almoço, pedi para que não colocassem mesa, pois estava só e não iria almoçar naquela mesa gigante sozinho. Almocei na cozinha junto com Antonela. Aproveitei a oportunidade para conversar um pouco mais com ela, saber mais sobre o casamento de meus pais e suas experiências de vida. Ela ficava um pouco sem jeito em conversar esse assunto comigo, mas eu insistia.

Arthur chegou cerca das três horas da tarde.

- Fico feliz em recebê-lo. - disse com um sorriso amistoso.

- Então, rei por alguns dias não é? - diz brincando. - Em que posso servi-lo majestade. - disse fazendo reverência e sorrindo em seguida.

Arthur era realmente um jovem educado e cativante, além de ser extrovertido. Estar com ele era como se eu estivesse com um irmão mais novo.

Sugeri que fossemos para a biblioteca, mas antes pedi para deixarem as coisas dele em um quarto.

- Espera, essa bolsa fica comigo. - disse ele pegando uma das bolsas. - Os livros estão aqui. 

- Hoje vamos ter muito o que ler. - falo sorrindo.

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora