Tia Mirian passou na escola e me trouxe para a confeitaria. A La Dulce cheirava a açúcar e canela e ela em si é como estar dentro de um bolinho de cupcake muito rosa, azul bebe e branco. Depois de 30 minutos eu já tinha desenhado tudo o que havia na confeitaria pelo menos duas vezes, de diferentes ângulos.
Estuardo apareceu na confeitaria com um casal de turistas, que ele estaria levando para conhecer a cachoeira. E por mais que eu tivesse tentado evita-lo, ele não parecia ter o mesmo pensamento.
– Mirian, aposto que Amber iria gostar de conhecer a cachoeira... – olhei para minha tia e no fundo desejei que me deixasse ir.
– Não acho qu...– mas vendo que os turistas estavam prestando atenção, ela parou de falar. Não seria legal dizer que era perigoso, não na frente dos turistas. – Você me promete que vai ficar de olho nela?
– Mas é claro! – ele sorriu abertamente como se isso fosse obvio.
– Ok, ela pode ir, eu vou passar no sitio quando fechar aqui, nos encontramos lá.
– A senhora que manda. Ei nena, venha!!! – ele me chamou com o indicador. Deixei meus lápis e papel e o segui.
– Vá até o petshop e chame Angie pra mim. – ele me falou quase sussurrando. Assenti com a cabeça e sai, enquanto ele me apontava a direção.
O petshop era também a clínica veterinária da cidade e era pintado de uma cor verde horrorosa, mas era facilmente identificável por ter o desenho de gatos e cachorros sendo cuidados por um médico na fachada. Quando entrei parecia que eu estava num supermercado para animais. E o cheiro forte de ração me incomodou.
Não parecia ter ninguém, então experimentei fazer barulho com os pés o que não teve nenhum resultado.
– Oooooi, Alguém? Alguém ai? – Ouvi o som de algo lá no fundo, alguns murmúrios e então Angie saiu colocando seu casaco e desamassando o vestido. Um cara ruivo, de rabo de cavalo vinha logo atrás atrapalhado com o cinto da calça. Esse deve ser o Miller.
– Estuardo pediu para chama-la. – falei tentando conter o riso.
– Pediu sim. – ela me olhou com desagrado. Olhei para Miller e ele parecia nervoso.
– Ela estava me ajudando com umas caixas lá atrás. – disse ainda arrumando suas roupas. Angie deu de ombro e me indicou a saída. – Você não viu nada pirralha. – falou ela bem ríspida e eu concordei.
– Ate mais tarde. – ouvi Miller dizer, mas Angie não respondeu.
Quando chegamos a La Dulce, os turistas já haviam se fartado de frutas cobertas de chocolate e estavam prontos para conhecer a cachoeira.
– Eu disse que não demorava. – falou Angie para Estuardo quando o viu.
– Mas demorou, vamos logo, tive que trazer o Andrés por isso!
Ele se despediu de tia Mirian. Ganhei uns 50 beijos enquanto minha tia me dizia pra não entrar na água.
Acompanhei Estuardo, ficar perto dele era mais fácil do que de Angie.
– Bem vindos a La Kombi. – falou Angie quando chegamos perto de um enorme carro laranja.
– Vocês vão amar a cachoeira! – falou Estuardo enquanto abria a porta da Kombi. – Senta lá atrás Andrés! – Falou Angie querendo se sentar no assento da frente. O casal se sentou no banco do meio e Andrés se sentou comigo no assento de trás. Ele mantinha as mãos nos bolsos, sentado ao ponto de encostar o queixo no próprio peito. Fiquei mais satisfeita de ser ele e não os gêmeos, seria desagradável encara-los depois da brincadeira no lago.
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Clepsidra
FantasyAssim como as ampulhetas antigamente e os ponteiros de hoje em dia, Clepsidra marca a era de uma antiga rixa, as previas de uma guerra. O tempo está escorrendo. Will é um adolescente aparentemente comum, que vive com o pai, o Reverendo Cicero nu...