-3- Will

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Acordei com o som da sirene dos bombeiros, luzes vindas da janela, vermelha e azul invadiram meu quarto. Arrisquei uma espiada pela brecha da cortina. Havia um carro dos bombeiros e uma ambulância estacionado atravessados pela rua, em cima da calçada da casa da Sra. Mirian. Há eu sabia, aquela garota esquisita devorou a Sra. Mirian.

Mas me arrependi do comentário irônico assim que vi a maca carregando o corpo de Amber inconsciente para ambulância.

Sra. Mirian desesperada, parecia a ponto de começar a chorar. Insistia para Lui ficar em casa e parar de latir para os bombeiros.

Peguei meu casaco e desci rápido as escadas, pulando os degraus. Eu nem pensei no que estava fazendo. O vento frio chocou contra meu rosto e os meus pés descalços também reclamaram.

– Eu cuido dele, pode ir tranquila! – Sra. Mirian não parecia ter esperado por isso, que a ajuda viria de mim, mas transpareceu aliviada e até tentou sorrir. Ela segurava um lenço com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.

–Tome fique a vontade, e pode comer o que quiser, e muito obrigada, mesmo! –Ela segurou minha mão disponível com as suas duas mãos, seu toque era macio e quente. Nada como o frio e espetado que foi o de Amber. Seriam mesmo parentes?

Olhei para a ambulância e a Sra. Mirian também. –Oh sim, preciso ir agora...

Vi os bombeiros deixar o local atrás da ambulância, acenaram pra mim antes ir. Segurei Lui firme pela coleira, quando ele estourou a latir novamente para a cerca viva dos vizinhos da frente. Levei ele para dentro com certo custo, o que lhe fez muito bem. Ele se acalmou, começou a brincar com sua bola de retalhos remendados. E eu fiquei encostado na porta da entrada me recompondo.

Nunca havia entrado na casa dela antes, nem teria sentido do contrário. Diferente da minha casa, que era constantemente afortunada de visitas de todos da cidade, atrás do meu pai.

Caminhei do hall, passando pela sala desviando da escada para o andar superior, indo direto para a cozinha. Havia uma caixa de leite caída no chão esparramando leite, a geladeira aberta, uma travessa de biscoito, quase caindo, na beirada da ilhota que fica em frente a geladeira.

Com a ponta dos dedos e com cuidado para não pisar no leite derramado no chão, empurrei a porta, fechando a geladeira. Acompanhei as marcas de pegadas feitas no leite caído, que seguiam para fora da cozinha. Havia sangue no chão da escada. Subi com cuidado e havia mais algumas marcas de sangue no chão misturadas com pegadas, o que suponho ser dos bombeiros e enfermeiros. Quando ergui os olhos para o final do corredor a visão que eu tive era que a porta do banheiro foi arrombada e havia mais sangue no chão. Caminhei com cuidado, parecia que a qualquer momento alguma coisa poderia acontecer.

No banheiro mais sangue e o que foi o box do chuveiro, estava estilhaçado, cacos de vidro por todo o chão. Parei pra pensar um pouco em tudo aquilo.

A Sra. Mirian estava na cozinha, pegando leite para acompanha os biscoitos para Amber...provável. Amber devia estar tomando banho, caiu no box, que se quebrou...quem sabe até desmaiou, isso justifica Sra. Mirian ter chamado os bombeiros para arrombar a porta. Mirian deve ter escutado o barulho quando o box se quebrou, soltou o leite, deixou a travessa e a geladeira. Espero que ela fique bem.

Dei mais uma olhada em Lui e decidi limpar aquela bagunça toda, começando pela cozinha. Limpar o banheiro não foi fácil, tive que tomar muito cuidado com os pedaços de vidro.

O telefone tocou, quando era quase de manhã, era a Sra. Mirian explicando o que sozinho eu deduzi, me falou milhões de obrigada e me garantiu que voltaria para casa assim que pudesse, eu apenas a tranquilizei pedindo para não se preocupar comigo ou com Lui, que ficasse o tempo que precisasse.

ClepsidraOnde histórias criam vida. Descubra agora