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 Uma semana depois, eu fui coroada rainha da Inglaterra. Exigi que fosse o mais rápido possível para não ter o perigo de alguém tentar tomar o trono de mim. Foi um evento grande e muito emocionante. Vários reis e rainhas foram me parabenizar. No começo, virei uma atração para todos os reinos. Eu era a primeira princesa a ser coroada sem estar casada. Eu era uma rainha solteira.

Burocraticamente, eu não assumi meu papel no começo. Meus pais ainda tomavam de conta do país, porque eu precisava de tempo para me recuperar. Demorou um tempo para eu perceber o estrago que minhas escolhas e a guerra tinham feito na minha vida. E demorou mais tempo ainda para eu aceitar que Harry não estaria na biblioteca ou no bar, que eram seus lugares favoritos quando ele estava na Inglaterra. Charles perguntava sempre se ele ia voltar, assim como Dulce. Ele nunca voltou.

Eu estava sempre acompanhada por alguém, fossem meus irmãos, meus amigos ou até mesmo os criados. Eu não podia ficar sozinha porque pensava que alguém podia invadir o castelo e me sequestrar. Fiquei com medo de tudo a minha volta. Sabia que eram traumas que eu levaria para a vida toda.

Depois de dois meses, casei com Cameron. Não porque o amava ou queria me casar. Mas a minha posição exigia de mim algumas coisas a mais. Eu precisava formar uma aliança mais forte com um país tão poderoso quanto o meu. E Phillip tinha acabado de noivar com um país da Nova Índia. E para isso acontecer, precisava ter mais de um país na minha posse.

Ele ainda estava no castelo, não fazia menção de ir embora. Mas a gente já não se falava, assim como ele nunca mais tocou na palavra "casamento" perto de mim. Precisei pedir com carinho.

- Eu caso com você. – Cameron falou, se encostando no batente da porta, de frente para mim. – Mas tem uma condição.

- Fale. – revirei os olhos, me apoiando no outro lado da madeira. Desde que voltara para casa, as pessoas diziam que sua aparência estava mil vezes melhor. Ele engordou de novo, suas olheiras foram embora de seu rosto e ele sorria mais.

- Não precisamos dormir no mesmo quarto, fingir gostar do outro ou até mesmo conversar. Mas... – ele fez um suspense. – Precisamos comer juntos em todas as refeições. Sem exceção, todos os dias.

- Café da manhã, almoço e jantar? – ergui as sobrancelhas, segurando minha vontade de rir.

- Todos os dias. – ele concordou.

- Fechado. – era só o que ele queria. Ter uma companhia para suas refeições. Era o mínimo que eu podia fazer, já que ele estava me dando muito mais em troca.

O casamento foi muito bem recebido pelos ingleses e irlandeses. Eu fiquei muito famosa e muito querida na Irlanda, porque as pessoas me achavam digna de ser rainha, me achavam forte e valente por tudo o que eu fiz que achava ser o certo para o meu país.

Se eu e Cameron quiséssemos, o sul da Irlanda também seria nosso. Mas eu não consegui fazer isso. Eu não podia pegar o que eles lutaram tanto para conseguir, mesmo que da forma errada. A única coisa que eu queria era nunca mais ter que lembrar de seus rostos, principalmente o dele. Eu ainda tinha pesadelos, todas as noites.

Quando nos tornamos marido e mulher, a situação entre os países estava muito sensível o que impedia que qualquer um de nós saísse de lá. Não podíamos viajar na nossa lua de mel, então minha família decidiu que seria bom se todos morassem fora do castelo, por um tempo, para que pudéssemos aproveitar um pouco. Eu fiquei absurdamente sozinha. Não se ouvia nada além dos passos das criadas no corredor e, de vez em quando, os guardas quando trocavam de posto.

Reinado // h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora