-2- Amber

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No banheiro o vidro da porta do box refletia minha imagem como um espelho faria. Pude me ver por inteira pela primeira vez desde que despertara do coma. Meu próprio rosto não me era familiar, eu me achei magra e muito pálida, mas sem poder fazer um julgamento se sempre fui assim, não tinha com o que comparar.

Agora que eu era uma nova eu, numa nova vida, não fazia sentido tentar ser a pessoa que eu era antes, certo? Não chorei quando soube que meus pais morreram no incêndio da nossa casa. Eu não chorei quando me disseram que eu quase morri. Eu não senti nada. Não poderia ser diferente, como eu iria sentir por algo que não me lembro.

Tomei naquele momento a decisão de descobrir que pessoa eu era então.

O que eu sabia? Que eu tinha 15 anos, recém mudada para a cidade de Lopez depois de sair de um coma de quase dois anos, causado por um acidente que levou meus pais, para vir morar com uma tia, Mirian; uma irmã do meu pai que aparentemente não me conhecia desde então.

Ela é uma mulher adorável, dada a nervos agitados, sócia da confeitaria La Dulce, a única na cidade de Lopez, com Agata, que parece ser sua amiga a muitos anos. Ela tem um cachorro, Lui; um husky siberiano temperamental, que ainda não aceitou ter que ceder o quarto até então so dele para mim. Ele vive fazendo xixi nos meus sapatos.

Minha tia demonstra nunca ter cuidado de mais ninguém além de Lui, ainda mais alguém que acabou de sair do coma. Devia estar sendo apavorante para ela, tanto quanto estava sendo para mim...

ClepsidraOnde histórias criam vida. Descubra agora