Capítulo 11

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Alguns dias se passaram e eu não tive muitas noticias do Henrique ou Arthur. Meu irmão estava ocupado com os preparativos de uma viajem que iria fazer em breve para resolver algumas burocracias do reino. 

Eu foquei em meu treinamento de espadas e autodefesa. Resolvi cortar meu cabelo mais curto, já estava cobrindo os olhos. Deixei ele igual com a sobrancelha. 

Devido ao treinamento mais puxado, eu estava me alimentando mais, e mais disposto. Esses dias meu irmão se manteve muito ocupado, então não teve brecha para ficar no meu pé. Tirei esse tempo pra mim e meus pensamentos. Vez ou outra ele me questionava do porque estar muito imperativo. Me limitava apenas em dizer que era o treinamento. 

- Bom dia, Antonela - cumprimentava ela com um sorriso enquanto entrava na cozinha e sentava em um dos bancos. 

- Bom Dia, Príncipe. - respondeu. - Vai querer comer algo agora? 

- Sim, por favor. Estou faminto... - falei sorrindo pondo a mão na barriga. - Acredito que o que eu comi essa semana dava pra alimentar todo nosso exército. - brinquei a fazendo rir.

- Vejo que está sorrindo muito esses dias, isso é ótimo... Algum motivo em especial? - questionava ela.

- Não... Só estou acostumando com essa nova vida... Você sabe, sem ela. - falei.

Na verdade tinha motivos. A amizade com o Arthur, a presença do Henrique. A presença dele principalmente. Ele conseguiu tirar grande parte de minha angustia. E isso era ótimo. Enfim eu conseguia enxergar amor e carinho, ago que não recebia desde que minha mãe havia partido.

- Antonela... É, você já... Hm... Já se casou? - perguntei bebendo um pouco de suco tentando desviar um pouco a vergonha em perguntar isso.

- Que pergunta é essa agora, Charlie? - sorriu. - Não, nunca me casei. Porque? Está pensando nisso? - me engasguei com o suco após ela perguntar.

- Claro que não. É que meu irmão vai se casar e eu nunca fui a um casamento... Deve ser muito emocionante. - falei.

- Sim, verdade. Ainda mais quando são duas pessoas que se amam.

- Igual minha mãe e meu pai? - perguntei lembrando da maneira que eles se tratavam, demonstrando amor e carinho a todo momento.

- Igual sua mãe e seu pai. - sorriu.

Era nítido para todos o amor que meus pais tinham um pelo outro, assim como tinhas por nós, seus filhos. Eles eram a definição perfeita de como um casal que se ama de verdade pode construir uma história linda e um reino que os admirava com respeito.

- Mais uma pergunta... Você me acha bonito? - falei um pouco tímido fazendo ela sorrir.

- Claro que eu acho você bonito. É o príncipe mais lindo que eu conheci. - respondeu ela. 

- E você por acaso já viu muitos príncipes? - questionei.

- Não muitos. Mas se tivesse visto todos eles, você ainda seria o mais bonito aos meus olhos. – sorri satisfeito com sua afirmação.

Terminei de comer e fui para biblioteca procurar algum livro para ler na sexta-feira. Olhei algumas prateleiras e encontrei um que eu gostava muito quando era mais novo. Sentei na mesinha e fiquei folheando as páginas.

Meus pensamentos voavam dali, começo a pensar na noite que o Henrique dormiu aqui. De como ele me abraçou e a forma que me encaixei nos seus braços. Aquele dia mexeu muito comigo. Eu estava mais leve e ao mesmo tempo preocupado. Não sabia se esses sentimentos deveriam mesmo existir. Nem tinha certeza do que eles significavam. 

Sempre que esses pensamentos mais complexos viam a minha cabeça. Eu procurava tirá-los de lá. Me distraia de alguma forma. 

- Charlie... - disse meu irmão entrando na biblioteca e me tirando de meus pensamentos.- Estarei indo amanhã bem cedo, o Duque terá de ir comigo e não poderá tomar de conta das coisas aqui por aqui... Você será a autoridade maior enquanto eu estiver fora. - falou em tom firme. - Voltarei em três ou quatro dias e espero encontrar tudo na mais perfeita ordem. Como deixarei. 

- Sim, fique tranquilo. - falei. - Ethan... O Príncipe Arthur pode vir aqui... Digo, a mãe dele iria ficar muito feliz. - perguntei antes que saísse. 

- Pode... Só não quero que vá até lá na minha ausência e muito menos ficar próximo a princesa. Entendido? - disse em tom de autoridade.

- Está sim. - concordei. – Boa viagem, e cuidado. – falei enquanto ele ia saindo. Por um segundo ele parou na porta de costas pra mim, achei que naquele momento ele iria voltar e dizer algo agradável. Mas não o fez, apenas se retirou. 

Tenho que procurar uma forma de avisar a Arthur para trazer os livros que estávamos lendo sem que ninguém saiba do que se trata. Pensarei em algo mais tarde. 

Fui para o meu quarto e como de costume, fui tomar banho antes de dormir. Enquanto me molhava, meus pensamentos voltaram novamente para ele, e comecei a imaginar em como seria vê-lo sem camisa, tocar no seu corpo, seu rosto. Imaginei sua respiração próxima a meu rosto. De como me senti bem com ele junto a mim. Esses pensamentos me assustaram, bastante. Eu não sei se aquilo era certo, não tinha conhecimento nesse tipo de assunto. Apesar do sentimento ser bom, ele me parecia muito errado. 

Me levantei rapidamente da banheira e peguei um roupão e sai em direção a meu quarto. Eu vesti uma roupa e me deitei. Demorei muito a cair no sono, continuava inquieto lembrando da forma que havia pensado nele. Eu precisava de algumas respostas, mas não sabia como encontrá-las. Mas iria tentar obter essas respostas de alguma forma.

Talvez encontrar algum livro sobre o assunto, ou até mesmo chegar a perguntar a alguém com mais experiência. Mas quem? Eu não sei ao certo o quão errado isso é, e se realmente é tão errado quanto imagino que seja, mas eu estava gostando desse sentimento novo e não tinha intenção de deixá-lo ir embora. Pelo menos não por agora.

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora