Capítulo 24

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Narrado por Charlie 

Alguns dias se passaram e Úrsula já estava bem mais forte. Em todas as visitas eu me escondia atrás de alguns móveis velhos que havia lá mesmo no porão. Ágatha chamava ela poucas vezes através do espelho, eu nunca ficava perto o suficiente para que ela pudesse me ver também. O campo de visão que ela tinha era limitado pelo reflexo do espelho. 

Para não levantar suspeitas Úrsula fingia que estava mal, fraca, como sempre esteve nas outras vezes. 

Meus dias estavam sendo resumidos em ir as plantações regar e colher alguns frutos. Observava os pássaros e todo animal que passava por lá. Cheios de vida. Isso me acalmava e me deixava feliz. 

Eu ainda não tinha conseguido entrar em contato com Henrique ou Arthur, mas não tinha perdido a fé de que eu os encontraria e conseguiríamos, juntos, sair de toda aquele pesadelo. 

- Charlie, vem aqui. - disse Úrsula me chamando. 

- Pois não. - falei sentando no lugar que sempre sentava. 

- Eu decidi que irei tentar controlar meus poderes. Quero conhecê-los. Só teremos saída em uma luta com ela se eu fizer isso. - ela parecia decidida no que falava. - Na verdade, eu já havia começado... Mas minha fraqueza não permitiu que eu continuasse. Mas agora que estou bem fisicamente, acredito que posso sim continuar. - falou esperançosa. 

- Se acha que é o melhor, eu apoio. Se puder ajudar em algo... - falei. 

- Você não tem medo? - perguntou ela. 

- Não. Quando olho nos seus olhos vejo o Henrique... Pura bondade. Ele me fez se sentir seguro, e sinto essa segurança quando estou com você. - falei um pouco emocionado lembrando dele e de como me sentia quando estava com ele. 

Ela me pareceu ter ficado também, sorriu feliz com o que eu havia falado. 

- Úrsula... É, você acha que meu irmão pode está enfeitiçado? Não sei, ele nunca agiu bem comigo, na verdade, ele sempre me odiou. E talvez... Eu pensei que... - tentei explicar algo, mas não consegui. 

Nem ao menos sabia o que queria explicar. Um sentimento de dor e tristeza bateu na hora. E eu só tive vontade de chorar. 

- Não fica triste, filho. Você é maravilhoso, e eu tenho certeza que minha irmã está envolvida nisso. Ela não gostava de sua mãe. - falou ela. 

- Porque? - perguntei enxugando as lágrimas que estavam saindo. 

- Minha irmã era apaixonada pelo seu pai e quando ele casou com sua mãe ela ficou com raiva. O ódio consumiu seu coração e ela não controlou os atos a partir daí. - enquanto ela falava eu sentia uma tristeza profunda por ouvir aquilo. E talvez uma esperança de que pudesse acabar com o ódio que meu irmão sentia por mim.

Depois de explicar me levantei e fui até o lado de fora da casa. Sentei no balanço que havia do lado de fora da casa e encostei a cabeça na corda que segurava o balanço. Fiquei ali com meus pensamentos. Até que escuto alguém chamar por meu nome. Era a Úrsula.
Me levantei do balanço e fui correndo para dentro. 

- Me chamou? - perguntei. 

- Sim, poderia pegar um pouco de sal. É para me ajudar a tentar um feitiço. - ela fez uma cara meio estranha, como se estivesse desconfortável com a situação. 

Me levantei e fui até a cozinha, peguei um punhado de sal em um copo e levei até ela. Quando cheguei perto e ia entregar o copo, percebo que o reflexo no espelho começa a desaparecer surgindo a imagem da Ágatha. Rapidamente eu me abaixo tentando me esconder atrás de umas madeiras. 

- Espero que ela não tenha me visto aqui. - pensei. 

Narrado por Ethan 

Fazem quatro dias que o Charlie sumiu. Maldito! Quando encontrar ele eu vou acabar com sua vida. Como ousa me afrontar dessa forma, me fazer de bobo da corte. E aproveito e acabo com aquele meliante que teve a coragem de me desafiar. 

Preciso achar uma maneira de encontrá-lo... Falarei com a Úrsula, ela poderá me ajudar a achar ele. Chamei o mensageiro e mandei entregar um recado a ela. 

- Charlie, meu querido irmãozinho. Suas afrontas terão graves consequências. - falei olhando fixo para frente enquanto amassava um pedaço de papel.

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora