Capítulo 22

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Saímos rapidamente do castelo. Meu irmão não deu uma palavra no caminho de volta para casa. 

Ele desceu rapidamente do cavalo e foi de encontro a nossa mãe. Que estava na sala de costura com minha irmã. 

- Meu assunto agora é com você. - disse apontando para nossa mãe. - Valentina, se retire agora. 

Minha irmã saiu e eu fiquei na porta de entrada, um pouco longe. 

- Porque você falou ao Ethan que o Charlie queria tirar o reino do poder dele? - disse ele a deixando sem palavras. - E porque disse que ele faria isso comigo? - ela continuava calada. - RESPONDE! 

Assustei-me quando ele gritou, nunca tinha o visto tão furioso daquela forma, ainda mais com nossa mãe. 

- Primeiro exijo respeito, você é Rei mas ainda sou sua mãe. E eu falei isso porque vocês precisam se afastar, percebi o seu envolvimento com o Charlie e você não pode cair nessa tentação novamente. - explicava ela. 

- Como assim, mãe? Porque fala isso agora? Se você sempre me apoiou e defendeu em relação a tudo... - falou ele mais calmo. - Nem parece ser a mesma pessoa. 

Nesse momento eu parei de prestar atenção na discussão e todas as fichas caíram. Não, não poderia ser isso. Coloquei a mão no bolso e percebi que o colar estava lá. É agora ou nunca. 

- Porque ela não é a mesma pessoa. - falei entrando na sala. E observando a cara de surpresa dela.

- Irmão, você é muito jovem. Acho melhor você ir para seu quarto e eu resolvo aqui. - disse Henrique tentando me convencer a sair. 

- Olha isso. - falei entregando o colar a ele. - Abra o pingente e veja essas fotos. 

- Nossa tia? - perguntou após abrir e ver as fotos. 

- Exatamente. E eu tenho certeza que essa não é nossa mãe. - disse apontando para ela.
- Arthur, essa sua teoria é um pouco infantil, não acha? Você é novo, lê várias coisas e fica cheio de ideias... - falava ela mas interrompi. 

- Eu não sou idiota. Faz todo sentido irmão, todos percebemos a mudança de nossa mãe após o acidente de nosso pai. Achávamos que ela estava traumatizada por ter presenciado a morte dele e sumido por dias. Mas porque ela sumiu e só apareceu depois, intacta? Estávamos tão felizes de tê-la encontrado que nunca nos questionamos de quem teria cuidado dela. 

- Você só pode está maluco. - disse ela. 

- Silêncio, os dois. - falou meu irmão raciocinando tudo que estava acontecendo. - Isso faz muito sentido. - concluiu ele. 

Resolvi não falar sobre as bruxas, não na frente dela. Se ela soubesse que sei da verdade poderia fazer algo contra nós. 

- Mas não podemos acusar sem provas. Até então ela é nossa mãe, Arthur. - disse Henrique. 

- Exatamente. Sou a mãe de vocês... E se me dão licença, preciso tomar algo para enxaqueca, essa conversa me deu mal estar. - falou e se retirou. 

- Como assim irmão você a deixou imune. Não percebe que não é ela, é nossa Tia Agatha. - dizia suplicando para que acreditasse em minhas palavras. 

- Eu sei. - disse ele sério. - Mas não podíamos confrontá-la dessa forma, se for mesmo isso, ela fugiria e nunca saberíamos onde está nossa mãe. - concluiu ele. 

- Tem toda razão. - disse concordando. - E não é só isso... Preciso te mostrar outras coisas. 

Levei ele até meu quarto e mostrei a caixa e tudo que havia dentro. Mostrei os feitiços e os livros. A marca onde o colar estava. Ele ficou calado o tempo quase todo. Parecia preocupado. 

- E tem isso. - entreguei o diário de nossa mãe a ele. 

Segurou e leu a primeira página. Percebi que seus olhos começaram a lacrimejar. 

- A quanto tempo sabe disso. - disse baixo quase sem voz. 

- Hoje de manhã encontrei essas coisas. Mas já estava pesquisando sobre com o Charlie. 

- Charlie... Precisamos encontrar ele. - disse Henrique triste. 

- Nós iremos, irmão. 

Narrado por Charlie 

Entrei na casa, que estava conservada apesar de parecer abandonada. Não era muito grande, havia uns móveis velhos e empoeirados. O que confirmava que não era muito visitada. Eu poderia passar a noite aqui e decidir o que fazer depois. 

Encontrei alguns lençóis em um baú antigo e fui até a cozinha para lavá-los. Quando ligo a torneira ouço um barulho estranho vindo de outro lugar da casa. Me assustei e desliguei a torneira. Fiquei quieto por alguns minutos e volto a escutar, parecia com um som de alguém tossindo. 

Lentamente vou caminhando na direção onde o barulho estava vindo, me deparando com uma porta. Abro a porta lentamente e surge aos meus olhos uma escada que descia pra algum tipo de sala subterrânea. Procuro algo que possa iluminar e encontro uma lanterna velha. Ao descer percebo que o barulho parou, mas não desisto de ir verificar o que era. 

- Quem é você? - ouvi logo ao descer, me assusto. A voz era fraca e quase não saia. Mas entendi perfeitamente o que perguntara. 

Passo a lanterna por todos os lugares até encontrar uma espécie de jaula de ferro, com grades grossas e no fundo uma pessoa encolhida. Parecia-me uma mulher. Me aproximo e me abaixo. Ela então ergue a cabeça. Fico incrédulo ao vê-la. 

- Você! - digo desacreditado.

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora