Capítulo 1

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As pessoas costumam dizer que minha beleza é diferente de todas as outras. Acho essa observação um pouco exagerada.

Tenho cabelos negros e pele branca. Meus olhos são verdes, iguais os da minha mãe. Tenho um corpo magro, mas como fazia treinamentos com espadas e de autodefesa, ele se tornava razoavelmente marcado por músculos que estavam se formando.

Acredito que minha pele branca era devido ao fato de nunca sair do castelo, a não ser escondido ou sob autorização de meu irmão, O Rei.

Coloquei minha capa com um capuz e sai pelos fundos do castelo. Caminhei em direção a cidadezinha que havia no reino, não aguentava mais ficar preso naquele lugar. Estou sendo privado até de ir ao bosque. É ridículo isso. O Ethan é ridículo.

- Faz isso pro meu bem? Ele tem ódio de mim, ódio de ter que cuidar de mim e fica me privando de fazer as coisas que gosto. - falava em voz alta enquanto caminhava furioso. - Ele não vai me prender naquele lugar.

Odiava o fato de ter que dar satisfações a ele, só porque ele é o Rei. Grande coisa, ele é um tolo, apenas três anos mais velho do que eu. Só assumiu o trono por isso. Eu deveria ter todos os direitos, igual ele. Maldita hierarquia que nos obriga a seguir esses costumes idiotas.

Por um dia eu queria ser apenas o Charlie, apenas um garoto normal. E não ter que viver nessa tortura todos os dias. Resmungava enquanto caminhava.

Ao chegar na cidadezinha caminhei pelas bancas que haviam na feira livre. Observava todo movimento das pessoas indo e vindo. A simplicidade daquele lugar e o fato de todos parecerem estar sempre felizes... era incrível. Me aproximei de uma banca de frutas.

- Posso pegar uma maçã dessas, moço? - o vendedor da banca olhou pra mim, olhou mais um pouco para tentar enxergar além do capuz.

- Claro, pode pegar. - falou ele após me analisar bem. - Caso goste estão em um ótimo preço.

- Obrigado. - peguei a maçã sorrindo e sai. Nossa aquela maçã era realmente deliciosa. Amava maçãs.

Continuei caminhando pela cidadezinha, vendo as lojas, as crianças brincando uma com as outras. Ao descer mais, vi uma pequena igreja e na torre havia um relógio, marcavam quatro horas da tarde.

- Nossa, preciso ir! Se o Ethan me procurar e não me encontrar... estarei definitivamente em apuros. - exclamei em voz alta.

Sai andando depressa, fui pelo caminho da floresta que era mais perto. Em poucos minutos já havia saído da cidade e entrado no bosque. Estava um pouco tarde e logo mais iria escurecer. Mas como conhecia aquele lugar de ponta a outra, não me preocupei. Ando mais rápido e de repente esbarro em alguém e caio.

- Ai! - falo ao cair sentado no chão. - Desculpa, eu não te vi aí, estava com um pouco de pressa. - digo olhando para o homem que estava em pé com a cara coberta e olhando sério para mim. Gelei nessa hora.

- Não se preocupa. - diz ele estendendo a mão para que eu possa levantar. - Não foi nada, você está bem? - pergunta tirando o capuz do rosto e dando espaço pra um rosto incrível. Fiquei incrédulo com tamanha beleza.

Seus cabelos eram castanho escuro. Sua pele meio morena, olhos caramelo, um maxilar quadrado. Barba por fazer. E tinha uns lábios bem carnudos.

- E... eu estou bem sim. - falo me levantando segurando a mão dele. - Obrigado.

- Você não deveria está aqui sozinho essa hora. Pode ser perigoso. - disse ele se escorando em uma árvore.

- Eu sou bem grandinho e sei o que faço. - falei.

- Calma jovem samaritano, estou apenas te alertando do perigo que pode ter aqui. - retruca ele.

- Ah, então esse conselho não serve pra você? Ou você é o perigo? - pergunto lhe desafiando.

- Você é bem corajoso. - ele se aproxima e diz. - Sou o Henrique, prazer. - estende a mão e da um sorriso meio torto.

- Prin... Charlie, pode me chamar de Charlie. - não podia falar que era um príncipe, não sabia de sua origem, quem ele era, o que poderia querer. Estendi a mão e o cumprimentei.

- Então Prin Charlie, costuma sempre correr por aqui? - fala ironizando meu nervosismo.

- Não estava correndo por aqui, venho da cidade. Mas fico muito aqui, é meu lugar de refúgio... - ele olha pra mim e levanta uma sobrancelha. - Não que eu seja um fugitivo, porque não sou... Apenas um lugar que eu fico com meus pensamentos. - termino de falar e abaixo a cabeça. Nossa como sou péssimo em diálogos.

- Está nervoso com minha presença? Calma, não sou um vilão. Sou o moço bom. - diz levantando as mãos em sinal de rendido e me arranca um sorriso. - Isso, pode ficar relaxado. Eu estou conhecendo os lugares, sou novo por aqui. Estava caminhando e cheguei até aqui. Gostei e resolvi ficar um pouco. - fala sentando em um tronco de árvore que havia no chão.

- Então veio com sua família? - pergunto sentado ao seu lado no tronco.

- Digamos que sim. - responde ele.
Enquanto ele falava eu abro minha mão e as olho. Uma delas estava sangrando.

- Ei, o que foi isso? Deixe-me ver. - fala Henrique pegando minha mão.

- Não foi nada. Devo ter me apoiado em um galho quando cai. - falo.
Ele solta minhas mãos. Se levanta e vai em direção a um cavalo que tinha amarrado em uma árvore mais a frente. Não tinha o visto até então. Pega um garrafa e volta. Fico apenas observando. Ele se abaixa na minha frente e pede para que eu abra as mãos. Assim o faço. Ele joga água na que estava sangrando.

- Ai. - faço uma careta.

- Está doendo? - perguntou.

- Não, só ardeu um pouco. - ele sorri após eu falar isso.

Então ele joga mais um pouco de água, dessa vez não ardeu tanto, e aproxima a boca e sopra bem devagar. Nesse momento uma sensação esquisita sobe pelo corpo e me arrepio inteiro. Ele então arranca um pedaço de tecido da sua capa e amarra na minha mão.

- Pronto. Acho que você não vai morrer. - ele sorri, mostrando seus belos dentes brancos e alinhados.

- Obrigado. - falo envergonhado.

- Sua mãe pode ficar despreocupada.

Ao falar isso, me veio a lembrança que eu estava ferrado e precisava voltar. Me levanto rapidamente.

- Tenho de ir, eu já deveria ter voltado. - falo já me afastando.

- Espera. - diz ele. - Como faço pra te encontrar de novo? Sou novo aqui e precisarei de um guia.

- E...eu não sei. - falo ainda mais envergonhado. Como assim ele quer me ver de novo?

- Te espero aqui, amanhã, um pouco mais cedo. - ele sorri.

Aceno com a cabeça e saio depressa. Espero que o Ethan não tenha me procurado. Corro até chegar nas entradas atrás do castelo, entro pela cozinha, comprimento as cozinheiras e tiro minha capa deixando-a em uma portinha que havia dentro da despensa.

- Segredo nosso. - falo para a cozinheira que me tratava muito bem.
Entro na sala devagar em direção a meu quarto. Chego na porta do quarto e quando abro pra entrar meu irmão fala.

- CHARLIE... Onde você estava?

Os Dois Lados do Espelho (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora