Algo acertou minha janela. Ignorei. Então algo acertou novamente. Cambaleei até ela praguejando por minha perna doer. Abri a janela e olhei para baixo esperando encontrar quem estava fazendo minha janela de tiro ao alvo. Mas não havia ninguém. Quando me apoiava para fechar a janela novamente, lá estava ela. Amber.
Ela estava no seu quarto, do outro lado e acenava pra mim. Eu respirei fundo. Ela colocou um caderno na janela de forma que eu pudesse ver o que estava nele. Era o desenho de uma bicicleta.
Eu não fazia a mínima ideia que do que ela estava dizendo. Bati a mão na impressora e peguei uma folha A4 e escrevi; O que você está falando?
Ela bateu com o caderno na cabeça impaciente. Depois apontou para a bicicleta e eu apontei para a minha folha. Ela começou a fazer gestos, como se estivesse segurando o guidão de uma bicicleta. Eu apontei novamente para minha folha. Estava começando a achar que aquilo não ia levar a nada.
– Qual o seu problema Amber, não consegue entender, quer que eu desenhe???? – Gritei, apontando a folha para ela. Ela pareceu surpresa com isso e começou a pular e a balançar a cabeça de forma afirmativo. Ela quer mesmo que eu desenhe?
Usei o outro lado da folha para desenhar uma porta, a porta da minha casa no caso. Mostrei pra ela e apontei para a rua, depois fiz gesto para ela vir aqui, para o meu quarto. Ela pareceu entender, a vi sair do quarto. Alguns minutos depois ela estava passando pela calçada e eu a via da janela.
– Está aberta, pode entrar! – Gritei pra ela. Não demorou muito e a ouvi chegando, subindo a escada. Me apoiei na porta para mantê-la aberta quando ela chegasse. Ela era uma garota franzina, usava uma blusa de frio grande que a deixava parecendo menor. Seu rosto era pequeno, quase sem nariz, sua boca era uma linha, com grandes olhos castanhos e as olheiras ainda estavam ali, mas era bem menos assustadora. Ela parou quando me viu, apertou com ambas as mãos, as longas mangas da blusa, e olhou para baixo como se estivesse conferindo se estava usando calças. Suas pernas eram finas e o jeans preto a deixavam parecendo duas linhas equilibradas em botas.
– Entre. Larguei a maçaneta e saltitei para o centro do quarto. Ela entrou com um olhar curioso, olhando em volta parando no meu curativo na perna.
– Você está bem? – ela perguntou entrando devagar no quarto. Eu apontei para minha cama, para que ela se sentasse.
– Vou ficar. – senti uma puxada de dor na perna quando empurrei toda a montanha de cobertas e roupas que estavam em cima dela.
– Deixa, eu não ligo. – ela se adiantou, segurou minha mão, nós olhamos e foi diferente, pois eu vi que havia algo de feroz no olhar dela. Me afastei sentando na cadeira da escrivaninha.
– O que você queria dizer, ou só queria me mostrar seu desenho, por que eu já sei que você desenha bem... – ela balançou a cabeça e as mãos antes de me interromper mesmo.
– Não é nada disso. Eu achei sua bicicleta. – não sabia o que dizer a seguir, ela também não parecia muito confortável.
– Era isso o desenho. – forcei uma risada. Ela voltou a olhar para os pés.
– Esta lá em casa, na garagem...
– Não posso buscar agora. – respondi apontando para a perna, ela concordou.
– Melhor esperar um tempo para ir busca-la. – ela respondeu.
– Você sabe que foi eu, ne? – perguntei, ela voltou a olhar para os pés. Eu dei uma risada seca.
– É claro que você sabe. Por que está me ajudando Amber, por que não me denunciou ainda? – ela me olhou firme e a luz da janela parecia criar uma tempestade nos seus olhos.
– Não vou fazer isso... – ela parecia sincera e sem segundas intenções.
– Podíamos ser amigos. Amigos ajudam um ao outro. – Eu balancei a cabeça concordando com ela.
– Ajudam sim. E o que você faria se fosse minha amiga Amber? – perguntei.
– Eu te diria para tomar banho e trocar de roupa. – Abaixei a cabeça e soltei uma risada, ela também riu.
Eu estava mesmo precisando de um banho. Me levantei desequilibrado com a cadeira de rodinhas se mexendo em baixo de mim e não me dando apoio.
– Eu tenho uns HQs do Capitão América ali, se você quiser algo para se distrair. Eu vou só tomar um banho rápido.
– Tudo bem!
Dei uma risada ao entrar no banheiro pensando nessa situação toda agora. Talvez ela só esteja sozinha e queira um amigo.
Talvezfosse uma completa burrice o que eu estava fazendo, deixando Amber vir aqui ealimentar essa situação. Até quanto ela seria capaz de aceitar? Ainda lembro aexpressão no rosto do Velho Garret e ele nem é dado a crendices.
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Clepsidra
FantasyAssim como as ampulhetas antigamente e os ponteiros de hoje em dia, Clepsidra marca a era de uma antiga rixa, as previas de uma guerra. O tempo está escorrendo. Will é um adolescente aparentemente comum, que vive com o pai, o Reverendo Cicero nu...